Alvo de operação que apura desvio milionário na Saúde de Goiânia, ex-secretário é considerado foragido, diz polícia
Ex-Secretário Executivo de Saúde, Quesede Ayres Henrique, também é procurado pela polícia
Letícia Graziely, Samantha Souza
17 de dezembro de 2024 às 13:14
Modificado em 17/12/2024, 18:51

Wilson Pollara (Reprodução / Secretaria Municipal da Saúde)
Alvos de uma nova operação da Polícia Civil que investiga um desvio de aproximadamente R$ 10 milhões da Secretaria Municipal de Saúde (SMS) de Goiânia, o ex-Secretário Municipal de Saúde de Goiânia, Wilson Pollara, e o ex-Secretário Executivo de Saúde, Quesede Ayres Henrique, são considerados foragidos da Justiça. De acordo com o Francisco Lipari, outras três pessoas que são investigadas por participação no esquema criminoso foram presas nesta terça-feira (17).
É importante destacar que o mandado de busca e apreensão e o de prisão temporária que foi expedido em face do ex-secretário de saúde foi cumprido em um endereço que ele havia informado ao Poder Judiciário e ao Ministério Público como sendo um endereço residencial que ele poderia ser encontrado e hoje se verificou, durante a operação, que ele não estava nesse endereço, ou seja, para a polícia civil ele é tido como foragido", destacou o delegado.
O delegado ainda pontuou os mandados têm validade nacional, portanto, eles podem ser presos em qualquer localidade.
Nova operação na Secretaria de Saúde de Goiânia investiga desvio de R$ 10 milhões
Secretário de Saúde de Goiânia pede exoneração do cargo
Para a reportagem, a defesa de Pollara informou que que o ex-secretário está em São Paulo para começar tratamento para um câncer no rim. O advogado ainda disse que ainda não teve acesso ao processo e que deve se pronunciar após tão logo disponha da íntegra .
Márcio Cunha, que representa Quesede, também disse que a defesa se manifestará oportunamente nos autos, tão logo tenha acesso a íntegra do processo.
Operação Speedy Cash
De acordo com a Polícia Civil, além de Pollara e Quesede, outras três pessoas são investigadas por desviar aproximadamente R$ 10 milhões, por meio de um convênio celebrado entre a Secretaria Municipal de Saúde e uma empresa responsável pela prestação de serviços nessa área.
Conforme a polícia, os suspeitos de participação no suposto desvio são: Marcus Vinícius Brasil Lourenço, Presidente da Associação Privada sem fins lucrativos União Mais Saúde, Wander de Almeida Lourenço Filho, procurador dessa associação privada, e Veriddany Abrantes de Pina, sócia-administradora da empresa de fornecimento de materiais hospitalares. O trio foi preso na manhã desta terça, durante operação da Polícia Civil.
A reportagem não conseguiu localizar as defesas dos suspeitos, mas tentou contato com as empresas nos quais os citados são responsáveis, por e-mail, mas até a última atualização deste texto não obteve retorno.
Por meio de nota, a SMS de Goiânia informou que "cumprirá com todas as determinações judiciais e colabora com o fornecimento de informações e documentos necessários para garantir que todos os procedimentos sejam devidamente esclarecidos". A prefeitura também disse estar contribuindo com as investigações e que "caberá ao interventor adotar todas as medidas administrativas cabíveis conforme o andamento das investigações" (veja ambas as notas ao final do texto).
Como foi feito o desvio
Um documento que a reportagem teve acesso revela que, no dia 19 de julho, Quesede, que exercia o cargo de Secretário Municipal de Saúde de forma interina, recebeu uma solicitação do presidente da associação privada União Mais Saúde, para a celebração de um convênio e a liberação de R$ 10 milhões. Na sequência, Quesede teria impulsionado o processo administrativo de forma totalmente irregular, "sem publicidade, cotação de preços, exigência de atestado de capacidade técnica ou observância das orientações expedidas pela Procuradoria-Geral do Município para regularização deste instrumento contratual", detalhou a polícia.
No dia 25 de julho, apenas seis dias após ter iniciado o processo administrativo de contratação, Quesede teria ordenado e emitido uma nota de pagamento no valor de R$ 10 milhões para a associação.
Em um segundo momento, no dia 16 de agosto, Wilson Pollara, então Secretário Municipal de Saúde, após reassumir o cargo em razão da revogação de uma medida cautelar que o havia afastado, assinou o termo de Convênio, também sem seguir as recomendações técnicas exigidas pela Procuradoria do Município quanto a regularização do instrumento contratual.
A investigação ainda aponta que, três dias depois, Pollara teria ordenado o pagamento antecipado do valor de R$ 5 milhões à associação privada, enquanto tenha sido fixado que o convênio teria o prazo de vigência de 12 (doze) meses, tendo nesse mesmo dia (19 de agosto) a Secretaria Municipal de Saúde transferido o valor para a conta da associação privada.
A polícia ainda afirma que, em seguida, o restante do valor também foi repassado à associação privada por ordem de Pollara, sendo mais de R$ 3,2 milhões no dia 20 de agosto, e mais R$ 1,7 milhões dois dias depois, totalizando R$ 10 milhões, "em uma celeridade sem precedentes, sem a contraprestação de qualquer serviço pela associação privada conveniada", destacou o documento da Polícia Civil.
Em um outro momento, a investigação revelou indícios de que o presidente da associação União Mais Saúde, após receber os R$ 10 milhões, de forma antecipada, teria desviado mais de R$ 6,4 milhões para a conta da empresa Mult Hosp Soluções Hospitalares LTDA, supostamente fornecedora de materiais hospitalares, registrada em nome de Veriddany. Ela que, segundo a investigação Polícia Civil, teria se apropriado de R$ 2,6 milhões, por meio de transferências para uma conta bancária de mesma titularidade da associação União Mais Saúde, todavia, diferente daquela criada para a movimentação dos recursos do convênio celebrado com a SMS de Goiânia, bem como teria desviado R$ 875 mil em favor de seu irmão, Wander de Almeida Lourenço Filho, que, conforme a polícia, seria o procurador da União Mais Saúde.
Ainda conforme o documento, em um quarto e último momento, Veriddany, que recebeu mais de R$ 6,4 milhões da associação União Mais Saúde, "teria transferido parte desses valores para sua conta pessoal e iniciado uma sequência de transferência de saques de valores em espécie que ultrapassaram um milhão de reais, cujo destino final ainda resta-se ignorado, havendo, todavia, indícios de que parte desses valores possam ter retornado aos demais investigados", destaca o documento.
Operação Comorbidade: Pollara e Quesede são presos

Polícia cumpre 17 mandados de busca e apreensão em operação que investiga desvios na SMS de Goiânia (Reprodução/Polícia Civil)
No dia 27 de novembro, no âmbito da Operação Comorbidade, o ex-secretário municipal de Saúde de Goiânia, Wilson Pollara, o ex-secretário executivo da Secretaria Municipal de Saúde (SMS), Quesede Ayres Henrique, e o ex-diretor financeiro da pasta e do Fundo Municipal de Saúde, Bruno Vianna Primo, foram presos em um investigação que apura o desvio de recursos e irregularidades em pagamentos da SMS.
À época, o débito milionário da SMS com a Fundação de Apoio ao Hospital das Clínicas (Fundahc) foi o protagonista da operação. A investigação do Ministério Público de Goiás aponta que os três teriam atuado em um esquema para desviar recursos públicos em benefício deles próprios e de terceiros por meio de ingerência na gestão financeira da fundação.
Inicialmente, Pollara, Quesede e Bruno ficariam presos até 1º de dezembro. Entretanto, após a Justiça acatar um pedido do MP-GO, a prisão temporária foi estendida por mais cinco dias e eles foram liberados no último dia 7 de dezembro.
Notas
Secretaria Municipal de Saúde (SMS)
"A Secretaria Municipal de Saúde (SMS) esclarece que cumprirá com todas as determinações judiciais e colabora com o fornecimento de informações e documentos necessários para garantir que todos os procedimentos sejam devidamente esclarecidos, reforçando a integridade do serviço público.
Secretaria Municipal de Saúde (SMS)"
Prefeitura de Goiânia
"A Prefeitura de Goiânia informa que está colaborando com as investigações da Polícia Civil de Goiás no âmbito da operação Speedy Cash.
A administração municipal destaca compromisso com a transparência e a lisura na gestão pública, assegurando que todas as informações e documentos solicitados serão e estão sendo fornecidos para esclarecer os fatos.
Caberá ao interventor adotar todas as medidas administrativas cabíveis conforme o andamento das investigações.
Prefeitura de Goiânia"