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Empresária presa por engano na frente dos filhos em Londres desabafa

Alline Fernandes Dutra foi levada em um camburão e passou mais de 30 horas presa. Ela foi confundida com homônima

Modificado em 17/09/2024, 16:31

Alline em frente à corte depois da última audiência, quando foi confirmado de uma vez por todas a sua inocência

Alline em frente à corte depois da última audiência, quando foi confirmado de uma vez por todas a sua inocência (Arquivo pessoal/Alline Fernandes Dutra)

A empresária goiana Alline Fernandes Dutra, de 36 anos, foi presa por engano no aeroporto de Londres por ter o nome parecido com uma mulher procurada por dirigir bêbada. Mesmo após apontar que a foto e os dados da pessoa procurada não eram iguais aos seus, Alline foi levada em um camburão e chegou a ficar 30 horas em uma cela.

Foram os piores momentos da minha vida. Fui a loucura dentro da cela, estava sozinha em uma cela, mas rodeada de outros presos. Dava pra escutar os outros presos", afirmou.

Alline contou que não conseguiu dormir. "Teve uma hora que eu estava em crise incontrolável, eu esmurrava a porta da cela pedindo remédio para dor e uma janta", conta. Disse que pediu remédio porque estava sentindo dores nos braços e na cabeça. "Eles me algemaram muito apertado, ficou inchado. Mas também tive uma dor na cabeça terrível talvez por tanta pressão do stress que eu estava e por ter chorado praticamente as 30 horas que estava sob custódia da polícia", afirmou.

Ela contou ao POPULAR que a digital dela assinalou vermelho no sistema, o que significa que não era a mesma do registro da pessoa procurada. Alline contou que a, durante a detenção, os policiais se recusara a mostrar os dados básicos que que tinham da suspeita presa em 2022 - como data de nascimento, endereço, qual carro ela dirigia ou onde foi presa. "Após ir à corte, descobrimos que nenhum dos dados que eles tinham em mãos eram iguais aos meus", afirmou.

No dia seguinte após a prisão, Alline foi colocada diante ao juiz. "Durante a audiência, vimos que a polícia havia sumido com a foto da suspeita e também não passaram a informação de que minha impressão digital havia voltado vermelha, já provando a minha inocência", disse. Ela ainda informou que, enquanto ouvia o juiz falar, percebeu que a polícia teria editado o documento da prisão de 2022.

Segundo Alline, o nome dela completo e endereço foram adicionados ao documento, o que deixou "tudo mais confuso no sistema, para parecer que eu tinha algo a ver com o crime". Ela somente foi solta após o juiz ver em um vídeo da mulher procurada sendo presa, em 2022. "Enfim confirmaram que não era eu a pessoa e então fui solta, em liberdade condicional com data marcada para retornar à corte", contou. Atualmente, o processo continua aberto e a suspeita continua procurada.

Foi uma situação desesperadora, de muita aflição. Meu marido chorava ao falar com os policiais. Meu filho mais velho também. Minha filha de 1 ano e 3 meses ficou muito assustada", disse Alline.

O Itamaraty, em nota, afirmou que o Ministério das Relações Exteriores, por meio do Consulado-Geral em Londres, acompanha o caso e presta assistência consular à brasileira. Ainda recomenda que, em casos de emergências no exterior, que brasileiros contatem a repartição consular mais próxima.

É bem nítido aqui a indiferença com que tratam quem não é nato daqui. Sou casada com inglês e sempre que precisamos do serviço público ele liga ou vai à frente pois o tratamento é melhor. A discriminação é nítida", disse Alline.

Entenda o caso

No dia 13 de junho, quinta-feira, Alline Fernandes Dutra, estava no aeroporto de Londres para embarcar num voo para Florença para celebrar um casamento e curtir férias. No check-in, ao despachar as malas, Alline foi abordada por policiais. "Três policiais, dois homens e uma mulher, chegaram até mim muito armados e perguntaram se eu era Aline Fernandes". Ela confirmou, acrescentando seu último sobrenome, Dutra, ao responder aos agentes. Foi quando recebeu voz de prisão, por, segundo eles, ter cometido um crime em 2022 e não comparecer à corte no prazo devido.

Os policiais informaram a ela que, no dia 15 de janeiro daquele ano, teria sido flagrada dirigindo embriagada. O suposto crime de Alline (com dois Ls) Fernandes Dutra, na verdade, teve uma Alinne Fernandes (com dois Ns e sem Dutra no nome) como autora. "A questão é que eu não dirijo, não tenho carteira de motorista e não estava nas redondezas do local quando a outra pessoa foi presa", relatou Alline ao jornal. Foi o que ela argumentou também com os agentes que insistiram em levá-la presa.

A empresária e o marido viram que, nos papéis que foram apresentados, havia uma foto da pessoa procurada, que não se parecia com Alline. Um dos policiais chegou a falar que não adiantava colocar o foco na questão da foto. A agente disse que se as impressões digitais não conferissem, seria liberada, mas nem a impressão digital dela ter assinalado vermelho no sistema (quando não confere com o registro da pessoa procurada) fez com que a liberassem.

A goiana só foi solta após passar o vídeo da mulher procurada sendo presa, em 2022. "Disseram para mim que ainda estão atrás da pessoa e por isso não puderam fechar o caso. Ficou uma situação ainda aberta, por isso tenho de andar com esse documento, para provar que não sou a procurada", explica. (Colaborou Elder Dias)

Posicionamento

Itamaraty

"O Ministério das Relações Exteriores, por meio do Consulado-Geral em Londres, acompanha o caso e presta a assistência consular cabível à nacional brasileira.

Em atendimento ao direito à privacidade e em observância ao disposto na Lei de Acesso à Informação e no decreto 7.724/2012, o Ministério das Relações Exteriores não fornece informações sobre casos individuais de assistência a cidadãos brasileiros.

Em casos de emergência no exterior, recomenda-se aos viajantes brasileiros contatar a repartição consular mais próxima."

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Relatos goianos sobre um Rio Grande de lágrimas

Reportagem colheu depoimentos de quem saiu de Goiás para fazer a vida em terras gaúchas e agora passa por privações e incertezas diante da tragédia das águas

Modificado em 17/09/2024, 15:56

Alessandra Galvão, empresária goiana e moradora de Santa Cruz do Sul, voluntária para arrecadação e trabalho de recebimento de donativos e Rubem Quintana, um dos coordenadores do Pavilhão Central, local onde armazenam e distribuem as doações

Alessandra Galvão, empresária goiana e moradora de Santa Cruz do Sul, voluntária para arrecadação e trabalho de recebimento de donativos e Rubem Quintana, um dos coordenadores do Pavilhão Central, local onde armazenam e distribuem as doações (Divulgação)

++ELDER DIAS++

O Rio Grande do Sul é terra de um povo desbravador. Em todo o Brasil, a presença gaú-cha é sentida de forma marcante. Nesse sentido, notadamente no Centro-Oeste, principalmente com atuação forte na agricultura e na pecuária. Cidades inteiras foram praticamente erguidas -- ou revividas -- por gente que veio dos Pampas para o Cerrado.

Mas também há o inverso: muitos goianos foram instigados a deixar seu Estado para estudar ou trabalhar no Sul do País, um lugar de qualidade de vida acima da média nacional. Nos últimos tempos, no entanto, a região, que é bastante suscetível às mudanças climáticas, está marcada por tragédias ambientais, de seca ou chuva intensa.

As águas incessantes que caem sobre os gaúchos também afetam, essa gente que saiu do centro do País e que agora vive uma espécie de "Mad Max reverso". O jornal colheu alguns desses depoimentos para dar ideia de como quem saiu de Goiás vê a atual situação de sua nova "casa".

"Pensa em algo que virou de cabeça pra baixo"

Breno Alves Ribeiro

"Você consegue imaginar a Praça Cívica toda inundada?". Essa é a figura visual mais didática que o músico e professor Breno Alves Ribeiro evoca para fazer um repórter de sua cidade natal entender a dimensão do que viu nos últimos dias em Porto Alegre. Dois registros, um feito por ele mesmo, atestam o que vivenciou. No sábado (4), ele fotografou o Mercado Público da cidade já alagado; depois, viu a mesma paisagem mostrada por um drone. "Foi como ir de 'copo d'água' para 'oceano' em 24 horas. Surreal."

Goianiense, Breno foi para o Rio Grande do Sul fazer faculdade na Universidade Federal de Pelotas (UFPel). Na cidade, da região da Lagoa dos Patos, onde morou por oito anos, amigos e ex-colegas experimentam a sensação de se tornarem o novo alvo das águas que flagelam o Estado desde o fim de abril. "Alguns deles já saíram de lá."

As sensações com o que se passa são estranhas, até com as próprias respostas. "As pessoas que conheço em Goiás, quando me perguntam se estou bem, aproveitam para saber se quem mora por onde a enchente passou já está voltando para casa. Eu respondo: 'Que casa?!' Tem cidade com bairros inteiros em que não sobrou casa nenhuma e onde nada vai ser reconstruído, porque não vão construir de novo onde pode alagar de novo."

O professor interrompe a história para informar que, enquanto conversamos, passa mais um helicóptero sobre a cidade serrana. "Essa é uma das coisas mais agoniantes, quando estava em Porto Alegre era só helicóptero o dia todo. Olhava para a rua, tinha caminhonete dos Bombeiros atravessando com um bote na caçamba. Um desespero", lembra.

A escola de música onde Breno leciona fica no bairro Menino Deus, na capital, um dos que foram tomados pela cheia absurda do Rio Guaíba. Apesar de morar em uma região que não chegou a ser alcançada pelas águas, próxima ao Parque Redenção, Breno tomou uma atitude de boa parte dos porto-alegrenses e gaúchos em geral: se abrigou provisoriamente em outra cidade. No caso, Carlos Barbosa, na Serra Gaú-cha, onde os proprietários de sua escola têm residência e a infraestrutura está íntegra, prejudicada apenas em alguns acessos. "De certo modo, a gente revive as cenas da pandemia, tendo de pausar o trabalho e se adaptar. Uma solução para as próximas semanas será a mesma do período de isolamento: retomar as aulas no formato online."

As imagens, porém, são mais impactantes desta vez. "Em locais de Porto Alegre que eram formigueiros de gente, da noite pro dia só se viam barcos e pessoas com água até o peito", conta o músico. De semelhante com os tempos da Covid-19, também o sentimento conjunto de incerteza, com mais chuva à vista. "Todos com medo do que pode acontecer, até porque já caiu bastante a temperatura e vem o frio por aí."

"10 reais matam a sede de uma família por 1 dia"

Alessandra Celline Ferreira Galvão

Em tese, estava tudo certo para Alessandra sair de Santa Cruz do Sul, pegar o voo para Porto Alegre rumo a Goiânia e passar o Dia das Mães com sua família, que veria pela primeira vez a caçula de 10 meses da empresária. Mas, no meio do caminho, tinha um bloqueio. "Avisaram que estava tudo fechando, até o aeroporto, e que o combustível na estrada estava acabando. Não arriscamos. Foi a sorte. O voo tinha sido cancelado. Graças a Deus não chegamos lá, ficaríamos sem ter como voltar." Era de sexta para sábado (4) e as horas sem comunicação deixaram seus parentes apreensivos.

Alessandra Celline Ferreira Galvão e o marido, Sávio Batista de Urzêdo, voltaram para Santa Cruz, mas não apenas para esperar bom tempo. Arregaçaram mangas para ajudar como pudessem pessoas que perderam tudo com a enchente. O casal trabalha no ponto de arrecadação de donativos, perto de casa. Com uma conta aberta e a ajuda de amigos de Goiânia, Mato Grosso e São Paulo, conseguiram R$ 8 mil. "Recebemos transferências de todos os valores. É importante pensar que mesmo 'só' 10 reais doados são importantes: isso mata a sede de uma família inteira num dia."

Pelo Instagram, "apesar de não ser nenhuma influencer", em seu perfil (@alessandra.galvao), Alessandra consegue mostrar como está a campanha. "A ideia da rede social é tornar mais fácil ajudar. É nossa missão ajudar o próximo. E, para mim, faz mais sentido ajudar o próximo que está mais próximo." Ela se considera uma pessoa de fé, "cristã, espiritualizada". "Creio que Deus quis que ficássemos aqui, para essa missão. Meu bairro não foi alagado, mas não tinha como ignorar esse cenário que vimos", diz.

Os primeiros dias de enchente foram preocupantes. Com emprego remoto, o marido de Alessandra não podia trabalhar, por conta da instabilidade da rede. Tudo isso era muito pouco perto do estrago que viram em outras partes de Santa Cruz: "Dois bairros muito atingidos, muita casa de madeira, à beira do rio, que ficaram condenadas."

Na pandemia, Sávio perdeu o emprego presencial que tinha e ela, que também é educadora física formada pela Universidade Federal de Goiás (UFG), teve de fechar e vender uma academia. Ela já havia visitado uma prima na cidade que viraria seu novo lar e se mudaram para lá em 2021, com a então única filha, hoje com 5 anos. Apaixonou-se por Santa Cruz e suas pessoas. "A qualidade de vida é muito boa. Tanto que, depois de tudo o que vem acontecendo, não passa por nossa cabeça voltar (para Goiânia). Aqui nos deram carinho, fizemos amizades logo. Agora é hora de contribuir".

"Nascida e criada" no Residencial Sonho Verde, no Conjunto Riviera, sul de Goiânia, para as próximas semanas Alessandra tem esperança de festejar na capital goiana o aniversário de 1 ano da filhinha. "Não sei se vamos conseguir. Mas isso agora não é o mais importante."

"As pessoas estão desistindo de ficar aqui na região"

Roney Pereira de Souza

"Pode ser meio-dia? É que está muito forte a chuva aqui, muito barulho e meio-dia já vou estar em casa e acho que lá vai estar mais tranquilo...". A conversa com Roney, na manhã desta sexta-feira (10), começou pelo WhatsApp e precisava ser mais dinâmica, daí o pedido da reportagem. Mas a resposta trouxe certo incômodo por algo que ele já havia adiantado em um áudio anterior. "Pessoal fala que aqui é 'o' problema. Se chove aqui no Vale do (Rio) Taquari, e está chovendo sem parar desde ontem, toda essa água vai para a região de Porto Alegre."

Roney Pereira de Souza sabia que 2024 seria um ano de mudanças em sua vida. Só não esperava que fosse tanto e com tamanha intensidade. No ano passado, a empresa em que o bacharel e especialista em logística trabalha decidiu encaminhá-lo para coordenar seu novo centro de distribuição, na pequena Flores da Cunha, distrito emancipado de Caxias do Sul e com pouco mais de 30 mil habitantes.

Aos 33 anos, tinha seu maior desafio: era a primeira vez que Roney Pereira de Souza saía para morar fora de Goiânia, deixando casa no Parque Amazônia e a mãe no Setor Garavelo. Chegou à cidade gaúcha em fevereiro e passou a cuidar da unidade, que recebe, armazena e distribui móveis para concessionárias de veículos.

De sábado para domingo (28) da semana anterior, Roney começou a chover na região. Uma chuva forte e que não parava. Quando deu três dias seguidos assim, eu achei muito estranho, mas ninguém aqui se dava o que estava por vir. "Imagina aquela pancada de chuva de verão que cai aí em Goiânia e deixa estragos com uma hora. Agora pensa nisso, mas durando dias e dias", relata. E a chuva seguiu nessa mesma intensidade até quinta-feira (2).

O rio já tinha transbordado e o centro de distribuição fica às margens. "Aqui na cidade, ficou alagado até a estação de abastecimento, o que fez com que ficássemos sem água durante vários dias." O trabalho no momento é tirar a mercadoria do depósito e usar as carretas para o armazenamento do estoque. "Eu precisava ter agora mais uns dez Roneys para me ajudar", brinca.

Os clientes já estão sabendo que as entregas, obviamente, vão atrasar. "Só tem um acesso para sair de Flores da Cunha, que vai por Vacaria, na divisa com Santa Catarina. Se precisar de desvio, sai caro demais pagar o frete, não compensa", justifica Roney. Mas o drama não é só de quem compra. Por conta dos bloqueios parciais e totais nas rodovias, os caminhoneiros estão resistentes em voltar a pegar cargas no Rio Grande do Sul. O relato em várias transportadoras é de que os motoristas autônomos que moram na região e saíram de viagem não pensam em voltar tão cedo, mesmo ficando longe da família. "Então, eles buscam novos frete entre as demais regiões, do Sudeste para o Norte, do Norte para o Centro-Oeste, Nordeste, para não parar. O medo de voltar e ficar com o caminhão preso em um bloqueio é maior", explica.

No geral, a situação na região é de desalento com a sequência de enchentes. "Muita gente das cidades por perto que teve perda material não quer passar mais por isso, preferem deixar para trás e ir para o litoral ou um lugar mais seguro e recomeçar. As pessoas estão desistindo porque entendem que é um problema da região, que não vai ser resolvido."

E sobre como as pessoas que deixou em Goiânia estão lidando com a situação? "Minha família está muito preocupada, minha mãe me liga todo dia, às vezes até chorando, meus amigos também, já que eu costumo ir uma vez por mês a Goiânia", diz. "Na TV mostram cidades submersas, cenas chocantes. Só que não é todo lugar que está assim, mas as pessoas ficam com isso na cabeça", diz.

Alessandra Galvão, empresária goiana e moradora de Santa Cruz do Sul, voluntária para arrecadação e trabalho de recebimento de donativos e Rubem Quintana, um dos coordenadores do Pavilhão Central, local onde armazenam e distribuem as doações

Alessandra Galvão, empresária goiana e moradora de Santa Cruz do Sul, voluntária para arrecadação e trabalho de recebimento de donativos e Rubem Quintana, um dos coordenadores do Pavilhão Central, local onde armazenam e distribuem as doações (Divulgação)

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Inglaterra elimina Austrália e faz final inédita contra a Espanha na Copa do Mundo

Inglaterra elimina Austrália e faz final inédita contra a Espanha na Copa do Mundo

Modificado em 19/09/2024, 00:45

Jogadoras da Inglaterra celebram classificação à final da Copa do Mundo

Jogadoras da Inglaterra celebram classificação à final da Copa do Mundo (Divulgação/@FifaWWC)

Desfalcada de suas duas principais jogadoras desde o início da Copa do Mundo feminina e com outra estrela suspensa, a Inglaterra desafiou os contratempos para ir à final.

Nesta quarta-feira (16), a equipe venceu a Austrália por 3 a 1 pela semi. No próximo domingo (20), faz a decisão contra a Espanha. A certeza é que o Mundial feminino terá uma campeã inédita.

Já é o melhor resultado da história da seleção inglesa e a confirmação do favoritismo da equipe que chegou à competição como campeã continental. No ano passado, venceu a Eurocopa.

Em 2015 e 2019, a Inglaterra havia sido derrotada nas semifinais. Em 38 jogos sob o comando da treinadora holandesa Sarina Wiegman, o time perdeu apenas uma vez. Mas este revés havia acontecido em amistoso diante da Austrália, neste ano.

A finalista desembarcou na Oceania sem Beth Mead, artilheira do título europeu do ano passado, e a volante/capitã Leah Williamson. Ambas não foram convocadas por causa de lesões no joelho. Na vitória sobre a Nigéria, pelas oitavas de final, a atacante Lauren James foi expulsa e recebeu dois jogos de suspensão. Ela retorna apenas na decisão de domingo.

A Inglaterra dominou o primeiro tempo, em parte porque a Austrália decidiu que o melhor caminho era se fechar e usar os contra-ataques. Algo que não aconteceu nos primeiros 45 minutos. No único lançamento que pegou a zaga rival desguarnecida, Sam Kerr saiu na cara do gol, mas já havia sido marcado impedimento.

A recompensa pelo melhor desempenho inglês veio aos 35, quando Ella Toone acertou chute no ângulo para abrir o placar. No restante da etapa inicial, as donas da casa não conseguiram pressionar pelo empate e as britânicas continuaram com domínio territorial.

A Austrália precisava sair mais para o jogo e que a sua craque Sam Kerr aparecesse. Se o segundo tempo não teve um cenário muito diferente nos primeiros minutos, a Inglaterra arrefeceu seu ritmo e o empate chegou graças ao brilhantismo da camisa 20.

Recuperada de lesão, a semifinal foi o primeiro jogo em que começou como titular na Copa. E aos 28 minutos, Kerr acertou um arremate de longa distância, indefensável para ao goleira Earps, e igualou o placar.

Foi o lance que fez a Inglaterra despertar e retomar o mesmo ritmo com o qual iniciou a partida. Lucy Bronze quase anotou um gol espírita, em um cruzamento, e Alessia Russo chegou perto de desempatar com chute cruzado. A vantagem aconteceu aos 25, quando Lauren Hemp aproveitou a falha da zaga australiana para marcar o segundo inglês.

A Austrália estava acostumada a passar aperto nesta Copa do Mundo. Na fase de grupos, chegou à última rodada precisando vencer o Canadá para se classificar depois de ter sido batida pela Nigéria. Nas quartas de final, apelou a uma longa disputa de pênaltis para passar pelas francesas após empate em 0 a 0.

A derrota significa que o país perdeu a chance de igualar algo que foi obtido apenas pelos Estados Unidos em 1999: sediar a competição e ser campeã.

Nos 20 minutos finais, o time tentou. Vine e Kerr tentaram mas Earps fez duas defesas. Foi Sam Kerr quem teve a melhor oportunidade de igualar de novo o placar. Aos 40, a bola caiu nos seus pés dentro da pequena área após rebote da goleira. Ela chutou para fora. O castigo foi imediato.

No ataque seguinte, Alessia Russo bateu cruzado, anotou o terceiro inglês e carimbou a vaga para a inédita final.

FICHA TÉCNICA
AUSTRÁLIA : Mackenzie Arnold; Ellie Carpenter, Clare Hunt, Clare Polkinghorne (Emily van Egmond) e Steph Catley; Hayley Raso (Cortnee Vine), Katrina Gorry (Alex Chidiac), Kyra Cooney-Cross e Caitlin Foord; Sam Kerr e Mary Fowler. Treinador: Tony Gustavsson.

INGLATERRA : Mary Earps; Jess Carter, Millie Bright e Alex Greenwood; Lucy Bronze, Keira Walsh, Georgia Stanway, Rachel Daly e Ella Toone (Niamh Charles); Alessia Russo (Chloe Kelly) e Lauren Hemp. Treinador: Sarina Wiegman

Estádio: Accor Stadium, em Sydney (Austrália)
Público: 75.784 presentes
Árbitra: Tori Penso
Auxiliares: Brooke Mayo e Mijensa Rensch Tess Olofsson (quarta árbitra);
VAR: Massimiliano Irrati
Cartões amarelos: Alex Greenwood e Chloe Kelly (ING)
Gols: Ella Toone (ING), aos 36'/1ºT; Sam Kerr (AUS), aos 17' (AUS), Lauren Hemp (ING), aos 25'; e Alessia Russo (ING), aos 40'/2ºT

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Goiás tem sete casos de desaparecimento de pessoas por dia

De 2019 a 2021, estado registrou 7.654 sumiços, o que faz da unidade da federação a oitava neste quesito em números absolutos. Incerteza acompanha famílias

Modificado em 19/09/2024, 00:32

José Eduardo tem 38 anos e sofre de esquizofrenia

José Eduardo tem 38 anos e sofre de esquizofrenia
 (Divulgação/Polícia Civil)

Neste sábado (27) faz 41 dias que a vida da cozinheira Doraci Manoel da Costa Dias, de 51 anos, virou de ponta cabeça e se transformou em uma rotina de angústia. O motivo é o desaparecimento do sobrinho. José Eduardo Barbo de Lacerda integra uma estatística preocupante em Goiás, na qual há média de sete pessoas sumidas por dia.

José Eduardo, de 38 anos, vive com a irmã, Maria Stela, no Jardim Miramar, em Aparecida de Goiânia. Ele deixou o local enquanto ela dormia. Depois daquela segunda-feira, ele não foi mais visto. "Ele saiu depois da meia noite", contou ela.

"Eu estou com pressão alta e eu nunca tinha tido isto antes. Já andei Goiânia inteira. Já rodei em Campinas, na Praça do Trabalhador, onde distribuem comida para mendigos, e até em boca de fumo eu entrei procurando ele", conta Doraci entre um soluço e outro, aos prantos.

A mulher relata que no dia 17 de abril, José Eduardo deixou a residência onde mora. A preocupação é maior porque o homem sofre de esquizofrenia. "Na rua, ele está sem tomar remédios. Ele fala que ouve vozes, que a voz manda ele matar. Tenho medo de ele fazer mal a alguém e alguém fazer mal a ele", diz.

A doença de José Eduardo se manifestou após ele perder os pais. De 2019 para cá ele já desapareceu duas vezes. Foi localizado em São Paulo e em Brasília.

O motivo que inquieta Doraci também afeta a família do advogado André Luís Marques de Souza, de 43 anos. Ele deixou um carro para lavar em um hipermercado do Setor Coimbra, no último dia 16. O último registro dele é do circuito de câmeras do local, quando sai de lá.

"Nos dez primeiros dias nós fizemos buscas em todos hospitais, Instituto Médico Legal (IML), abrigos, locais onde distribuem refeições para pessoas em situação de rua em Goiânia, conversamos com algumas destas pessoas", conta o primo do advogado, Leonardo Marques.

André Luís reside no Setor Bueno, é casado e pai de duas crianças pequenas. O caso está com a Polícia Civil (PC).

Os dois casos citados nesta reportagem são de homens. Esta parcela da população representa a maioria dos desaparecimentos em Goiás. De cada dez registros, seis são deste grupo. O perfil mais comum nestes registros é de negros e adolescentes de 12 a 17 anos (veja quadro).

Os dados são do Mapa dos Desaparecidos no Brasil do Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP), levantamento divulgado na última segunda-feira (22).

Ainda conforme o levantamento do FBSP, de 2019 a 2021 houve 7.654 pessoas sumidas em Goiás. Em 2021 o estado foi o oitavo maior entre as 27 unidades da federação, com 2.417 anotações. A taxa por cem mil habitantes no triênio foi a 11ª maior: 33,5. Distrito Federal (69,5), Rio Grande do Sul (57,9) e Mato Grosso (51,8) encabeçam a lista.

Dados

As estatísticas a respeito das pessoas desaparecidas e encontradas têm fragilidades.

Uma das plataformas que reúnem os dados de todo o Brasil, o Sistema Nacional de Localização e Identificação de Desaparecidos (Sinalid), indica que Goiás tem 6.477 pessoas desaparecidas. Já o Ministério Público do Estado de Goiás (MP-GO) tem cerca de 3,1 mil casos ativos. Para todo o País, são 92.032.

O Governo de Goiás mantém uma página na internet com as pessoas desaparecidas e corpos não identificados. A plataforma pode ser acessada pelo endereço https://www.go.gov.br/servicos/servico-id/1096. São apresentadas informações como nome, etnia, gênero, cidade de origem e faixa etária.

As informações do Sinalid são inseridas pelos MPs, após serem notificados, inclusive, por ocorrências encaminhadas pela Polícia Civil. Acontece que nem todos os registros têm o comunicado de localização do desaparecido repassados pelas forças de segurança estaduais.

O braço do MP que trabalha com o Sinalid é o Programa de Localização e Identificação de Desaparecidos (Plid), presente em 21 estados brasileiros. O serviço presta assistência à população e também realiza buscas.

Localização

De 2019 a 2021, conforme os dados do FBSP, houve 1.162 registros de pessoas localizadas. A maioria é de homens, com 56,3% e 39,7% de mulheres.

Informações sobre André Luís podem ser enviadas para o primo dele no telefone (62) 99322-1976 ou para a PC no 197.

Quem souber do paradeiro do sobrinho de Doraci, José Eduardo, pode acionar também o 197 ou o (62) 98406-4620.

A polícia recomenda que os familiares não divulguem telefones pessoais. Entre os motivos está a atuação de golpistas.

Doraci recebeu uma ligação de um homem que dizia saber onde estava José Eduardo. Ele pediu dinheiro para deslocar o rapaz para mais próximo. A mulher já se arrumava para ir ao Mato Grosso, mas como ele não enviou localização, desistiu. Ela denunciou o caso para a polícia.

Acesso a bancos de dados ajuda localizar

Um dos dificultadores do trabalho do Plid na busca por desaparecidos são informações imprecisas que chegam por meio das ocorrências. Os servidores do MP-GO fazem contato com os familiares para extrair dados que possam ajudar nas apurações do serviço público.

Uma das dificuldades é que familiares não mantêm os mesmos contatos ou não têm o hábito de atender ligações. "Também é um grupo de pessoas que muda muito de endereço por causa do perfil socioeconômico", acrescenta o promotor de Justiça Marcelo Miranda, coordenador da Área de Direitos Humanos do Centro de Apoio Operacional do MP-GO.

A localização de demandas nem sempre vem da Polícia Civil. O caso de Doraci, por exemplo, foi captado pelo MP-GO quando a mulher procurava pelo sobrinho no Centro POP da Prefeitura de Goiânia.

O MP-GO faz buscas em sistemas que possam ajudar na localização do desaparecido. São verificadas informações no Infoseg - plataforma sobre dados de segurança pública - registros da Polícia Técnico-Científica de cadáveres, Detran-GO, Saneago, Equatorial e o Credlink, que monitora efetuação de compras.

A criação de um banco de dados genéticos com corpos de pessoas não identificadas também ajuda no trabalho. Os familiares de desaparecidos são enviados para coleta de material.

Feliz

Apesar dos desafios, o trabalho tem casos bem-sucedidos. Em maio de 2020, um homem de 58 anos, sumido havia 35 anos, foi encontrado por meio do trabalho do Plid.

O homem tem deficiência mental. Conforme o MP-GO, um dia ele saiu da casa dos pais para passear, algo habitual na época. No entanto, não foi mais visto. A mãe do desaparecido tinha esperança de encontrá-lo, mas faleceu antes que isto fosse possível de ocorrer.

O reencontro ocorreu depois que o homem foi encontrado em um abrigo de Vianópolis. A família residia em Formosa, no Entorno do Distrito Federal.

Investigação de casos requer individualização

Em Goiás, há o Grupo de Investigação de Desaparecidos da Polícia Civil (GID), que cuida da maioria dos casos. Mas quando se trata de crianças, os casos ficam com a Delegacia de Proteção a Criança e ao Adolescente (Depai).

Titular da Depai de Goiânia, a delegada Mariza Mendes Cesar explica que não há um roteiro geral para a apuração. "Após o registro, a equipe vai tomar a medida mais efetiva para o caso concreto. O que vai ser feito depende do caso."

A delegada explica que o primeiro objetivo é localizar o desaparecido. Depois disto, o trabalho pode ter desdobramentos. "Depois vamos verificar se houve ocorrência de algum crime", completa.

Entre os casos de adolescentes, a delegada afirma haver muitos casos de jovens que saem de casa para morar com namorados ou pessoas que as aliciam por meio das redes sociais, casos que exigem apuração.

O promotor Marcelo Miranda afirma que o desaparecimento de pessoas é um tema que necessita de mais estudo e envolvimento da sociedade. "É uma pretensão minha de criar uma plataforma que permita a gente abrir o sistema e ter uma clareza maior destes dados, que possibilite investigar melhor este fenômeno e permitir que pesquisas acadêmicas se desenvolvam e a partir daí haver a instituição de políticas públicas."

O promotor também acredita ser necessário investimento em publicidade para que o trabalho do Plid seja conhecido por mais pessoas. "Quanto mais as pessoas souberem que existe um serviço para encontrar os familiares, melhor", diz Miranda.

José Eduardo tem 38 anos e sofre de esquizofrenia

José Eduardo tem 38 anos e sofre de esquizofrenia
 (Divulgação/Polícia Civil)

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Camilla será coroada rainha junto com Charles a despeito do pedido de Elizabeth 2ª

Modificado em 19/09/2024, 00:21

Camilla será coroada rainha junto com Charles a despeito do pedido de Elizabeth 2ª

(Chris Jackson/Getty Images)

O rei Charles 3º, de 74 anos, depois de ser coroado neste sábado (6), vai contrariar um pedido de sua mãe. Cerca de três meses antes de morrer, Elizabeth 2ª expressou, durante as comemorações de seus 70 anos de reinado, o "desejo sincero" de que a nora, Camilla, de 75, fosse considerada rainha consorte após a morte da soberana.

O pedido, porém, não será atendido. Pouco depois de Charles receber formalmente a coroa na Abadia de Westminster, em Londres, será a vez de Camilla ser ungida com o óleo sagrado e receber um anel e um cetro antes de seguir para o trono ao lado do marido.

Rainha consorte é o título da esposa de um monarca. Mas "rainha" também pode ser a soberana em pessoa, como a própria Elizabeth 2ª foi --o que não significa que Camilla entrará na linha sucessória. Apesar de o documento oficial que traz a liturgia da cerimônia de sábado se referir a Camilla como consorte, não foi o que se viu nos convites enviados às 2.200 pessoas que irão à Abadia de Westminster.

Neles, se lê: "A coroação de suas Majestades, o rei Charles 3º e a rainha Camilla. Por ordem do rei, o conde marechal tem o prazer de convidar...". No convite, desenhado pelo artista heráldico e ilustrador de manuscritos Andrew Jamieson, a palavra "consorte" desapareceu, misteriosa e oficialmente.

Quando o então príncipe Charles se casou com Camilla, em 2005, assessores reais insistiram que ela não queria ser rainha e disseram que a então sra. Parker Bowles "pretendia" ser conhecida como princesa consorte, a primeira na história britânica.

Foi um pouco mais complicado que isso. Em 1993, quando Charles ainda era casado com Diana Spencer --e Camilla com o militar Andrew Parker Bowles-- explodiu o Camillagate, ou Tampongate. Tabloides ingleses publicaram a transcrição de uma conversa íntima entre os amantes, uma conversa que teve o seguinte trecho:

Camilla: "Mmm, eu também. Preciso de você a semana toda. O tempo todo."

Charles: "Oh Deus. Vou viver dentro de suas calças ou algo assim. Seria muito mais fácil!".

Camilla (rindo): "O que você vai virar, uma calcinha? [Ambos riem]. Oh, você vai voltar como um par de calcinhas".

Charles: "Ou, Deus me livre, um Tampax. Que sorte a minha! (risos)".

A humilhação acabou com o casamento de Charles e Diana, e, doze anos depois, o príncipe se casou com Camilla. Os súditos tiveram dificuldades para aceitar a mulher com quem Charles traía a amada Diana. Por esse motivo, ao se casar com o então príncipe de Gales, Camilla decidiu não usar o título de princesa de Gales, que havia sido usado por Lady Di. Em vez disso, escolheu duquesa da Cornualha.

"Fui escrutinada por tanto tempo que você precisa encontrar uma maneira de viver com isso. Ninguém gosta de ser olhado o tempo todo e, você sabe, criticado... Mas acho que no final, eu meio que supero isso e sigo em frente", declarou anos depois, em uma entrevista.

No final das contas, a rainha Elizabeth 2ª acabou aceitando a situação e recebeu Camilla na família real. Mas não imaginou que a nora algum dia fosse ostentar o mesmíssimo título que ela carregou por 70 anos.