Promessas por cura da Covid-19 marcam Romaria de Trindade
No primeiro dia oficial da festa, centenas de fiéis vão ao município agradecer pela cura da doença. Monumento lembra os que não sobreviveram
Luiz Phillipe Araújo
25 de junho de 2022 às 16:00
Modificado em 20/09/2024, 00:53

Flávio, de 53 anos, ficou internado nove dias na UTI. Sua história foi contada pelo POPULAR (acima) (Diomício Gomes)
Milhares de devotos do Divino Pai Eterno começaram a chegar a Trindade nesta sexta-feira (24) com um motivo em comum para agradecer: a vida e a saúde após os momentos mais difíceis da pandemia de Covid-19. Na Romaria de 2022, a primeira presencial após três anos, diversos fiéis relatam promessas feitas enquanto eles próprios ou familiares foram contaminados pela doença.
Muitos devotos usam máscaras. O cuidado, conforme a devota Marisa Santos da Luz, de 59 anos, tem sido constante durante as missas. Pretendendo ficar na cidade até 3 de julho, ela diz que o item de proteção seguirá a acompanhando.
O cuidado tem a ver com o principal motivo que levou Marisa a Trindade. Moradora de Luziânia, Entorno do DF, ela conta que sempre foi devota ao Divino Pai Eterno e que tradicionalmente visita a cidade religiosa durante a Romaria. A rotina foi interrompida em razão da Covid-19. Além da falta do evento religioso, a doença atingiu a vida de Marisa ainda mais diretamente.
"Em 2020, tive Covid-19 e junto fiquei com anemia e outros problemas. Estava muito fraca e prometi que se me curasse viria fazer a novena", relata. No dia seguinte à promessa, ela acordou e não estava mais com os sintomas. "Graças ao Divino Pai Eterno e Nossa Senhora", agradece.
Flávio Vasconcelos, de 53 anos, chegou logo cedo na Basílica do Divino Pai Eterno. Vasconcelos pagava uma promessa feita para se curar da Covid-19. Em março do ano passado o DAQUI contou a história do funcionário público. Foram mais de 24 horas de luta por uma UTI, mais de 20 dias de internação longe de casa, quatro parentes mortos pela doença, incluindo a mãe.
"Na minha internação eu pedi para o Divino Pai Eterno me dar a vida, porque eu corria riscos", lembra Vasconcelos. A mulher do devoto também fez uma promessa pela vida dele. "Depois disso, pelo menos uma vez por mês nós estamos vindo para as missas", conta sobre o ato de fé.
Monumento
Logo às 6 horas foi acesa a pira do Monumento Memorial às vítimas da Covid-19, obra criada para a Romaria 2022. O monumento de 3 metros de altura permanecerá aceso até o final do evento. O local servirá como espaço para oração. Ao final da romaria, o memorial será afixado nos arredores do Santuário Basílica.
Tradição
Uma tradição que começou ainda na infância. A família, de Damolândia, comandada pelo avô que saía da cidade com carros de boi a caminho da Romaria do Divino Pai Eterno, em Trindade. Essa é a história de Edir Francisco, de 54 anos, e que se assemelha à de inúmeros outros fiéis que cruzam o estado para fazer seus pedidos e agradecimentos.
Depois de mais de dois anos sem a tradicional caminhada, Edir saiu de casa na manhã desta sexta a caminho de Trindade. "Desde criança venho com meu avô, que tinha carro de boi. Depois, passamos a vir com meu pai, que tinha uma carroça. Ficávamos 15 dias na cidade, até a festa acabar", diz.
Em 2022, a companhia é da esposa, Luciana Costa Pereira, de 49 anos, que tem como meta anual a caminhada da fé há mais de 30 anos. Há 6 anos, agradece a cura de sua mãe de um câncer de estômago. "Agradeço pelos milagres na minha vida e na vida da minha mãe". A mãe Maria José, aos 73 anos, já não faz a caminhada, mas participa das missas.
Expectativa
Com expectativa de receber 5 milhões de pessoas, o evento segue até o dia 3 de julho. O evento, que foi realizado virtualmente nos dois últimos anos em decorrência da pandemia do coronavírus, retoma sua forma presencial neste ano. A programação inclui, além das missas, novenas e terços; encontro dos carreiros, cavaleiros e muladeiros; procissões e shows.
No total, a expectativa é de que cerca de 400 carros de boi cheguem a Trindade no próximo dia 30, a mesma quantidade recebida na festa de 2019, a última realizada presencialmente antes da pandemia de Covid-19. Os carreiros, inclusive, já ocupam as rodovias goianas a caminho da festa.

Flávio, de 53 anos, ficou internado nove dias na UTI. Sua história foi contada pelo POPULAR (acima) (Diomício Gomes)