Antibióticos, gazes, soro, luvas e seringas integram lista de itens faltantes nas unidades de Goiânia. Secretaria diz que fez compras emergenciais, que devem chegar em 30 dias
Em visita a sete unidades de urgência e emergência da rede municipal de saúde de Goiânia, o Ministério Público do Estado de Goiás (MPGO) encontrou um cenário de falta de medicamentos e insumos básicos , como soro, gaze e luva. Diante da ausência dos itens essenciais, o órgão ministerial cobrou no fim de semana que fosse efetuada a aquisição urgente por parte da Secretaria Municipal de Saúde (SMS). Até o momento, a pasta já efetuou três compras emergenciais, sendo que duas devem se concretizar em até 30 dias.
Datada dos dias 29 e 30 de outubro, a diligência do MPGO, juntamente com o Conselho Municipal de Saúde (CMS), foi realizada nos Centros de Atenção Integrada à Saúde (Cais) Campinas e Vila Nova, nas unidades de pronto atendimento (UPAs) do Novo Mundo, da Chácara do Governador, do Jardim América e do Jardim Itaipu, além do Centro Integrado de Atenção Médico-Sanitária (Ciams) Novo Horizonte. Em todos eles, o relato foi de falta de materiais diversos, além da ausência de profissionais e da precariedade dos espaços.
Entre os medicamentos listados como faltantes, estão antibióticos, antidepressivos, antipsicóticos, anticonvulsionantes, antialérgicos, anticoagulantes, além de corticoide, benzetacil, fentanil, droga vasoativa e até mesmo dipirona, entre outros. No caso dos insumos, além de luvas e gazes, a lista inclui seringas e agulhas, álcool, lençol para as macas, material para curativo, sonda uretral, oxímetro e aparelho de pressão, bem como equipamentos de proteção individual (EPIs).
Em um dos relatórios apresentados após as diligências, o conselho municipal relatou que, em conversa com profissionais da UPA do Itaipu, foi apresentado um cenário de ausência de "corante hematológico, também não há detergente enzimático para a desinfecção dos materiais, às vezes, nem hipoclorito". "Informaram que para trabalhar, acabam trazendo alguns materiais (...) Uma das médicas relatou ter precisado de qualquer antibiótico para injetar em um paciente que estava grave, mas não havia nenhum tipo. Diante da carência dos insumos e medicamentos, o que mais espanta é a falta de medicamentos essenciais à vida. Os pacientes, para não morrerem, acabam comprando as medicações (...) E não há anestésico para sedação e, quando tem um pouco, a equipe de enfermagem fica apreensiva com a possibilidade de o paciente retornar da sedação e não ter a medicação", detalha o documento.
Dentre os medicamentos citados no relatório, alguns deles, como droga vasoativa e sulfadiazina de prata, este último utilizado para tratamentos de feridas que possam gerar infecção, estão em falta há mais de um ano na UPA do Itaipu. Já no Ciams Novo Horizonte, estão há meses sem luva e coletor de urina, a exemplo. Há uma semana, não contam com mais com gazes em estoque.
Diante do cenário evidenciado nas unidades de saúde da capital, no último sábado (30), o MPGO enviou ofício ao prefeito Rogério Cruz (SD), para a nova secretaria municipal de Saúde, Cynara Mathias, e ao procurador-geral de Goiânia, José Carlos Issy, alertando sobre a "elevada gravidade dos fatos noticiados, pois vidas podem ser perdidas e pacientes podem ter seus quadros de saúde agravados". "(Diante disso), ponderamos pela necessidade de aquisição de todas as medicações faltantes em caráter urgentíssimo", cobra o documento assinado por seis promotores de Justiça.
Após acordo com o Tribunal de Contas dos Municípios de Goiás (TCM-GO) e com a Procuradoria-Geral do Município (PGM), a SMS garantiu que está fazendo a aquisição emergencial dos medicamentos e insumos em falta nas unidades de saúde. No domingo (1º), foi feita uma "compra emergencial verbal" e parte dos medicamentos, como soro, flumazenil e fentanil, já foi entregue nesta segunda-feira (2). Conforme a pasta, outras medicações injetáveis devem chegar até quinta-feira (5). Só não teria sido possível demandar outros itens diante da limitação orçamentária nesse tipo de aquisição.
Ainda conforme a secretaria, outras duas compras emergenciais estão em trâmite para a aquisição de outros medicamentos e insumos para todas as unidades da rede municipal. Os itens não foram listados, mas a pasta garante que tudo deve ser finalizado no prazo de até 30 dias, ou seja, já no início do próximo ano. Nesta segunda-feira (2), na UPA Dr. Domingos Viggiano, situada no Jardim América, servidores apontaram que alguns medicamentos estavam em falta, mas sem especificar quais seriam. Profissionais da UPA Maria Pires Perillo, na região noroeste, também relataram a escassez de itens básicos.
Gabinete de crise começa a funcionar
A Secretaria de Estado da Saúde de Goiás (SES-GO) tem auxiliado a Secretaria Municipal de Saúde (SMS) com a implantação dos gabinetes de crise nas 13 unidades de urgência e emergência de Goiânia. Na tarde desta segunda-feira (2), o serviço foi finalizado com a entrega do gabinete da Unidade de Pronto Atendimento (UPA) Dr. Domingos Viggiano, no Jardim América. O objetivo é que a gestão da unidade, juntamente com a pasta estadual, faça o monitoramento da demanda por leitos de UTI e enfermaria, ocupação dos leitos da unidade e a escala dos profissionais, além de acompanhar as saídas de pacientes, o que inclui a alta médica, óbito e transferência.
Chamada de sala de gerenciamento diário do gabinete de crise, a instalação na UPA do Jardim América contava com seis espaços onde folhas foram afixadas com diferentes indicadores. A primeira, com os nomes dos integrantes da equipe do gabinete. Na segunda, é feito o monitoramento por gráfico da demanda por leitos de UTI e enfermaria em outras unidades. No campo de "espaço", situado logo ao lado, fica a ocupação das salas de observação da própria unidade, além dos leitos de sala vermelha -- utilizados para estabilização do paciente. Os demais fazem o acompanhamento da equipe de profissionais, além de insumos e medicamentos. Por fim, as saídas. Os dados alimentados diariamente são enviados para uma planilha online, cujo painel é fornecido pela SES-GO.
Ao ser questionada se o painel deve ser mantido mesmo após o fim da crise -- agravada nas últimas semanas com a morte de pacientes à espera de UTI e com a prisão do então secretário municipal de Saúde, Wilson Pollara, e outros diretores da pasta --, a gerente das regionais de saúde da SES-GO, Jaqueline Rocha disse que isso deve ser decidido pelo novo gestor, o prefeito eleito Sandro Mabel (UB). "Mas a gente acredita que ele deve continuar. É uma ferramenta de gestão, com o nome de gerenciamento de crise, mas é uma sala de situação."
"As informações aqui são estratégicas, monitoradas diariamente para que a gestão possa fazer tomada de decisões. Por exemplo, identificando que há sobra de insumos e medicamentos em uma unidade e falta em outras, é possível redirecionar. Ou remanejar recursos humanos de uma unidade com perfil de menos atendimentos para outra, com mais. É para garantir que a resolução dos atendimentos nas unidades seja mais acelerada, que o paciente espere menos tempo e não fique na fila de espera, sendo levado para um leito de UTI no período de 24 horas."
Ainda conforme ela, os painéis implantados desde a sexta-feira (29) já têm "surtido efeito". "No domingo (1º), finalizamos o dia com zero solicitações de leitos de UTI. Nesta segunda, pela manhã, tínhamos 12." Para a instalação do gabinete de crise em Goiânia, a SES-GO expediu portaria que prevê "apoio à situação emergencial da saúde" na capital. Conforme Jaqueline, além de prever a implantação, o documento serve como "segurança jurídica" para que a atual gestão da pasta municipal tome as providências em tempo curto, tais como a aquisição de medicamentos.
Entre as unidades que contam com o gabinete de crise, além da UPA no Jardim América, estão as UPAs Maria Pires Perillo -- Noroeste; Dr. João Batista de Sousa Júnior -- Itaipu; Dr. Paulo de Siqueira Garcia -- Chácara do Governador; e Jardim Novo Mundo. Também, nos Centros de Atenção Integrada à Saúde (Cais) Amendoeiras, Vila Nova, Campinas, Bairro Goiá, Cândida de Morais, Finsocial, e nos Centros Integrado de Atenção Médico-Sanitária (Ciams) Novo Horizonte e Urias Magalhães.