Geral

Perícia conclui que homem que teve infecção após colocar facetas morreu de causa natural

Laudo da perícia destaca que o óbito nem teve relação com tratamento odontológico realizado

Modificado em 19/09/2024, 00:07

Luiz Carlos das Dores, de 56 anos, morreu meses após colocar facetas dentárias

Luiz Carlos das Dores, de 56 anos, morreu meses após colocar facetas dentárias (Reprodução TV Anhanguera)

O servidor público Luiz Carlos das Dores, que teve uma infecção após colocar facetas dentárias, morreu de causa natural, concluiu o laudo Polícia Técnico-Científica. O homem, de 56 anos, realizou o procedimento em maio de 2022, em Goiânia, e, segundo o esposo dele, a dentista Jamilly Silva, que fez o tratamento estético, foi negligente.

O laudo de perícia criminal afirma que a morte foi causada por um choque cardiogênico devido doenças preexistentes com uma falência múltipla de órgãos, que colaboraram para quadro clínico gravíssimo apresentado pela vítima. Além disso, o documento destaca ainda que o óbito nem teve relação com tratamento odontológico realizado por Luiz Carlos.

Na época da denúncia, a dentista publicou nas redes sociais uma carta aberta em que acusou o viúvo de Luiz Carlos, Benedito Antônio Nascimento, de propagar "notícias falsas" e negou que tenha sido negligente com o paciente. "Sempre seguimos todos os procedimentos autorizados, não havendo qualquer negligência da nossa parte", escreveu.

O Conselho Regional de Odontologia de Goiás (CRO-GO) também se posicionou sobre a morte do servidor e destacou que o procedimento realizado por ele é "minimamente" invasivo. "Possivelmente não foi a causa ou agravante da morte", afirmou o presidente do órgão, Renerson Gomes dos Santos, durante uma entrevista coletiva à imprensa.

Com a conclusão do laudo da perícia, a reportagem procurou a defesa da dentista, mas obteve sucesso. Ao G1 Goiás, o advogado afirmou que aguarda a conclusão do inquérito policial e do processo administrativo no CRO-GO para tomar as providências cabíveis em face das pessoas que denunciaram Jamilly. A reportagem não localizou os familiares do servidor para um posicionamento.

A reportagem também falou com a delegada Myrian Vidal, que estava à frente do caso, mas ela informou que não está mais com o caso. Por isso, questionamos à Polícia Civil (PC) sobre quem é o novo investigador responsável pelo inquérito e sobre o andamento das investigações, mas não obteve retorno até a última atualização desta matéria.

Geral

Peritos encontram indícios que contrariam versão de PMs em duplo homicídio

Simulação feita pelo Instituto de Criminalística de abordagem que resultou na morte de duas pessoas por policiais próximo ao Batalhão do COD aponta que armas teriam sido plantadas e celular e bolsa de vítima sumiu com a conivência dos acusados

Modificado em 17/09/2024, 16:30

Vídeo gravado pelo celular de vítima mostrou parte da abordagem e foi usado para embasar reprodução

Vídeo gravado pelo celular de vítima mostrou parte da abordagem e foi usado para embasar reprodução
 (Divulgação)

Peritos do Instituto de Criminalística (IC) da Polícia Técnico-Científica (PTC) de Goiás apontaram, com base no laudo de reprodução simulada dos fatos, uma série de falhas na versão dos policiais militares do Comando de Operações de Divisas (COD) acusados de matar duas pessoas durante abordagem feita em 1º de abril numa rua a 1,5 quilômetro do batalhão da especializada. Uma das conclusões, por exemplo, é que a arma encontrada no carro como sendo de uma das vítimas teria sido plantada por um dos acusados. A ausência dos policiais militares na execução da simulação, no dia 7 de junho, não afetou as conclusões apresentadas no laudo, ao qual o jornal teve acesso com exclusividade.

Um vídeo gravado aparentemente por um programa espião instalado no celular de uma das vítimas, o autônomo Junio José de Aquino, de 40 anos, mostra este se aproximando do veículo em que estava um amigo seu, o corretor Marines Pereira Gonçalves, de 42 anos, e pedindo para abrir o carro porque ele estaria acompanhado dos policiais. Em seguida, ambos foram mortos em uma abordagem feita por uma equipe operacional do COD comandada pelo segundo tenente Wandson Reis dos Santos e uma do serviço de inteligência do comando chefiada pelo primeiro tenente Allan Kardec Emanuel Franco.

A simulação dos fatos foi feita tendo como base as imagens que aparecem no vídeo e os depoimentos de Allan Kardec e do soldado Diogo Eleuterio Ferreira, que na ocasião atuava como motorista do primeiro tenente. Os outros quatro acusados se recusaram a falar nos depoimentos à Polícia Civil. O documento foi encaminhado à Justiça nesta segunda-feira (2), pois o inquérito já foi concluído pela Polícia Civil com o indiciamento dos policiais por duplo homicídio qualificado e fraude processual. O Judiciário também já acatou a denúncia apresentada pelo Ministério Público do Estado de Goiás (MP-GO) e os tornou réus.

Armas plantadas

Os peritos afirmam que uma das armas encontradas no interior do carro em que estava Marines, uma pistola Taurus calibre .380 é a mesma que aparece no vídeo sendo manuseada por Wandson após Junio e Marines terem sido baleados. O tenente aparece ao lado de outro policial que estava segurando uma sacola plástica e dá dois tiros com esta pistola em direção ao solo. O vídeo mostra dois estojos sendo ejetados da pistola no momento dos disparos e, após análise, foi constatado que eles coincidem com a arma no carro.

No registro da ocorrência feito pelos policiais, a arma no carro teria sido usada por Marines. O laudo aponta o contrário. "É factível que se esteja diante de uma inovação de local promovida por tiros forjados e possível acréscimo de uma arma que, talvez, nem estivesse com nenhum dos dois indivíduo abordados naquela ocasião", afirmam os peritos.

Eles também citam outra perícia, feita no dia da ação policial, apontando que a pistola foi deixada engatilhada, pronta para um tiro ser efetuado. Se a versão dos acusados fosse verdadeira, de que Marines não morreu imediatamente, mas que chegou a ser socorrido com vida, então eles não agiram corretamente por deixar a arma daquele jeito próxima de um suspeito vivo. "Em suma, chamou a atenção do perito responsável pela perícia de local, o fato de o socorro à vítima não ter sido precedido pela remoção da arma, com potencial de risco tanto para os socorristas, quanto para os próprios policiais ali presentes."

A outra arma apontada pelos policiais como sendo a de Junio, vista ao lado de onde a vítima foi baleada, também pode ter sido plantada, na conclusão dos peritos. Isso porque o policial que aparece no vídeo segurando uma sacola plástica, o segundo sargento Marcos Jordão Francisco Pereira Moreira, em seguida tira algo envolvido em um pano, se abaixa e são ouvidos dois estampidos semelhantes a tiros de uma arma de cano curto. O revólver Taurus calibre .380 foi deixado no solo com dois estojos deflagrados.

"Diante disso e mais uma vez, é factível que se esteja diante de uma inovação de local promovida por tiros forjados e possível acréscimo de uma arma que, talvez, nem estivesse com nenhum dos dois indivíduos abordados naquela ocasião", afirmam os peritos. Eles também voltam a citar o lado da perícia no local que a arma foi deixada em cima de uma mancha de sangue, mas com a parte de cima intacta, o que sugere que foi deixada ali por terceiros.

Celular sumiu

No laudo é citado o desaparecimento do celular de Junio e de um acessório semelhante a uma pochete preta que aparece nos segundos iniciais do vídeo antes que a perícia comparecesse ao local após a abordagem. Os policiais não citam o que foi feito com estes materiais. "Nesse diapasão, a possibilidade mais concreta é que o autor das subtrações tenha sido algum (ou alguns) dos policiais que atuaram na ocorrência e aqui já nominados, ou outra pessoa, mas com o consentimento deles", afirmam os peritos que fizeram a reprodução simulada.

Os depoimentos dados na Polícia Civil confirmam, segundo os peritos, a conclusão sobre a responsabilidade pelo sumiço do celular e da bolsa. Isso porque, pela fala de ambos, tanto Diogo como um outro soldado ficaram responsáveis por cuidar do isolamento do local, evitando a aproximação de civis e curiosos. "É inegável, portanto, que dificilmente alguém conseguiria adentrar aquele local e retirar dele os referidos objetos, sem ser visto por algum dos policiais."

Corpo movimentado

Chamou a atenção dos peritos também a versão apresentada por Allan Kardec, que aparece no vídeo arrastando o corpo de Junio após ter sido baleado. O tenente afirma que tomou esta decisão por ter sido informado de que o autônomo estava armado e percebeu que próximo à mão dele estava a arma. O vídeo mostra na verdade Junio segurando o celular numa mão e a outra vazia. Porém, os peritos destacam que o policial poderia ter agido de outra forma.

"Tem-se então a exposição de um policial, corroborada por seu companheiro, de que, por medidas de segurança, optou por arrastar o corpo de uma vítima de sua posição de repouso, quando podia tão somente e empreendendo bem menos esforços, ter removido a arma do local, sem mexer no corpo, algo bem mais coerente e plausível."

Além disso, a reprodução simulada apontou que na verdade Allan Kardec, pela posição que aparece no vídeo, teria arrastado algo ou alguém de dentro do carro. Se for mesmo um corpo, como ele disse, seria o de Marines então. "Essa sequência de ações, que Allan Kardec assumiu para si em seu depoimento, como se tivesse movimentado o corpo da vítima que foi alvejada fora do carro, se mostrou na simulação, bem mais compatível com a movimentação de um ocupante do veículo, de dentro para fora, sendo puxada pela vão da porta dianteira direita."

A versão dos peritos que fizeram a reprodução simulada bate com a do laudo no local do crime, onde os profissionais estranharam o fato de haver mais sangue próximo à porta de passageiro do que no assento onde Marines estava ao ser baleado. "A pouca quantidade de sangue no interior do veículo indica a possibilidade da vítima ter sido retirada rapidamente, visto que apresentava lesões severas."

Outro ponto levantado pelos peritos é que o principal alvo dos policiais foi Marines, mais do que Junio. Isso pela disposição dos policiais, das marcas de tiros no carro e dos estojos encontrados no chão. Marines foi atingido por cinco disparos, enquanto o amigo, por três.

Entenda o caso

Além dos policiais já citados, também participaram da abordagem e respondem ao processo como réus o sargento Wellington Soares Monteiro e o soldado Pablo Henrique Siqueira e Silva. No inquérito feito pela corregedoria da PM-GO foi dito que Junio foi morto por disparos da arma de Wandson e Marines das armas de Marcos Jordão e Wellington. Pablo Henrique teria, assim como Diogo, feito a cobertura do local, impedindo a aproximação de terceiros.

As investigações feitas pela Polícia Civil e pela corregedoria da PM-GO não avançaram na motivação para o crime cometido pelos policiais. O jornal mostrou que os acusados chegaram a pesquisar o nome de Marines no sistema da Secretaria de Segurança Pública do Estado de Goiás (SSP-GO) horas antes de ele ter sido abordado com Junio, contradizendo versão dos policiais de que só ficaram sabendo de Marines após ele ter sido baleado.

Um vídeo que chegou ao inquérito mostra Junio comentando que iria pegar um "trem" na sede do batalhão do COD numa segunda-feira (ele e Marines foram mortos também numa segunda). No processo que tramita na Justiça, tanto a Polícia Civil como o MP-GO afirmam que Junio teria ido buscar um pacote relacionado a tráfico de drogas e que sua morte pode ter sido uma queima de arquivo.

Geral

Moradores vão escolher empresa para analisar segurança de prédio vizinho a desmoronamento em Goiânia

Construtora liberou retorno para um dos edifícios afetados por deslizamento em Goiânia, mas residentes não se sentem seguros. Polícia Civil instaurou inquérito para investigar o acidente

Modificado em 17/09/2024, 15:41

Moradores de prédio afetado por deslizamento de terra em obra ainda temem retorno. Na foto, Jaqueline Camargo, síndica do Edifício Catas Altas, no Setor Marista, em Goiânia. Local foi liberado nesta terça-feira para retorno dos moradores

Moradores de prédio afetado por deslizamento de terra em obra ainda temem retorno. Na foto, Jaqueline Camargo, síndica do Edifício Catas Altas, no Setor Marista, em Goiânia. Local foi liberado nesta terça-feira para retorno dos moradores (Wildes Barbosa)

++GABRIELLA BRAGA++

Moradores de um dos edifícios afetados pelo deslizamento de terra em construção predial no Setor Marista, em Goiânia, vão contratar uma empresa terceirizada para elaborar um novo laudo sobre a situação estrutural do imóvel. A construtora responsável pela obra entregou nesta terça-feira (16), um dia após o acidente, o primeiro laudo técnico do segundo prédio evacuado. A avaliação aponta que não haveria riscos estruturais e que os residentes já podem retornar aos apartamentos.

Tecnicamente chamado pelo Conselho Regional de Engenharia e Agronomia de Goiás (Crea-GO) de deslocamento de maciço de terra, o incidente ocorrido na madrugada de segunda-feira (15), na Rua 1.118, fez com que dois prédios fossem evacuados. Parte da pista cedeu, e foi interditada. Ao menos 30 famílias nos dois imóveis tiveram de deixar as moradias. Parte delas foi realocada em um hotel da região, pago pela Opus Incorporadora, responsável pelo empreendimento.

Logo após o deslizamento de terra que assustou os vizinhos, o Corpo de Bombeiros Militar do Estado de Goiás (CBM-GO) foi acionado e fez a evacuação preventiva do Edifício Villa Lobos pela proximidade com o terreno de 3 mil metros quadrados (m²), onde está sendo feita a construção de prédio comercial e residencial. A área, que tem entrada pela Avenida 136 e pela Rua 1.128, também faz divisa com os fundos do Edifício Catas Altas, localizado na Rua 1.117.

O prédio foi o segundo a ser evacuado, ainda pela manhã desta segunda-feira, quando rachaduras foram percebidas no subsolo do imóvel. Ainda na noite do mesmo dia, equipe técnica da Opus esteve no hotel onde moradores estão hospedados para informar que o retorno daqueles que residem no Edifício Catas Altas poderia ser de forma imediata. Pela manhã desta terça, foi entregue o laudo às famílias, em reunião conjunta entre as partes, a Defesa Civil de Goiânia, CBM-GO, e Crea-GO.

"Fizemos todas as verificações necessárias (no Edifício Catas Altas) e podemos atestar com plena segurança que não existem riscos ao edifício decorrentes do evento ocorrido. Quanto às pequenas fissuras no piso do subsolo, podemos afirmar que não estão relacionadas ao evento. Fizemos o monitoramento e não apresentaram qualquer movimentação", diz o laudo. O parecer foi assinado pelo engenheiro civil Antônio Aparecido de Oliveira, diretor da Geometria Fundações, empresa de serviços de engenharia de São José do Rio Preto, em São Paulo. Nas redes sociais, é descrito que a empresa é especializada em elaboração de projetos e consultoria geotécnica, com quase 15 anos no mercado.

Além do laudo, foi feita a emissão da Anotação de Responsabilidade Técnica (ART) pelo Crea-GO. O documento é obrigatório desde 1997, quando foi instituído por lei para qualquer contrato de prestação de serviço de Engenharia, Arquitetura e Agronomia. Serve para definir, "para os efeitos legais", os responsáveis técnicos pelo empreendimento.

Com os documentos, o coordenador municipal da Defesa Civil, Robledo Mendonça, diz que o órgão não pode mais impedir o retorno dos moradores ao edifício. Um relatório só deve ser emitido após os laudos dos dois edifícios feitos por terceirizadas da construtora ficarem prontos, além de colhidas todas as licenças para a obra. "É mais demorado porque esperamos as manifestações de todas as partes. Escutamos construtora, síndicas, engenheiros, Corpo de Bombeiros. Fazemos um apanhado geral e elaboramos o relatório", explica. E acrescenta: "Para a Defesa Civil, a apresentação do laudo com a ART garante a segurança dos moradores. O profissional habilitado assumiu a responsabilidade. Mas continuamos monitorando o caso."

Mesmo com a liberação, a síndica do Edifício Catas Altas, Jaqueline Camargo, de 29 anos, diz que os moradores ainda não devem voltar às casas, o que só deve ocorrer após um novo laudo de uma empresa independente comprovar a segurança estrutural. Conforme ela, o serviço será pago pela Opus, que se comprometeu a arcar durante a reunião desta terça. "Estamos apenas aguardando um documento formal de autorização", comenta. Até o fechamento desta matéria não havia definição de qual empresa faria a nova avaliação. A expectativa, entretanto, é que os próprios residentes do imóvel façam a escolha.

A Opus Incorporadora confirmou, em nota, que ambas as partes "concordaram em também contratar um laudo emitido por profissional indicado de comum acordo entre incorporadora e condomínio", diante do receio de moradores locais. "A incorporadora ressalta que, embora o atual parecer já ateste a ausência de riscos para que o prédio volte a ser habitado, os esforços da empresa visam a atender ao pedido dos moradores para que se sintam igualmente seguros", completa.

Para Jaqueline, não há segurança para os moradores retornarem para os apartamentos. "Apresentaram um laudo que nem é um laudo. Não está escrito como chegaram a essa conclusão, que método se utilizaram para investigar (o risco)", pondera. Por isso, acrescenta, ainda está preocupada com a situação e não sente segura com o retorno.

"Eles ainda não sabem a causa do desabamento de terra, e mesmo sem saber mandaram a gente voltar para os nossos apartamentos. A gente fica sem entender, porque em um ano de obra não teve movimentação de terra. Agora que teve eles dizem que é zero risco de desabamento", pondera. A síndica acrescenta ainda que o desejo dos moradores é de retornar o mais rápido, mas com segurança. Conforme ela, que saiu de um apartamento de 118 m², onde vive, passou para um quarto de hotel de aproximadamente 19 m², onde precisa ficar hospedada com o esposo e dois cachorros.

Já o Edifício Villa Lobos, o mais afetado, ainda deve ficar em monitoramento pelos próximos dias. "Devido a maior proximidade com o ponto do acidente, por precaução, a previsão é liberação do laudo em aproximadamente 72 horas, uma vez que estão ainda estão sendo feitas as medições", diz a Opus, em nota. O documento pontua também que a investigação de possíveis causas teve início ainda na segunda, "com a participação de especialistas no assunto tanto de Goiânia como de São Paulo."

Investigação

A Delegacia Estadual de Repressão a Crimes Contra o Meio Ambiente (Dema) instaurou, nesta terça-feira (16), inquérito policial para identificar as causas do deslizamento de terra. Representantes dos dois edifícios afetados estiveram na delegacia para registrar a ocorrência. Conforme o titular da delegacia, Luziano Carvalho, já foi requisitado com urgência a elaboração de um laudo pericial da Polícia Técnico-Científica (PTC). Responsáveis pela obra também devem prestar depoimento à corporação, além de outras partes possivelmente envolvidas.

Conforme Carvalho, a linha de investigação seguirá o artigo 256 do Código Penal, que tipifica como crime "causar desabamento ou desmoronamento, expondo a perigo a vida, a integridade física ou o patrimônio de outrem". Para ele, há indícios de crime. "De forma dolosa (com intenção) claro que não teve. Mas de qualquer forma tem concorrência humana. E pode não ter sido só uma causa."

Órgãos da Prefeitura de Goiânia informam que todas as licenças da obra estavam regularizadas. A Agência Municipal do Meio Ambiente (Amma) informa que "todas as licenças ambientais da construtora estão em dia e com validade até 2027". Já a Secretaria Municipal de Planejamento Urbano e Habitação (Seplanh) diz que "o projeto foi devidamente aprovado junto ao Poder Público Municipal, conforme regula o Plano Diretor de Goiânia e o Código de Obras e Edificações."

Geral

Veneno que matou mãe e filho em Goiânia é altamente letal

Sem citar o nome da substância, Polícia Técnico-Científica diz que produto não tem cheiro nem sabor, e que devia estar em alta concentração pela grande quantidade encontrada nas amostras

Modificado em 19/09/2024, 01:16

Luzia e Leonardo: análises nos corpos das vítimas mostrou características parecidas e comprovou envenenamento

Luzia e Leonardo: análises nos corpos das vítimas mostrou características parecidas e comprovou envenenamento
 (Reprodução)

GABRIELLA BRAGA

Após descartar o uso de 300 pesticidas no envenenamento de Leonardo Pereira Alves, de 58 anos, e da mãe dele, Luzia Tereza Alves, de 85, a Polícia Técnico-Científica do Estado de Goiás (PTC-GO) confirmou ter encontrado a substância utilizada no crime. Sem citar o nome, justificando medida de "segurança pública", a corporação informou que um produto altamente letal e tóxico, sem odor e sabor, foi identificado nos corpos e em dois bolos em potes adquiridos pela suspeita, a advogada Amanda Partata Mortoza, de 31.

O crime ocorreu durante um café da manhã na residência das vítimas, no dia 17 de dezembro, em Goiânia. A advogada está presa desde o dia 20 por suspeita de ter envenenado os alimentos consumidos por Leonardo e Luzia. Câmeras de segurança de um estabelecimento comercial do Setor Marista registraram a mulher comprando bolos em potes e outros alimentos e bebidas no local, que foram levados para a casa da família. Mas, antes de ir, ela ainda teria passado em um hotel onde estava hospedada, no Setor Bueno.

O inquérito policial sob responsabilidade da Delegacia Estadual de Investigação de Homicídios (DIH) da Polícia Civil do Estado de Goiás (PC-GO), que investiga causas e circunstâncias das mortes, ainda está em andamento e será complementado com os laudos periciais produzidos pela PTC-GO. Nos laudos produzidos pelos institutos de Criminalística e Médico Legal, foi apontado que a substância utilizada no envenenamento é um óxido inorgânico com alto grau de letalidade e toxicidade, mesmo em baixas quantidades.

Chefe do Laboratório de Química e Toxicologia Forense, a perita criminal Mayara Cardoso aponta que mesmo a venda da substância não sendo proibida, é de difícil acesso. O uso, em geral, fica restrito à indústria. "É uma substância natural, encontrada no meio ambiente de forma rara, e no passado foi muito utilizada como pesticida, mas foi sendo descontinuado seu uso. Hoje a aplicação principal é na indústria, principalmente de semicondutores, fabricação de alguns tipos de vidros, preservante para madeira", explica.

Conforme ela, não é possível dizer se o produto foi utilizado em forma líquida ou em pó. Mas destaca que, pela facilidade, a hipótese seria o uso em pó. "Substância sem sabor e sem odor, muito potente, e em pequenas quantidades já consegue causar efeito tóxico irreversível." O óxido inorgânico também foi encontrado nas análises de sangue e estômago das vítimas. A suspeita é que a substância estava em alta concentração, pois foi encontrada "grande quantidade, principalmente nas amostras biológicas" das vítimas.

Dessa forma, os laudos comprovaram que a causa da morte foi intoxicação exógena, ou seja, por envenenamento. A causa havia sido levantada inicialmente pelos peritos criminais diante da exclusão da possibilidade de intoxicação ou infecção bacteriana, visto que o quadro evoluiu rapidamente para óbito, em um período inferior a 24 horas.

Sintomas gastrointestinais

Gerente do Instituto Médico Legal (IML), Ciro Mendes Vargas explica que, após a entrada das vítimas no hospital com fortes sintomas gastrointestinais, "houve evolução rápida para sintomas mais graves, como confusão mental, e progrediram para instabilidade nos parâmetros clínicos". A morte de Leonardo foi registrada por volta das 22h do dia 17, e a de Luzia por volta de 3h do dia 18.

Médica legista da seção de Patologia Forense do IML, Rafaella Marques destaca que foram feitas análises nas vísceras das vítimas e que ambas continham "características semelhantes", com diferença que, no caso de Luzia, as alterações foram mais significativas pelo maior tempo de ação do veneno.

Somado ao histórico de saúde, a medicina legal previamente já constatou que a morte não ocorreu por causas naturais. "Fica na conta do óxido encontrado. Eles faleceram por conta da ação (envenenamento)", comenta. A substância causou lesões cardíacas, hepáticas, renais e neurológicas.

Além dos bolos em potes e das amostras biológicas das vítimas, foram analisadas pela perícia três colheres utilizadas no café da manhã e a garrafa de um suco integral de uva. Ao contrário da primeira suspeita de que o suco, comprado por Amanda Partata, seria o produto envenenado, os laudos periciais apontaram que a substância tóxica foi inserida nos bolos em potes.

Dos quatro potes recolhidos pelos peritos criminais no dia seguinte ao crime, na segunda-feira, dia 18, apenas dois tiveram resultado positivo para a contaminação. Outros dois não estavam envenenados. A perita criminal Mayara Cardoso apontou que no lote enviado pela doceria, que fabricou os bolos, à PTC-GO também não foi localizado o óxido inorgânico.

A constatação do trabalho pericial, já apontada pela PC-GO, é que o envenenamento ocorreu após a aquisição dos alimentos. O perito criminal Daniel Veríssimo, especialista em locais de crime, explicou que um dos quatro potes encontrados na residência das vítimas não estava com o lacre rompido.

"Havia tentativa de rompimento, mas não havia sido rompido, porém facilmente conseguia abrir o pote. Posteriormente, em testes com recipientes semelhantes aos utilizados pela doceria, constatamos que é possível abrir o pote sem romper o lacre", explicou. Ainda não se sabe, entretanto, como a substância foi colocada sem levantar suspeitas das vítimas.

Os advogados de defesa de Amanda Partata, Carlos Márcio Rissi Macedo e Rodrigo Lustosa, informaram que ainda não tiveram conhecimento formal do resultado das perícias. "Aguardamos o devido acesso para nos manifestarmos quanto a este ponto. De toda forma, isto não modifica a situação quanto a patente ilegalidade da prisão de Amanda. Nós esperamos ter bom êxito na obtenção de sua liberdade", finaliza a nota conjunta.

Depoimentos

Única testemunha ocular do crime, o marido de Luzia e pai de Leonardo, João Alves, de 81 anos, prestou depoimento à DIH na manhã desta quarta-feira (27). O advogado da família das vítimas, Luís Gustavo Nicoli, contou que o idoso relatou como Amanda Partata chegou ao local naquele dia, os alimentos que ela levou e como foi a interação entre eles.

"Receberam ela, montaram a mesa", comenta. João foi o único que não comeu durante o café da manhã. Nicoli explica que, por ser diabético, o idoso evita ingerir doces e, como também já havia se alimentado naquela manhã, preferiu não comer os produtos levados pela principal suspeita. Ela permaneceu na residência por volta de 3h. "Chegou às 9h30 e foi embora 12h", explica o advogado.

Outros familiares já foram ouvidos pela polícia. Na manhã desta terça-feira (26), o ex-namorado de Amanda e filho de Leonardo, o médico Leonardo Pereira Alves Filho, a irmã Maria Paula Alves e a mãe dele, Eliane Lino, também prestaram depoimento. Na porta da delegacia, ele disse que nunca imaginou algo que "justificasse tamanha brutalidade."

O advogado da família também destacou que aguarda a polícia ter acesso ao celular da suspeita. Conforme ele, a corporação aguarda autorização judicial para fazer a perícia do aparelho. "Tenho certeza que com a abertura do celular muita coisa vai ser revelada. Se ela não temesse, ela entregava a senha", comenta.

O delegado responsável pelo caso, Carlos Alfama, informou durante entrevista coletiva na quinta-feira (21) que Amanda se recusou a dar a senha do aparelho telefônico. Com a prisão temporária com validade de 30 dias, a DIH tem o mesmo prazo legal para finalizar o inquérito policial, que está sob segredo de justiça. Um dos objetos de investigação é justamente o celular.

Na entrevista coletiva, o delegado também apontou que o filho de Leonardo era ameaçado de morte desde o final de julho por perfis falsos nas redes sociais e por ligações de números distintos. A PC-GO havia constatado que tanto os perfis falsos quanto os números distintos, feitos por meio de um aplicativo para mascarar o contato original, eram de Amanda.

A motivação do crime, conforme as investigações, foi vingança pela rejeição sentida com o fim do relacionamento entre a advogada e o médico. A relação teria durado cerca de um mês e meio e, após o término, ela contou que estava grávida. Por isso, a família do homem mantinha proximidade com a principal suspeita.

Geral

Exame descarta insanidade mental de homem acusado de matar o sogro em farmácia de Goiânia

Junta médica do Judiciário afirmou que Felipe Gabriel Jardim Gonçalves estava apto a compreender a gravidade de seus atos quando invadiu estabelecimento na Avenida T-4 e matou o policial civil aposentado João do Rosário Leão, de 63 anos, em junho de 2022. Vítima havia denunciado genro por violência doméstica.

Modificado em 19/09/2024, 00:27

Felipe Gabriel segue preso desde 29 de junho de 2022

Felipe Gabriel segue preso desde 29 de junho de 2022 (Fábio Lima)

Exame de insanidade mental mostra que o ex-servidor público Felipe Gabriel Jardim Gonçalves, de 26 anos, estava apto a compreender a gravidade de seus atos quando invadiu uma farmácia na Avenida T-4, no Setor Bueno, e matou o então sogro, o policial civil aposentado João do Rosário Leão, de 63, no dia 27 de junho de 2022. A audiência de instrução e julgamento foi desmarcada no começo de dezembro por falta deste documento, que só ficou pronto agora.

O laudo pericial feito pela Junta Médica Oficial do Tribunal de Justiça do Estado de Goiás (TJ-GO) afirma que a capacidade de entendimento da situação por parte de Felipe "estava plena" no momento do crime, pelo qual se encontra preso desde o dia 29 do mesmo mês. Também foi identificado na avaliação de saúde mental um transtorno, mas nada que o deixasse sem condições de avaliar seus atos.

No relatório, de certa forma, são rebatidos os argumentos da defesa de que Felipe o crime teria ocorrido por causa de um surto psicótico que ele teve após receber supostas ameaças por parte da namorada somadas a um alegado uso indiscriminado de medicamentos. A defesa afirma que estes surtos se tornaram frequentes durante o namoro e que no dia ele chegou a temer pela vida.

Para a perícia, nada disso influenciou na capacidade de compreensão do crime, e o ato não foi interpretado como de legítima defesa pelo subconsciente do réu. "Apesar de ser portador de perturbação de saúde mental, não há nexo de causalidade do tal ato criminoso e de sua condição mental à época do crime."

A Junta Médica não vê motivos para internação hospitalar por causa do aparente transtorno, mas sugere um tratamento ambulatorial "regular e com rigorosa supervisão de familiar". No documento, ao qual a reportagem teve acesso, é frisado que não basta ser portador de uma patologia mental para concluir por uma inimputabilidade.

Foi verificado que a dinâmica do crime descartaria "a dificuldade para controlar impulsos", visto que envolveu planejamento para chegar a um fim e que havia "entendimento e determinação preservados quanto ao crime".

Exame psicológico complementar detectou sintomas sugestivos de transtorno mental com maior propensão a episódios depressivos com sintomas psicóticos. Entretanto, deixou para a avaliação psiquiátrica (que elaborou o laudo de insanidade) a avaliação quanto ao diagnóstico, tratamento e a existência ou não de nexo do momento do crime ao que foi identificado na perícia.

Tanto no laudo do exame psicológico como do psiquiátrico foram entrevistados o próprio Felipe e sua mãe. As entrevistas foram feitas entre dezembro e março e o resultado ficou pronto em maio, sendo encaminhado para a Justiça no final do mês passado.

Advogado que representa a família da vítima no processo como assistente de acusação, Emanuel Rodrigues diz que o laudo foi recebido com tranquilidade porque "apenas revelou o que todos já sabiam", que "as alegações da defesa dele eram apenas uma estratégia arcaica e retrógrada de culpabilizar a vítima pelas ações que foram pensadas, arquitetadas e criadas apenas pelo Felipe".

O advogado Júlio Britto, que defende Felipe, afirmou que o laudo foi assinado por um psiquiatra parcial e apresenta contradições. Ele citou uma suposta divergência entre a opinião da psicóloga que entrevistou o réu e a do psiquiatra, ambos pela Junta Médica e também apontou o que diz ser contradições entre o posicionamento do psiquiatra no laudo em relação ao que publica nas redes sociais. "A defesa técnica de Felipe vai solicitar um novo exame com um psiquiatra particular e em plenário do Júri irá contestar esse que foi assinado pela Junta média do TJGO."

Entenda o caso

O ex-servidor público é réu por homicídio duplamente qualificado (motivo torpe e mediante recurso que dificultou defesa da vítima) e confessou o crime, que ganhou repercussão após imagens de câmeras de segurança vazarem mostrando como ocorreu.

Por volta de 11 horas do dia 27 de junho, uma segunda-feira, Felipe entrou no comércio e matou o sogro a tiros na frente da cunhada. Antes, ele entrou em contato com a então namorada, Kennia Yanka, avisando que o mataria.

A decisão de cometer o crime veio após o acusado identificar que João havia registrado um boletim de ocorrências contra o genro por violência doméstica e familiar contra a filha da vítima.

Felipe e Kennia Yanka namoravam desde abril de 2021 e segundo depoimentos o acusado sempre demonstrou um comportamento agressivo e hostil. Por duas vezes ele chegou a mostrar para ela uma arma que portava sem autorização, ameaçando-a.

Dois dias antes de matar o sogro, o ex-servidor público efetuou um disparo para o alto na casa da vítima, fato que motivou o boletim de ocorrência. Felipe descobriu sobre o registro na delegacia por meio de um colega policial militar.