Unidade com 70 anos de existência no Setor Campinas fornecia 6 leitos de UTI à rede municipal. Diretoria alega dívida de R$ 4 milhões por parte administração municipal
O Hospital Santa Rosa, localizado no Setor Campinas, anunciou o encerramento das atividades depois de 70 anos de existência em Goiânia. De acordo com comunicado divulgado nesta quinta-feira (23), o motivo é a dificuldade financeira decorrente da não quitação de débitos por parte da Prefeitura de Goiânia. Segundo a direção do hospital, a Secretaria Municipal de Saúde (SMS) deve cerca de R$ 4 milhões à unidade de saúde. O Santa Rosa era responsável por ofertar 6 leitos de unidade de terapia intensiva (UTI) adulto e 12 leitos de enfermaria para a rede municipal de Saúde.
No momento, o hospital já não recebe nenhum novo paciente e as 10 pessoas que ainda estão internadas na unidade de saúde, sendo seis delas via Sistema Único de Saúde (SUS) e quatro via particular, aguardam transferência. A perspectiva é de que as atividades sejam totalmente encerradas nos próximos dias. Ao todo, serão fechados 52 leitos, sendo 10 deles de UTI. Somente a clínica de diagnósticos, que fica ao lado do hospital, será mantida em funcionamento.
Um dos primeiros hospitais de Goiânia, o Santa Rosa foi fundado em 1955. O responsável foi Said Rassi, que se formou na Faculdade Nacional de Medicina, da Universidade do Brasil (RJ), em 1953. O médico estagiou em Cirurgia Geral na Santa Casa do Rio de Janeiro em 1954 e, em seguida, retornou para Goiânia. O hospital foi construído em um local de grande importância histórica para a capital, já que Campinas já existia antes mesmo da fundação de Goiânia. Após o falecimento de Said, o Santa Rosa passou a ser gerido pelos filhos dele: Elias Rassi, Roberto Helou Rassi, Cristiane Rassi da Cruz e Rosa Rassi.
Em nota, a direção da unidade de saúde lamentou o fechamento e explicou que "os diversos esforços empregados não foram suficientes para suplantar os transtornos decorrentes dos débitos da administração municipal". O hospital ainda compadeceu-se dos trabalhadores, fornecedores e prestadores de serviço que serão afetados e agradeceu a confiança dos pacientes que já passaram pela unidade de saúde.
A decisão traz impacto para a rede municipal de Saúde, já que, ao todo, o Santa Rosa ofertava 18 leitos para a SMS. No final do ano passado, a Saúde de Goiânia passou por uma crise justamente por conta da escassez de leitos. Na penúltima semana de novembro de 2024, ao menos quatro pessoas internadas na rede municipal morreram à espera de um leito de UTI. A situação foi normalizada depois da criação de um gabinete de crise e de uma intervenção estadual na Saúde de Goiânia.
Sindicato
Em nota, o Sindicato dos Hospitais e Estabelecimentos de Serviços de Saúde no Estado de Goiás (Sindhoesg) lamentou o fechamento do hospital e disse que não se trata de um caso isolado. "Nos últimos anos, outras grandes instituições de saúde de Goiás, como o Hospital Santa Genoveva e o Hospital Lúcio Rebelo, também fecharam suas portas, sucumbindo à crise que afeta o setor e a precarização dos serviços de saúde no estado", destaca trecho da nota.
O Sindhoesg ainda se solidarizou com os proprietários, colaboradores e pacientes do Santa Rosa e informou que "espera que medidas sejam adotadas pelos gestores públicos e pelos compradores de serviços de saúde para evitar que outros hospitais da capital e do interior tenham o mesmo fim."
Prefeitura
Em reportagem publicada nesta segunda-feira (20) mostrou que hospitais, clínicas, laboratórios e entidades filantrópicas que prestam serviço à SMS receberam parte da dívida que se acumulou em cerca de R$ 600 milhões na última gestão municipal. Com recursos recebidos do governo federal na última semana, a Prefeitura efetuou o repasse de R$ 33,5 milhões a cerca de 160 prestadores de serviços do SUS. O prefeito Sandro Mabel (UB) promete que, agora, todos os pagamentos serão feitos "em dia", assim que os valores forem repassados ao Paço. O Santa Rosa não integra essa lista de cerca de 160 prestadores de serviços que receberam repasses.
Em nota, a SMS lamentou o fechamento do hospital e informou que "a prioridade da atual gestão é definir um cronograma de pagamento dos débitos acumulados nos últimos quatro anos, e renegociar os contratos e convênios firmados com a secretaria, em busca de reequilíbrio financeiro, considerando o estado de calamidade orçamentária e da assistência em saúde do município."
A secretaria também lamentou a decisão judicial que bloqueou as contas do Fundo Municipal de Saúde (FMS), o que "inviabiliza qualquer novo repasse tanto ao Hospital Santa Rosa quanto aos demais fornecedores do município". Questionada, a SMS não respondeu se o fechamento dos leitos de UTI do Santa Rosa irão impactar a rede municipal de Saúde.