Dados da Serasa mostram um forte avanço da inadimplência no estado, que tem 2,4 milhões de CPFs negativados; os goianos devem R$ 14,2 bilhões no total
O fantasma do aumento da inadimplência voltou a assombrar o comércio goiano. Dados da Serasa mostram que 2,4 milhões de goianos estão com o CPF negativado, o que equivale a 43,4% da população adulta do estado. Estes consumidores têm dívidas que somam R$ 14,2 bilhões, o que significa que cada pessoa deve, em média, R$ 5,8 mil. O grande número de inadimplentes preocupa os lojistas, pois prejudica o fluxo de caixa das empresas e impede a realização de novas vendas. Cada um destes goianos inadimplentes tem, em média, quatro dívidas em aberto, de acordo com a Serasa. Dados divulgados pelo SPC e pela CDL Goiânia também mostram um crescimento de 8,77% no endividamento no último mês de janeiro, em comparação com o mesmo período de 2024. O tempo médio de atraso no pagamento das contas foi calculado em 28,3 meses. Já a quantidade de contas em atraso cresceu 10,8% no período.
Mariana D´Ávila assessora executiva da Federação das Câmaras de Dirigentes Lojistas de Goiás (FCDL-GO), ressalta que as pesquisas apontam que, nos últimos 12 meses, 8 em cada 10 consumidores goianos tiveram o nome negativado em algum momento. Ela lembra que 68% dos negativados em janeiro já tinham dívidas antigas que não haviam sido pagas. "A reincidência é muito alta. Às vezes, a pessoa consegue pagar, mas acaba voltando para a lista de devedores depois", destaca.
A maior parte das dívidas é com bancos e cartões. A assessora da FCDL-GO lembra que isso prejudica o comércio porque torna o crédito mais caro e mais difícil de ser contratado. Lembrando que 90% das vendas no varejo são a prazo. Para ela, a inflação dos alimentos também faz o consumidor comprometer uma parcela maior da renda nas compras de supermercado com produtos básicos.
Parceria entre Serasa e Correios ajuda a negociar dívidas
Compra de última hora desafia consumidor, mas deve dar fôlego a lojistas
A taxa Selic alta também deixa o crédito mais difícil e caro, prejudicando consumidores e lojistas e sufocando o sistema de consumo. "Com a inadimplência alta, o comércio vende menos e desestabiliza toda economia porque o segmento gera uma boa base da renda", alerta.
A alta inadimplência, que cresceu por sete meses consecutivos, reforça a importância dos lojistas atentarem mais para os critérios de concessão do crédito. "Num cenário de juros altos, fica mais difícil sair da inadimplência e, até quem não está nela, tem crédito bem mais caro, uma barreira para as vendas. O governo precisa agir para tentar controlar inflação sem elevar mais a taxa de juros", adverte.
Para a superintendente da CDL Goiânia, Hélia Gonçalves, a elevação inadimplência indica não apenas uma tendência, mas que os consumidores estão enfrentando dificuldades financeiras, com dívidas acima de R$ 5 mil. "O cenário econômico atual, de inflação e altas taxas de juros, vem pressionando o poder de compra das famílias e dificultando o pagamento das dívidas", avalia.
Outro problema é que muita gente também faz compromissos que superaram sua capacidade de pagamento. A superintendente lembra que quem está inadimplente não tem poder de compra e as empresas ficam sem este importante recurso no caixa. "Isso acaba travando a roda da economia, que não consegue girar. A pessoa não consegue comprar e as empresas não conseguem receber, vender e comprar mais produtos de seus fornecedores", explica.
Gonçalves lembra que o comércio está aberto a oferecer condições propícias para renegociações saudáveis. Mas o consumidor também deve verificar sua real capacidade de pagamento e buscar negociações que realmente tenha condições de honrar. Se ele não cumpre o acordo, uma negociação não cumprida pode resultar em mais juros. "Temos atendimento presencial, em nossas unidades de Goiânia e Aparecida, e online pelo aplicativo SPC Consumidor, que tem consulta gratuita sobre os débitos", informa.
Para o presidente do Sindicato do Comércio Varejista no Estado de Goiás (Sindilojas-GO), Cristiano Caixeta, o maior impacto da inadimplência é a falta de vendas no comércio em geral, pois as pessoas compram muito no crediário. "A Selic a 13,25% dificulta o pagamento das dívidas e retrai as vendas", adverte. Ele acredita que os valores devidos são altos para as pequenas e médias empresas, que deixam de vender e têm menos fluxo de caixa. "Algumas empresas no interior até abrem mão de negativação de valores pequenos e ainda abrem crediário para o inadimplente, o que é arriscado", conta.
Se a pessoa tem crédito e ainda consegue um cartão, terá um crédito baixo para comprar, de no máximo uns R$ 800. "É uma bola de neve que chega até a indústria, pois o mercado não gira com facilidade. Precisamos de juros mais baixos e da intervenção do poder público, reduzindo tributação para as lojas e juros para o consumidor", alerta.