Prefeitura estuda adiar retirada de informais
Realocação de ambulantes está prevista para ser feita até o fim de março, mas secretaria defende que período pode ser estendido sob necessidade. Categoria cobra alternativas
Gabriella Braga
18 de março de 2025 às 06:34

Ana Paula de Oliveira, presidente da Associação dos Camelôs: “Não custa nada entrar em acordo com a gente “ (Wildes Barbosa / O Popular)
A Prefeitura de Goiânia sinaliza que pode prorrogar o prazo para retirada dos ambulantes da Região da 44, caso necessário. Ao mesmo tempo, a Associação dos Camelôs defende alternativas, como a implantação de horários flexíveis para trabalho de madrugada e à noite. As reivindicações foram apresentadas durante audiência pública na Câmara, nesta segunda-feira (17), duas semanas antes do fim do prazo para realocação dos informais. A proposta da gestão é de eles serem levados às galerias, por meio de aluguel social, ou mesmo para a Feira Hippie -- ambas rejeitadas pela categoria.
O prazo limite para retirada dos ambulantes, 30 de março, foi citado pelo prefeito Sandro Mabel (UB) em entrevista à TV Anhanguera em 26 de fevereiro. Dessa forma, a medida seria tomada em pouco mais de 30 dias. A reportagem já havia antecipado a possibilidade no dia 19 daquele mês, citando as propostas do Paço. No aluguel social, o plano é levar os camelôs para os espaços vazios nos empreendimentos comerciais da região, a partir de isenção progressiva no valor do aluguel, mas com custos do condomínio às galerias e shoppings centers.
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No fim de fevereiro, a reportagem também mostrou que a medida não havia sido bem recebida. Muitos, que já haviam tido locação nos empreendimentos, não conseguiram se manter por conta dos altos valores e da redução nas vendas, especialmente após a pandemia, a partir de 2020. Também foi relatada a queda no movimento na região e, consequentemente, do lucro. A realidade dos trabalhadores demonstra a dificuldade que a Prefeitura tem para fazer a realocação, de forma a garantir emprego para todos.
O impasse na retirada motivou a audiência pública na Câmara, proposta pelo vereador Heyler Leão (PP). Com a presença de representantes da Associação dos Camelôs, Prefeitura, Guarda Civil Metropolitana e Polícia Militar, além de centenas de comerciantes de rua, o encontro foi finalizado com a determinação de criação de comissão temporária. A proposta será apresentada nesta terça-feira (18) e uma comissão será responsável por estudar soluções para a realocação.
Após a explanação dos vereadores presentes, que defenderam diálogo entre as partes e cobraram prazo maior para a implantação da medida, o secretário municipal de Eficiência, Fernando Peternella, garantiu que a retirada dos ambulantes será "com tranquilidade" e reforçou que a determinação é de que seja concluída até dia 30. Contudo, sinalizou, o prazo pode ser dilatado caso necessário.
"Se sentirem necessidade de prorrogar o prazo, vamos fazer. Estamos construindo isso. É a primeira reunião com todos vocês. Tenham calma, estamos abertos a ideias. O que não vai existir mais é a informalidade nas ruas. Nós entendemos que existe uma preocupação de vocês, houve falhas das gestões anteriores, mas agora estamos aqui para regularizar. Ter legalidade significa paz", complementa.
Ainda segundo o secretário, não haverá uso da força policial para remoção dos ambulantes. "Ninguém precisa ficar preocupado que não vai ter polícia, cachorro, spray de pimenta. Isso não vai existir. A gente não quer apreender, não quer brigar. Só vamos organizar, com calma, escutando vocês", cita. Peternella explica ainda que a ideia de Mabel é que a Região da 44 seja transformada em um "polo nacional de turismo e de comércio". "Isso vai favorecer todos vocês. A 44 vai ser a maior área de turismo do Brasil, e mais organizada", pontua.
O secretário executivo da Secretaria Municipal de Gestão de Negócios e Parcerias, José Silva Soares Neto, também reforçou que haverá diálogo e busca de "solução viável para todos". "Ninguém vai ficar descontente, ninguém vai tirar o direito de trabalhar. Pelo contrário. Ninguém vai fazer nada de forma arbitrária, não existe nenhuma determinação nesse sentido. A orientação é diálogo, chegar a um denominador comum." A pasta será a responsável pela adoção das medidas relacionadas aos trabalhadores informais.
Após a fala do secretário de Eficiência sobre possibilidade de prorrogação de prazo, além da cobrança dos vereadores para dilação de ao menos 30 dias, a reportagem questionou a Prefeitura se já há definição sobre o acréscimo do período para realocação ou se alternativas são estudadas. Apesar da alegação de Peternella, a administração disse que não se pronunciará no momento, pois ainda não foi possível tomar decisões referentes à audiência pública.
Associação pede horários flexíveis
Presidente da Associação dos Camelôs, Ana Paula de Oliveira esteve na audiência na Câmara de Goiânia e defendeu que os comerciantes permaneçam trabalhando nas ruas, mas com adoção de horários alternativos. À reportagem, ela disse que a categoria não aceita as propostas da administração municipal, seja de aluguel social nos empreendimentos, diante do alto custo, ou realocação na Feira Hippie, que funciona entre sexta-feira e domingo.
"A gente não quer isso. Esse aluguel social, por exemplo, temos de pagar condomínio e tem gente que não tem condições para entrar numa loja. E na feira também não vamos aceitar, são só três dias, não é o suficiente, a gente trabalha de segunda a segunda. E aqui na Região da 44, o tradicional é a madrugada. Tem cliente que vem só de madrugada aqui. Então não custa nada entrarem em acordo com a gente para trabalharmos das 3 horas até às 7h30; depois, voltamos às 17 horas, quando as lojas estão fechando", pontua.
Ana Paula também cita que há um levantamento da associação que mostra a existência de cerca de 3 mil trabalhadores informais na região, ao contrário dos 600 estimados pelo Paço, conforme disse. Dessa forma, pondera que também não haveria como realocar todos como está proposto. Para ela, a solução definitiva seria a regularização de todos e a imposição de horários alternativos.
"A gente fabrica roupa, ajuda em Campinas comprando tecido, (na cadeia produtiva) atrás da gente tem costureira, cortador de roupa. Só queremos o direito de trabalhar, não queremos briga. Somos famílias que dependem da renda daqui. Eu mesma estou aqui há 15 anos. Tinham de olhar nosso lado. Falam que a gente não paga imposto. Pagamos sim, porque compramos tecido em Campinas, por exemplo, e a gente também pode pagar uma taxa. Lógico que queremos trabalhar regularizados, com tudo certo."
Ainda conforme Ana Paula, a expectativa é de que o impasse seja solucionado no prazo, mesmo com a solicitação de prorrogação. "Até 30 de março para acordo não tem como, já está aí. Mas até lá o prefeito Sandro Mabel vai resolver isso para gente", acredita. A própria associação já havia feito reunião, na última semana, com a Secretaria Municipal de Gestão de Negócios e Parcerias. "Querem acordo, mas oferecendo só a Feira Hippie e o aluguel social. Agora, passamos para olhar com ele (a permanência) na rua. Acho que não atrapalha nem lojista nem a gente."
O aluguel social proposto pela Prefeitura é articulado com a Associação Empresarial da Região 44 (Aer44). A intenção é os ambulantes ocuparem espaços vazios nas galerias e shoppings, com os primeiros seis meses tendo custo arcado apenas do condomínio. Após esse prazo, o comerciante começará a pagar, além do condomínio, mais 30% do valor do aluguel, passando para 60% em um ano. A partir de um ano e meio, ele passa a arcar com 100% do custo. O subsídio será feito pelo próprio empreendimento.