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Abelhas invadem ambientes urbanos em Goiânia

Diretoria de Vigilância em Zoonoses de Goiânia recebe até 20 solicitações por dia para retirada de enxames. Demanda cresceu muito com a estiagem

Modificado em 19/09/2024, 01:08

Francisca Maria da Conceição, moradora do Conjunto Vera Cruz 1, acionou o serviço público após identificar enxame de abelhas em árvore na sua calçada

Francisca Maria da Conceição, moradora do Conjunto Vera Cruz 1, acionou o serviço público após identificar enxame de abelhas em árvore na sua calçada
 (Wesley Costa)

A pensionista Francisca Maria da Conceição Reis, de 71 anos, estava na varanda de casa no último domingo (27), no Conjunto Vera Cruz 1, em Goiânia, quando ouviu o zumbido de um enxame de abelhas. Ao conferir a pequena árvore na parte frontal de sua casa, percebeu que uma colmeia de abelhas Europa estava se formando ali. A reação imediata da dona de casa foi pedir ajuda aos serviços públicos especializados temendo acidentes, mas até ontem à tarde, a remoção não tinha ocorrido. A Diretoria de Vigilância em Zoonoses de Goiânia está recebendo uma média de 15 a 20 solicitações diárias pelo mesmo motivo.

"É uma demanda extremamente alta", avisa o gerente de Controle de Animais Sinantrópicos, Wellington Tristão da Rocha. Nesta época do ano, em média, o morador incomodado com a instalação inesperada de um enxame de abelhas em casa, precisa aguardar até cinco dias para ser atendido. "Até o final da semana precisamos atender 15 ocorrências", afirma o biólogo. Ele explica que as duas equipes responsáveis pelo trabalho atuam com equipamentos de proteção individual (EPIs) e se deslocam em veículos adaptados. O tempo de remoção não é o mesmo para todos os casos.

"Algumas colmeias são recolhidas rapidamente, mas outras exigem ações paralelas porque estão em locais de difícil acesso, como entre o telhado e o forro da residência, um trabalho que pode durar até duas horas e meia. São situações que o cidadão não reconhece", explica Wellington Tristão. A preocupação de Francisca Reis obedece a um padrão. "Tenho medo de as abelhas atacarem idosos, crianças ou pessoas alérgicas, por isso pedi a retirada logo". O biólogo entende que ela tem razão e reforça que o ideal é aguardar o atendimento, sem atear fogo ou fazer barulho.

A expansão da área urbana e a estiagem são as grandes responsáveis por essa intensa movimentação de abelhas em locais habitados. Com o fogo na área rural, elas tendem a migrar para as cidades. "E de forma estressada", avisa Wellington Tristão. "Algumas pessoas colocam fogo com o objetivo de fazer fumaça para espantar as abelhas, mas não vai dar certo." Segundo o biólogo, o maior número de chamadas é para retirar enxames de abelhas europeias, africanizadas, a espécie que oferece mais risco de acidentes e pode até mesmo levar a óbito se a pessoa for alérgica. "Estamos dando prioridades a esses casos", avisa.

No ano passado, as equipes da Diretoria de Zoonoses de Goiânia fizeram 898 atendimentos com remoção de abelhas. Este ano, eles somam 427, a maioria no período de estiagem. Além da fuga do fogo, conforme Wellington Tristão, o movimento migratório das abelhas para áreas urbanas pode ocorrer em função da enxameação, que é quando a rainha divide a sua colmeia e parte para outro lugar. "A nossa política é de proteger a espécie, nunca matá-la. Abelhas são importantes para o ecossistema. Recolhemos, encaixotamos e levamos para um lugar seguro".

Para isso, a Diretoria de Vigilância em Zoonoses fez um convênio com o apiário da Universidade Federal de Goiás, que recebe as colmeias. As abelhas da espécie Europa (Apis mellifera) são uma das mais importantes produtoras de mel. "Também estamos elaborando uma proposta de parceria para apresentar à Associação de Apicultores do Estado de Goiás com o objetivo de fornecer essas colmeias, assim aumentamos a proteção da espécie", salienta.

Estressadas, abelhas podem até matar

Em Goiânia, o serviço público de remoção de colmeias é uma atribuição do Departamento de Zoonoses. Entretanto, o Corpo de Bombeiros Militares também recebe muitas solicitações, mas atua na capital somente em casos específicos e que configurem urgência. Ou seja, ataques que coloquem em risco a vida de alguém ou em lugares de difícil acesso.

Em 2023, em todo o estado, o Corpo de Bombeiros registrou 3.028 ocorrências envolvendo abelhas. E este ano, até agora, 2.105. No sábado (26), um fazendeiro de Uruaçu, de 78 anos, sofreu um choque anafilático depois de um ataque e não resistiu. Não foi um caso isolado.

No mês de março deste ano, vários outros casos foram registrados, como o de um engenheiro civil de 32 anos que perdeu a vida depois de ser surpreendido por centenas de abelhas durante a reforma do prédio do Instituto de Previdência dos Servidores de Bela Vista de Goiás.

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Goiânia vai aumentar sua área urbana em 1.210 hectares

Paço aprovou 19 processos para ampliação da macrozona construída por meio da Outorga Onerosa de Alteração de Uso. Tamanho equivale a 1.695 gramados do Serra Dourada

Modificado em 29/03/2025, 13:17

Em um ano e meio após a efetivação do novo Plano Diretor (PD) de Goiânia, 21 processos chegaram à Prefeitura para o uso da Outorga Onerosa de Alteração de Uso (OOAU), o dispositivo criado para transformar uma área rural em urbana. Desses processos, 19 foram aprovados e chegam a um total de 1.210 hectares a mais na macrozona construída, ou seja, a área da cidade que pode ser loteada e ocupada por edifícios, residências, comércios, avenidas e outros. Para ter uma ideia, essa área equivale a 1.695 campos de futebol do Estádio Serra Dourada, o qual tem um gramado ocupando 7.140 metros quadrados (0,714 hectares) de superfície.

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Especialista em Planejamento Urbano e Ambiental e presidente da Associação para Recuperação e Conservação do Ambiente (Arca), Gerson Neto calcula que, considerando que 35% da área urbanizada serão para equipamentos públicos e arruamentos, se forem comercializados como lotes de 270 m² (o lote mínimo da Prefeitura), a área de expansão da cidade resultaria em 29.151 lotes. "Esse cálculo é para saber a estimativa de crescimento populacional que essa expansão abriga. Em 2023, a média de moradores por domicílio em Goiânia era de 2,61 pessoas, segundo o IBGE. Essa expansão tem potencial de abrigar um crescimento populacional de ao menos 76.084", estima ao lembrar que é possível ocupar o espaço com apartamentos, o que aumentaria a densidade populacional.

A área aprovada também representa um acréscimo de 2,7% na atual macrozona construída da cidade e 4,28% de redução na macrozona rural. A OOAU foi um instrumento urbanístico regulamentado no PD de 2023, a partir de emendas parlamentares, que definiu as características e mapeou as áreas que seriam passíveis de se tornar urbanas. Entre as obrigações que a área deve cumprir está o princípio de contiguidade, em que o imóvel deve estar no limite com algum loteamento da área urbana com um mínimo de 30% de ocupação. Na época, o argumento utilizado foi o de manter o perímetro urbano da capital, já que houve críticas a uma proposta anterior da Câmara Municipal em que a macrozona construída aumentaria em até 29%.

Com a OOAU, criaram-se, então, três tipos de áreas na cidade: a macrozona construída, as macrozonas rurais e uma área demarcada, dentro da rural, que seria urbanizável caso passasse pelo processo descrito. Não foram divulgados os critérios definidos pelos legisladores da época para distinguir quais fazendas ou chácaras das macrozonas rurais poderiam ser urbanizadas pela outorga onerosa. O mapa que definiu as áreas foi elaborado a partir de um grupo técnico formado pelos vereadores e membros do mercado imobiliário, ficando disponível o desenho das áreas apenas com a aprovação do PD.

Além disso, ficou definido que o proprietário da área que deseja ter o uso alterado deve pagar uma outorga de R$ 1,62 por m² de área, além da taxa do Documento Único de Arrecadação Municipal (DUAM). Levando em conta apenas o valor da outorga em si, o município deve arrecadar R$ 19.616.390,80 em razão da alteração de uso, verba que é vinculada ao Fundo Municipal de Desenvolvimento Urbano (FMDU). Em julho do ano passado, O POPULAR fez levantamento com base nos pedidos de informações sobre as áreas de OOAU na capital e havia 26 processos em que os proprietários desejavam saber se determinado local era ou não passível de uso do instrumento, o que resultaria em cerca de 1.100 hectares a mais na macrozona urbana, valor semelhante ao que foi aprovado e efetivado. Na época, o Paço Municipal não informou quais processos já haviam sido finalizados.

Segundo os dados da Secretaria Municipal de Planejamento e Urbanismo Estratégico (Seplan) neste ano, dois processos foram feitos ainda em 2023, resultando 122 hectares de acréscimo na macrozona construída; 16 são de 2024, com 919 hectares; e outros 3 processos já de 2025, com 166 hectares. Ressalta-se que destes 21 processos, três deles, todos do ano passado, foram negados pela Seplan por não terem atendido aos critérios legais. De acordo com a pasta, como a regulamentação da OOAU partiu de uma emenda parlamentar, não houve, em princípio, uma expectativa do Poder Executivo acerca do volume de processos.

Contudo, diante dos requisitos mínimos necessários para a solicitação da concessão da OOAU estatuídos na legislação, é esperado que o volume não seja alto", informa a Seplan. Para o presidente da Associação dos Desenvolvedores Urbanos do Estado de Goiás (ADU-GO), João Victor Araújo, a quantidade está condizente ao esperado. "Mesmo porque a emissão da OOAU não quer dizer aprovação do projeto imobiliário. Essa é apenas uma fase inicial. Até percorrer todas as fases de aprovação e licenciamento de um novo projeto de parcelamento do solo, historicamente, ainda serão necessários uns três anos até a emissão final da aprovação."

Segundo Araújo, em razão dessa burocracia Goiânia chegará ao final do primeiro trimestre deste ano com menor número de estoque da história em Goiânia, em relação a quantidade de lotes, o que, para o mercado, justifica a necessidade de áreas urbanizáveis. Diferente do cálculo feito por Gerson Neto, sobre o adensamento das áreas rurais, o presidente da ADU-GO ressalta que a emissão da OOAU "não traduz certeza de aprovação de novos loteamentos ou outros tipos de projetos imobiliários (casas, shoppings, lotes comerciais, galpões)", sendo apenas "uma fase ainda muito inicial".

Por outro lado, Neto ressalta que, quando os loteadores perceberem os processos sendo deferidos, a tendência é que aumente o número de pedidos de expansão. "O dispositivo de alteração de uso está relacionado a uso comercial, residencial ou industrial, não a inclusão de glebas de áreas rurais no perímetro urbano. Goiânia tem um ornitorrinco jurídico em pleno funcionamento na Prefeitura de Goiânia. É preciso que o Ministério Público faça sua parte para evitar esse escândalo." Ele lembra que, somado a isso, ainda há vazios urbanos identificados pelo PD e não "vemos nenhuma política de ocupação compulsória sendo implementada".

Expansão é maior na região norte

Entre as macrozonas rurais de Goiânia, a que apresentou uma maior área a ser transferida de rural para urbana, por meio da Outorga Onerosa de Alteração de Uso (OOAU) é a da Capivara, cujo nome é dado pela presença do ribeirão de mesma denominação. Ao todo, foram seis processos na região localizada entre as GOs 080 e 462, nas saídas de Santo Antônio de Goiás e Nerópolis, no norte da capital. Os processos totalizam 432,395893 hectares, o que representa 4,89% de toda a macrozona rural.

De acordo com a Secretaria Municipal de Planejamento e Urbanismo Estratégico (Seplan), a concessionária de distribuição de água da capital, Saneago, já sinalizou "a necessidade de preservação e proteção da área estudada para a implantação do barramento e reservatório do Ribeirão Capivara, o qual proporcionará a resiliência/segurança hídrica ao sistema produtor Meia Ponte, fundamental ao abastecimento de Goiânia e de sua Região Metropolitana". A Seplan considera que, por essa sinalização, estão sendo feitos estudos para modificar o dispositivo da OOAU.

Além das áreas da Macrozona do Capivara, a região Norte de Goiânia, teve mais dois processos de OOAU sobre a Macrozona do João Leite, localizada entre a GO-080 e a BR-153, incluindo o reservatório do Ribeirão João Leite. Neste caso, os processos somam uma perda de 35,14 hectares de área rural a ser urbanizada. O presidente da Associação para Recuperação e Conservação do Ambiente (Arca), Gerson Neto, reforça que a região norte da capital é a mais sensível, justamente pela presença dos córregos que abastecem a capital. Para ter uma ideia, historicamente a construção de Goiânia tinha o chamado cinturão verde , que envolvia toda a área urbana para a preservação. Com o passar dos anos, a preocupação ficou reduzida ao chamado "capacete verde", que era justamente as macrozonas rurais da zona norte.

Chama a atenção também a prospecção de expansão da cidade para a região oeste, a partir da Macrozona do Alto Anicuns, localizada entre a GO-060 e a BR-060, na saída para Trindade. Nesse caso, há o maior número de processos (7), que somam 263,144663 hectares, cerca de 12% de toda a área rural. Para o presidente da Associação dos Desenvolvedores Urbanos do Estado de Goiás (ADU-GO), João Victor Araújo, a procura se dá porque, naturalmente "são as áreas ainda possíveis de desenvolvimento na circunscrição imobiliária de Goiânia". Ele entende que "nas demais regiões, o desenvolvimento já 'pulou' Goiânia e foi pra municípios vizinhos".

Gerson Neto argumenta que "Goiânia está crescendo para cima e para os lados". "É uma dupla explosão imobiliária com esses prédios enormes sendo erguidos na região central, uma concentração gigantesca, ao mesmo tempo em que vão expandindo para as regiões periféricas. Isso é uma voracidade muito grande em uma cidade que já vive um trânsito tenso, caótico, complicado, com uma estrutura viária esgotada." O especialista em Planejamento Urbana entende que a cidade "vive mais um daqueles momentos de grande explosão sem muito planejamento. "Sem praticamente nenhum planejamento."

Para a Seplan, é difícil diagnosticar o motivo do maior interesse em empreender na região Norte de Goiânia, "visto se tratar de algo inerente ao mercado imobiliário". Contudo, a pasta tem como hipótese uma tendência à habitação de interesse social, tendo em vista que o PD direciona área de interesse social para a região, além de ter muitos imóveis vagos com grande extensão territorial.

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Goiano deportado dos EUA relata voo de retorno assustador

Kaleb Barbosa, 28 anos e de Rubiataba, contou como foi aterrorizante a primeira viagem de repatriados do Brasil após o início do governo de Donald Trump

Kaleb Barbosa morou seis anos nos EUA e voltou apenas com uma sacola

Kaleb Barbosa morou seis anos nos EUA e voltou apenas com uma sacola (Reprodução)

Após ser repatriado juntamente com outros 87 brasileiros, o goiano Kaleb Barbosa, de 28 anos, relatou momentos de tensão durante o voo vindo dos Estados Unidos ao Brasil. A aeronave estava prevista para pousar em Belo Horizonte na noite da última sexta-feira (24), mas teve de aterrissar em Manaus, para passar por manutenção. Este foi o primeiro voo com deportados enviado após Donald Trump assumir o governo dos EUA e os migrantes chegaram ao País algemados -- o que, no passado, já gerou impasse diplomático entre as duas nações.

"Foi uma viagem muito difícil. Trataram a gente muito mal. Estragou o ar-condicionado, avião estava em péssimas condições, estragado. Teve de parar no Panamá, viajar com mecânico. Eu nunca vi isso, viajar com mecânico dentro do avião. Não queria funcionar, mas tomamos uma atitude drástica e abrimos a porta de emergência e pedimos socorro, quando chegou a Manaus", relatou, em entrevista concedida no Aeroporto Internacional de Confins, na capital mineira.

Após o pouso na capital amazonense, o ministro da Justiça e Segurança Pública, Ricardo Lewandowski, determinou a retirada das algemas dos deportados e o envio de um avião da Força Aérea Brasileira (FAB) para finalizar o trajeto até Minas Gerais. De lá, 84 repatriados seguiram viagem até o destino final e chegaram na noite de sábado (25). Outros quatro permaneceram em Manaus. A ação citada por Kaleb repercutiu mundo afora, com a imagem de brasileiros algemados do lado de fora da aeronave pedindo por ajuda.

No Aeroporto de Confins, em Minas Gerais, mãe abraça filho repatriado que chegou em avião da FAB (GISLAINE OLIVEIRA/Agencia Enquad)

No Aeroporto de Confins, em Minas Gerais, mãe abraça filho repatriado que chegou em avião da FAB (GISLAINE OLIVEIRA/Agencia Enquad)

"Pessoas começaram a passar mal, hipertensos, gente com diabetes. Tinham crianças chorando, a turbina estava falhando. Um momento muito ruim, condições precárias. Ficamos com muito medo. Foi muito crítico, coisa de filme, que nunca mais quero viver na vida", contou. "Em Manaus estava saindo fumaça da turbina e eles (tripulação) mesmo assim querendo viajar. Creio que, se tivesse vindo esse avião, todos estaríamos mortos, então tomamos uma atitude drástica e fomos para cima, mesmo com eles nos agredindo, e abrimos a porta de emergência."

Natural de Rubiataba, no interior goiano, Kaleb morava havia seis anos em Kirkland, cidade localizada no estado de Washington e trabalhava como "house cleaning" (limpeza de casas). Ao chegar ao aeroporto de Belo Horizonte, levava em mãos apenas um saco, onde guardava uma coberta, toalha e a roupa que foi dada a ele ainda em Manaus, além de alguns livros. "Deixei tudo para trás. Casa, carro...", contou.

O goiano relata ainda que a prisão era degradante. "Mau atendimento médico, comida muito ruim mesmo. Desumano". Agora, cita, a previsão é permanecer no Brasil, ou tentar um futuro na Europa. "Já deu o que tinha de dar", respondeu Kaleb, ao ser questionado sobre um possível retorno aos Estados Unidos.

Itamaraty

O Itamaraty, por sua vez, disse no sábado (25) que pedirá explicações ao governo Trump sobre o "tratamento degradante" contra os brasileiros no voo de deportação. Os migrantes que chegaram a Belo Horizonte no sábado relataram agressões, ameaças e tratamento degradante que sofreram por parte dos agentes de imigração americanos.

Vários disseram ter ficado 50 horas algemados, sem ar condicionado no voo e sujeitos a abusos dos americanos. Relataram, como também disse Kaleb, que só conseguiram alertar as autoridades brasileiras depois de abrir uma das portas de emergência do avião e gritar por socorro do alto da asa. "A gente disse pra eles: nós não vamos mais viajar neste avião, chama nossa polícia, tira a gente daqui", afirma Denilson José de Oliveira, 26 anos. "Senti muito medo. Parecia que estavam tentando nos matar."

Segundo o ministro da Justiça, Ricardo Lewandowski, o governo Lula determinou a retirada das algemas dos brasileiros assim que foi informado da situação pela PF. O ministro falou em "flagrante desrespeito" aos direitos dos brasileiros. O Planalto enviou um avião da Força Aérea Brasileira para fazer o transporte até Belo Horizonte, destino final do voo original.

Trump reage com sanções à recusa colombiana de receber deportados

O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, disse neste domingo (26) que seu governo impôs sanções contra a Colômbia depois de o presidente Gustavo Petro se recusar a receber dois voos militares americanos carregando deportados. Trump anunciou uma série de medidas contra o país latino-americano: proibiu membros e apoiadores do governo Petro de viajar aos EUA e suspendeu seus vistos; prometeu tarifas alfandegárias de 25% contra mercadorias colombianas, dizendo que vai subir o porcentual para 50% em uma semana; e falou em "sanções financeiras e bancárias" contra o país, aliado mais tradicional dos EUA na América do Sul.

"Acabo de ser informado que dois voos de repatriação dos EUA, com um grande número de criminosos ilegais, não tiveram o pouso autorizado na Colômbia. Essa ordem foi dada pelo presidente socialista da Colômbia, Gustavo Petro, que é muito impopular entre seu povo", escreveu Trump na sua rede social Truth Social. Na avaliação do presidente americano, a decisão de Bogotá "coloca em risco a segurança nacional e segurança pública dos EUA", o que justificaria as medidas drásticas. Essa é uma das primeiras sanções impostas por Trump desde que voltou ao poder, e o fato de estarem relacionadas à imigração mostram a centralidade do tema para o republicano neste novo mandato.

"Essas medidas são apenas o começo. Não permitiremos que o governo da Colômbia viole suas obrigações legais em relação ao retorno de criminosos que eles forçaram contra os EUA", conclui Trump no comunicado. Nas redes sociais neste domingo, Petro citou o caso dos brasileiros que chegaram algemados ao País e acusam agentes de imigração americanos de agressão e tratamento degradante ao dizer que não aceitará deportações em aviões militares.

De acordo com uma autoridade americana que falou à agência de notícias Reuters em condição de anonimato, o avião com 80 migrantes já havia decolado do estado da Califórnia quando o governo colombiano suspendeu a autorização. Na sexta (24), mesmo dia em que os brasileiros começaram sua viagem de deportação, a imprensa americana relatou que o México também se recusou a receber um voo militar com deportados.

Citando o caso brasileiro, Petro disse neste domingo (26) que não permitirá aviões militares dos EUA façam voos de deportação até o seu País. "Um migrante não é um criminoso e deve ser tratado com a dignidade que um ser humano merece", afirmou Petro em publicação no X. "Não posso fazer com que migrantes fiquem em um país que não os quer; mas se esse país os devolve, deve ser com respeito, em aviões civis", afirmou. "A Colômbia exige respeito." O presidente colombiano ressaltou que mais de 15 mil americanos em situação irregular vivem em seu país.

Já o voo que estava marcado para levar outros 80 migrantes deportados para o México teve a autorização do governo mexicano rescindida antes de decolar. Outros três voos com destino à Guatemala com 80 pessoas cada, dois deles, militares, foram concluídos sem problemas, disseram autoridades americanas à emissora NBC. A Cidade do México não deu detalhes para a recusa do voo. (Victor Lacombe / Folhapress)

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Meia Ponte tem vazão pior que pico de 2019

Nível diário registrado no fim de semana girava em torno de 2 mil L/s. Captação no manancial segue restrita

Modificado em 04/11/2024, 08:47

No Bairro São Domingos, crianças brincam no leito esvaziado do Rio Meia Ponte, perto do ponto de captação de água em Goiânia

No Bairro São Domingos, crianças brincam no leito esvaziado do Rio Meia Ponte, perto do ponto de captação de água em Goiânia
 (Wesley Costa)

++GABRIELLA BRAGA++

Mesmo após a chuva que caiu no fim de setembro, o Rio Meia Ponte segue em nível crítico. No fim de semana, a vazão diária do manancial utilizado para o abastecimento da capital goiana ficou abaixo do índice registrado nos mesmos dias em 2019, ano em que houve a última estiagem mais intensa vivida em Goiás. De sábado (5) para domingo (6), houve um leve recuo na vazão, passando de 2,2 mil litros por segundo (L/s) para 2 mil L/s.

Após a chuva do último fim de semana de setembro, a vazão do rio começou a aumentar gradativamente, mas logo voltou a cair. Para se ter ideia, no último dia 27, quando se registrava 156 dias sem chuva na Bacia do Meia Ponte, a vazão diária estava em 2,2 mil L/s. No dia 29, logo após as chuvas, estava em 2,7 mil L/s. A vazão mais alta desde então foi registrada em 30 de setembro e em 1º de outubro: 3,2 mil L/s.

A redução do nível de água do manancial é observada diariamente, especialmente no ponto de captação da Companhia de Saneamento de Goiás (Saneago), no Bairro São Domingos. A companhia aponta que o abastecimento de Goiânia segue "dentro da normalidade". Entretanto, a situação só é possível por causa da produção de água do Reservatório João Leite, cujo lago forma um dos três sistemas produtores utilizados para o abastecimento público.

Na capital, são usados recursos hídricos de dois mananciais: Meia Ponte, com captação superficial, e Mauro Borges/João Leite, com água represada. Conforme a Saneago, o Sistema Meia Ponte é responsável por 36% da produção de água. Já os outros dois sistemas abastecem o restante da cidade (64%). Outros municípios da Região Metropolitana, como Goianira e Trindade, também são abastecidos com recurso deste sistema.

Entretanto, como o Rio Meia Ponte atingiu o nível crítico 3 --- o penúltimo mais grave --- a captação fica limitada para todas as outorgas (cessão de uso da água) no manancial, tais como o abastecimento público. A restrição na captação teve início no dia 5 de setembro, quando foi atingido o nível de criticidade caracterizado por vazão de escoamento menor de 3 mil L/s. O indicador é calculado considerando a média móvel da vazão dos últimos sete dias. Caso esse valor fique abaixo de 2 mil L/s, o nível crítico 4 é atingido e, portanto, novas limitações são impostas, ainda com risco de racionamento de água.

Diante do cenário, a Saneago tem feito a captação mínima no Meia Ponte e recorrido à água represada do João Leite. O jornal mostrou no último dia 23 que a produção de água que era de 2 mil L/s caiu para cerca de 1,3 mil L/s. Desta forma, garante a companhia, é mantida a "vazão ecológica do rio em mil litros por segundo, pelo menos". O abastecimento nas áreas atendidas pelo Meia Ponte é complementado por meio da adutora de transição João Leite-Meia Ponte. Hoje, a adutora tem operado no limite máximo de 800 L/s.

Presidente da Associação para Recuperação e Conservação do Ambiente (Arca), Gerson Neto explica que a vazão ecológica do Rio Meia Ponte, citada pela Saneago, significa o mínimo de água que deve correr pelo curso hídrico para garantir que os processos biológicos do local sejam preservados. "O rio é movimento. Se isso se interrompe, cria-se um prejuízo biológico para a parte que tirou (a água). Morrem todos os peixes, morrem os invertebrados, morre toda a biodiversidade daquele local", pontua.

Futuro difícil para a vazão dos rios

Neto pondera ainda que a estiagem cada vez mais "prolongada e extrema" representa "um futuro difícil para a vazão dos rios". "Estamos ameaçados de um processo de desertificação para o Cerrado. Por isso, precisamos recuperar as nascentes, as matas ciliares e manter vazão ecológica dos rios para termos resistência e demorarmos mais a sentirmos os piores efeitos. Podemos começar a ver rios (perenes) só correrem no período de chuva. E muitos mananciais aqui em Goiás estão no limite: o Rio Claro, em Jataí, o Rio Bacalhau, em Goiás, o Rio das Pedras, em Quirinópolis", exemplifica.

A recuperação da Bacia do Rio Meia Ponte é enfatizada pelo ambientalista, com o reflorestamento de nascentes e de matas ciliares. Isso porque, para Neto, a capacidade do rio de fornecer água para o abastecimento público "já está no limite". Ele pontua ainda que tal medida é necessária, visto que "não é fácil buscar água em outro lugar". "Além de ser caro, os outros (rios) também estão sem água. E, mesmo recuperando, não há garantia de que teremos segurança (hídrica). É preciso que haja um alerta geral sobre o problema hídrico", complementa.

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Gameleira da Avenida Araguaia será retirada após incêndio

Não foi a primeira vez que a conhecida árvore foi queimada, mas desta vez Agência Municipal do Meio Ambiente diz que ela ficou totalmente comprometida

Modificado em 04/11/2024, 08:56

Bombeiros tiveram dificuldade para apagar fogo em gameleira

Bombeiros tiveram dificuldade para apagar fogo em gameleira (Fábio Lima)

++GABRIELLA BRAGA++

A conhecida gameleira que durante muitas décadas marcou o cruzamento das avenidas Araguaia e Contorno, no Centro de Goiânia, será removida após um incêndio comprometer a estrutura da árvore. O atestado foi feito pela Agência Municipal de Meio Ambiente (Amma), que autorizou a retirada. O fogo teria começado logo pela madrugada desta quarta-feira (2) e atingiu a parte interna do exemplar.

O Corpo de Bombeiros Militar do Estado de Goiás (CBM-GO) foi acionado ainda na madrugada desta quarta e fez o combate das chamas. Conforme o tenente Ronaldo Marques, a corporação voltou ao local por volta de 14h30 diante de uma reignição. A pista foi fechada para dar espaço a quatro viaturas utilizadas na ocorrência, e reaberta cerca de três horas depois. Foram utilizados ao menos 21 mil litros de água na ação.

O bombeiro militar explica que o fogo atingiu a base da árvore, ocasionando grandes danos. Entretanto, como estava no "oco" da estrutura arbórea, a água utilizada no combate não conseguiu atingir completamente a área queimada. Por isso, uma reignição teve início pela tarde. Marques comenta ainda que há cerca de cinco anos um incêndio já havia atingido a gameleira, mas ela conseguiu se reestruturar.

O jornal esteve no local nesta quarta-feira (2) e observou uma grande quantidade de folhas secas deixadas nas proximidades das raízes da árvore. A suspeita é de que o fogo tenha sido iniciado na vegetação seca e, logo, se espalhou para o tronco no lado de quem desce pela Avenida Araguaia para virar à direita na Avenida Contorno. A copa da gameleira não chegou a ser afetada. Por fora, não é possível visualizar o quão afetada ela ficou diante das altas temperaturas. Já na avaliação da Amma, houve comprometimento total da estrutura.

"A autorização (para remoção) realizada por técnicos leva em consideração os riscos de queda das galhas e da própria árvore após o incêndio que comprometeu toda a estrutura do exemplar arbóreo. Foi constatado que o exemplar de Gameleira Ficus Doliaria apresenta queimadura em seu miolo central, além disso o excesso de peso em sua formação pode agravar os riscos", cita a Amma, em nota.

A remoção será feita pela Companhia de Urbanização de Goiânia (Comurg), entretanto, ainda sem data prevista. A assessoria de imprensa da empresa justificou que o exemplar não seria retirado ainda nesta quarta diante da falta de tempo hábil para organização do procedimento, visto que é uma árvore de grande porte e demanda intervenções no trânsito. Além disso, é preciso contactar a Equatorial Goiás para dar apoio em relação à rede de energia elétrica próxima.

Diretor do Colégio Claretiano Coração de Maria, situada na mesma quadra da gameleira, José Pedro Lino conta que chegou pouco antes de 7h e uma grande labareda de fogo já consumia parte da árvore. Pela tarde, um novo foco de fumaça foi percebido. Logo depois de saber sobre a retirada do exemplar, classificou a decisão como "lamentável". "Não precisaria ter chegado a esse ponto se tivesse poda, tivesse conservação. As autoridades competentes sabiam disso aqui, mas não fizeram nada."

Lino pontua ainda sobre a grande quantidade de mato seco deixado nas proximidades das raízes da árvore.