Nova operação na Secretaria de Saúde de Goiânia investiga desvio de R$ 10 milhões
Cinco mandados de prisão são cumpridos contra servidores do alto escalão, segundo a Polícia Civil
Samantha Souza
17 de dezembro de 2024 às 09:55

Polícia cumpre 17 mandados de busca e apreensão em operação que investiga desvios na SMS de Goiânia (Reprodução/Polícia Civil)
Uma nova operação da Polícia Civil investiga desvio de aproximadamente R$ 10 milhões da Secretaria Municipal de Saúde (SMS) de Goiânia. Cinco mandados de prisão e 17 de busca e apreensão são cumpridos nesta terça-feira (17). Segundo a polícia, entre os alvos dos mandados de prisão temporária estão o ex-Secretário Municipal de Saúde de Goiânia,Wilson Pollara , o ex-Secretário Executivo de Saúde, Quesede Ayres Henrique.
Pollara e Quesede já haviam sido presos em uma outra operação ocorrida no dia 27 de novembro, que investigava desvios na SMS. Eles deixaram a prisão há dez dias.
Secretário de Saúde de Goiânia pede exoneração do cargo
Mabel confirma Márcio de Paula como interventor na Saúde de Goiânia
Ao ser procurada pela reportagem a defesa de Pollara informou que "se manifestará oportunamente nos autos, tão logo tenha acesso à integra do processo". O POPULAR também procurou a defesa de Quesede, mas não obteve retorno até a última atualização deste texto.
Por meio de nota, a SMS de Goiânia informou que "cumprirá com todas as determinações judiciais e colabora com o fornecimento de informações e documentos necessários para garantir que todos os procedimentos sejam devidamente esclarecidos". A prefeitura também disse estar contribuindo com as investigações e que "caberá ao interventor adotar todas as medidas administrativas cabíveis conforme o andamento das investigações" (veja ambas as notas ao final do texto).
Nesta segunda etapa são alvos de mandados de prisão: Marcus Vinícius Brasil Lourenço, o Presidente da Associação Privada sem fins lucrativos União Mais Saúde, Wander de Almeida Lourenço Filho, o procurador dessa associação privada, e Veriddany Abrantes de Pina, sócia-administradora da empresa de fornecimento de materiais hospitalares.
O POPULAR não conseguiu localizar a defesa dos suspeitos até a última atualização deste texto.
Além deles, são alvos de busca e apreensão: Letícia Maria Isaac Carneiro, Diretora de Políticas Públicas Municipais de Saúde, Erika Cristina Vieira Oliveira Ximenes, Superintendente de Regulação, Avaliação e Controle da Secretaria Municipal de Saúde, Diogo Archanjo Fleury de Souza, Chefe da Advocacia Setorial da Secretaria Municipal de Saúde, Caroline de Castro Daud, Vice-Presidente da União Mais Saúde, Fabrício Brasil Lourenço, Conselheiro Administrativo da União Mais Saúde, Lucas Luiz de Lima Silva, Eden Gomes Rodrigues e Juliana Menara de Souza Marques, Conselheiros Científicos da Associação Privada. Mandados de buscas ainda estão sendo cumpridos nas sedes da Associação União Mais Saúde, da empresa de fornecimento de materiais hospitalares Mult Hosp Soluções Hospitalares, e na Secretaria Municipal de Saúde no Paço Municipal.
A reportagem entrou em contato com a empresa Mult Hosp Soluções Hospitalares LTDA, e Associação Privada sem fins lucrativos União Mais Saúde, para um posicionamento, por e-mail, mas até a última atualização deste texto, não obteve resposta.
Todos os alvos desta operação, segundo a Polícia Civil, são investigados por participar de um esquema de desvio de recursos públicos da área da saúde de Goiânia. A suspeita é de fraude em convênio celebrado entre a Secretaria Municipal de Saúde e uma empresa responsável pela prestação de serviços nessa área.
Como foi feito o desvio
Um documento da que O POPULAR teve acesso revela que, no dia 19 de julho, Quesede, que exercia o cargo de Secretário Municipal de Saúde de forma interina, recebeu uma solicitação do presidente da associação privada União Mais Saúde, para a celebração de um convênio e a liberação de R$ 10 milhões. Na sequência, Quesede teria impulsionado o processo administrativo de forma totalmente irregular, "sem publicidade, cotação de preços, exigência de atestado de capacidade técnica ou observância das orientações expedidas pela Procuradoria-Geral do Município para regularização deste instrumento contratual", detalhou a polícia.
No dia 25 de julho, apenas seis dias após ter iniciado o processo administrativo de contratação, Quesede teria ordenado e emitido uma nota de pagamento no valor de R$ 10 milhões para a associação.
Em um segundo momento, no dia 16 de agosto, Wilson Pollara, então Secretário Municipal de Saúde, após reassumir o cargo em razão da revogação de uma medida cautelar que o havia afastado, assinou o termo de Convênio, também sem seguir as recomendações técnicas exigidas pela Procuradoria do Município quanto a regularização do instrumento contratual.
A investigação ainda aponta que, três dias depois, Pollara teria ordenado o pagamento antecipado do valor de R$ 5 milhões à associação privada, conquanto tenha sido fixado que o convênio teria o prazo de vigência de 12 (doze) meses, tendo nesse mesmo dia (19 de agosto) a Secretaria Municipal de Saúde transferido o valor para a conta da associação privada.
A polícia ainda afirma que, em seguida, o restante do valor também foi repassado à associação privada por ordem de Pollara, sendo mais de R$ 3,2 milhões no dia 20 de agosto, e mais R$ 1,7 milhões dois dias depois, totalizando R$ 10 milhões, "em uma celeridade sem precedentes, sem a contraprestação de qualquer serviço pela associação privada conveniada", destacou o documento da Polícia Civil.
Em um outro momento, a investigação revelou indícios de que o presidente da associação União Mais Saúde, após receber os R$ 10 milhões, de forma antecipada, teria desviado mais de R$ 6,4 milhões para a conta da empresa Mult Hosp Soluções Hospitalares LTDA, supostamente fornecedora de materiais hospitalares, registrada em nome de Veriddany. Ela que, segundo a investigação Polícia Civil, teria se apropriado de R$ 2,6 milhões, por meio de transferências para uma conta bancária de mesma titularidade da associação União Mais Saúde, todavia, diferente daquela criada para a movimentação dos recursos do convênio celebrado com a SMS de Goiânia, bem como teria desviado R$ 875 mil em favor de seu irmão, Wander de Almeida Lourenço Filho, que, conforme a polícia, seria o procurador da União Mais Saúde.
Ainda conforme o documento, em um quarto e último momento, Veriddany, que recebeu mais de R$ 6,4 milhões da associação União Mais Saúde, "teria transferido parte desses valores para sua conta pessoal e iniciado uma sequência de transferência de saques de valores em espécie que ultrapassaram um milhão de reais, cujo destino final ainda resta-se ignorado, havendo, todavia, indícios de que parte desses valores possam ter retornado aos demais investigados", destaca o documento.
Operação Comorbidade: Pollara e Quesede são presos
No dia 27 de novembro, no âmbito da Operação Comorbidade, o ex-secretário municipal de Saúde de Goiânia, Wilson Pollara, o ex-secretário executivo da Secretaria Municipal de Saúde (SMS), Quesede Ayres Henrique, e o ex-diretor financeiro da pasta e do Fundo Municipal de Saúde, Bruno Vianna Primo, foram presos em um investigação que investigava desvio de recursos e irregularidades em pagamentos da SMS.
À época, o débito milionário da SMS com a Fundação de Apoio ao Hospital das Clínicas (Fundahc) foi o protagonista da operação. A investigação do Ministério Público de Goiás aponta que os três teriam atuado em um esquema para desviar recursos públicos em benefício deles próprios e de terceiros por meio de ingerência na gestão financeira da fundação.
Inicialmente, Pollara, Quesede e Bruno ficariam presos até 1º de dezembro. Entretanto, após a Justiça acatar um pedido do MP-GO , a prisão temporária foi estendida por mais cinco dias e eles foram liberados no último dia 7 de dezembro.
Colaborou: Tariq Augusto e Gabriela Macêdo
Notas
Secretaria Municipal de Saúde (SMS)
"A Secretaria Municipal de Saúde (SMS) esclarece que cumprirá com todas as determinações judiciais e colabora com o fornecimento de informações e documentos necessários para garantir que todos os procedimentos sejam devidamente esclarecidos, reforçando a integridade do serviço público.
Secretaria Municipal de Saúde (SMS)"
Prefeitura de Goiânia
"A Prefeitura de Goiânia informa que está colaborando com as investigações da Polícia Civil de Goiás no âmbito da operação Speedy Cash.
A administração municipal destaca compromisso com a transparência e a lisura na gestão pública, assegurando que todas as informações e documentos solicitados serão e estão sendo fornecidos para esclarecer os fatos.
Caberá ao interventor adotar todas as medidas administrativas cabíveis conforme o andamento das investigações.
Prefeitura de Goiânia"
Defesa Pollara
"A defesa se manifestará oportunamente nos autos, tão logo tenha acesso à integra do processo. Att. Márcio M. Cunha"