Números preocupam a SES-GO, que intensificou ações de combate ao mosquito. Circulação do sorotipo 3 é motivo de atenção
Nas primeiras oito semanas epidemiológicas de 2025, a Secretaria de Estado da Saúde (SES-GO) recebeu a notificação de 36 mortes por dengue, das quais cinco foram confirmadas e as demais estão sob investigação. Os casos se concentram na região Centro-Oeste de Goiás e o ressurgimento do sorotipo 3 da doença no Brasil após 17 anos acendeu um alerta nas autoridades. Os números fizeram a Saúde intensificar as ações de combate ao mosquito Aedes aegypti em todo o Estado e investir na capacitação de servidores.
Superintendente de Vigilância em Saúde da SES-GO, Flúvia Amorim explica que o decreto de emergência em razão da dengue em Goiânia no início de janeiro ocorreu em razão da falta de assistência naquele momento que estava lotando as unidades de saúde da capital. Nesta quinta-feira (20), dos 246 municípios goianos, 53 estavam em situação de emergência por causa da dengue, o que significa uma taxa de incidência de dengue por quatro semanas consecutivas ou mais acima do limite esperado para o período. Com isso, equipes da pasta estadual da Saúde têm reforçado as ações de combate à doenças nessas localidades.
Flúvia Amorim ressalta que a SES-GO tem investido em capacitação -- já ocorreram quatro neste ano -- exatamente pelo momento de mudança nas administrações municipais. "Muitas vezes as equipes são novas, com recém-formados assumindo as unidades, e, como não estão preparadas para atender casos de dengue, acabam encaminhando os pacientes para unidades com maior suporte." Nos últimos dois meses, o maior número de internações por dengue foi registrado em Goiânia (155), Aparecida de Goiânia (129), Itapaci (49), Nerópolis (36), Mozarlândia (21) e Goiás (21). "Quando há muitos casos no ano anterior, a tendência é não se repetir esse quadro no ano seguinte, por isso estamos analisando essas internações.
O decreto de emergência esta semana no Estado de São Paulo -- onde se registrou até o momento 113 mortes -- acendeu o alerta também aqui. Flúvia Amorim explica que desde setembro o governo paulista vinha monitorando os casos provocados pelo sorotipo 3. "Quando tem uma inversão do sorotipo -- e lá isso ocorre há dois anos seguidos -- há um grande risco de epidemia. A dengue possui quatro sorotipos e, quando alguém contrai a doença, fica imune a um deles. No caso do tipo 3, ele estava desaparecido no Brasil desde 2008 e agora ressurgiu em alguns pontos do País, aumentando a preocupação das autoridades porque grande parte dos brasileiros não é imune a ele."
Em Goiás, entre 2024 e 2025, o sorotipo 3 foi detectado em Jataí, Rio Verde, Cumari e Goiatuba. "Estamos monitorando, mas acreditamos que ele estará mais presente no próximo período (2025/2026)", afirma Flúvia Amorim. Embora seja esse o quadro em relação ao sorotipo 3 e o número de casos tenha tido uma redução de 75% em relação ao mesmo período de 2024 (oito semanas epidemiológicas), a superintendente enfatiza que a situação é preocupante. Até o momento, a SES-GO recebeu a notificação de 26.063 casos da doença, dos quais 12.688 foram confirmados.
A primeira morte pela doença confirmada em Goiás foi a da professora Damiana Gonçalves, de 58 anos. Ela morava em Heitoraí, no Centro do Estado. Damiana começou a apresentar os primeiros sintomas de dengue no final de dezembro. "Levei ela para tomar soro no hospital duas vezes", lembra o viúvo Divino de Carvalho, de 61 anos. Cerca de uma semana após o início dos sintomas, o quadro da professora se complicou e ela precisou ser hospitalizada. "As plaquetas caíram e ela teve alteração na pressão", narra Divino. Em 4 de janeiro deste ano, um dia após ter ido para o hospital, Damiana não resistiu e morreu. A morte foi confirmada pela SES-GO no final de janeiro.
A perda da esposa deixou um vazio na vida de Divino. Juntos, eles tinham dois filhos. "Agora que está caindo a ficha", emociona-se. Divino conta que Damiana era uma mulher ativa. "Sempre trabalhando. Mais recentemente, se preparava para a aposentadoria", conta. Apesar da dor, o homem celebra o fato de que, em outubro passado, Damiana conseguiu comemorar o aniversário de um ano da neta, Rebeca. "Ela mora em Londres e veio, junto com a mãe, passar um tempo aqui. Minha mulher era muito apegada a ela", recorda.
Medidas
A SES-GO está distribuindo bombas costais aos municípios, inseticidas, medicamentos para hidratação e controle do quadro febril. As capacitações para profissionais da saúde envolvem o manejo clínico adequado de pacientes com arboviroses. Uma nova série de capacitações começou no final de janeiro e vai até abril. Como fez em 2024, a pasta enviará aos municípios materiais de suporte, como cartão de acompanhamento do paciente e fluxograma de manejo clínico da dengue. A secretaria ainda criou um canal para matriciamento dos casos de dengue, para tirar dúvidas dos profissionais que estão em contato direto com os pacientes nas unidades.
Em parceria com a Defesa Civil, em janeiro a SES-GO reativou a Sala de Situação de Arboviroses. O objetivo é unir esforços para avaliar e redirecionar as estratégias de combate ao mosquito Aedes aegypti, vetor de doenças como dengue, zika e chikungunya, e agilizar ações como o encaminhamento de materiais, regulação de pacientes e apoio técnico aos municípios.

Goiânia já tem quase 3 mil casos da doença
Goiânia já conta com 2.899 casos confirmados de dengue. Quando considerados os casos notificados, o número sobe para 4.305. As informações são do boletim epidemiológico divulgado pela Secretaria Municipal de Saúde de Goiânia (SMS) nesta quinta-feira (20) sobre o cenário epidemiológico de arboviroses no município. Apesar de contar com óbitos em investigação, a capital ainda não registrou nenhuma morte pela doença.
A região com a maior proporção é a Noroeste. O índice de casos de dengue no distrito chega a 294,3 a cada 100 mil habitantes. A região Sudoeste fica em segundo lugar, com 286,7 casos a cada 100 mil habitantes, seguida pela região Sul, com 279,5 casos a cada 100 mil habitantes. A menor quantidade de registros é encontrada na região Oeste, com 180,3 casos a cada 100 mil habitantes.
Vacinação
Um desafio da administração pública ainda tem sido a vacinação das crianças e adolescentes de 6 a 16 anos. De acordo com dados da Diretoria de Vigilância Epidemiológica da SMS, 69.713 doses da vacina foram aplicadas em Goiânia. "Cerca de 26% das pessoas na faixa etária apta a se vacinar receberam a primeira dose, mas a cobertura da segunda dose é de apenas 8,5% do total de pessoas que podem receber a vacina", explica Murilo Reis, diretor de Vigilância Epidemiológica da capital. "O esquema vacinal incompleto impede a eficácia plena da vacina, deixando a criança vulnerável à doença."
A vacina contra a dengue em Goiânia é ofertada nas seguintes unidades de saúde: Ciams Urias Magalhães, CS Vila Boa, CSF São Judas Tadeu, CSF Guanabara I, CS Cândida de Morais, CSF Jardim Curitiba I, CSF Jardim Primavera, CSF São Carlos, CS Chácara do Governador, CS Jardim Novo Mundo, CSF Riviera, CSF Parque Atheneu, CSF Recanto das Minas Gerais, CSF Ville de France, CS Goiá, CSF Eldorado Oeste, CSF Jardim Cerrado IV, CSF São Francisco, CSF Vera Cruz II, CS Cidade Jardim, CS Esplanada dos Anicuns, CSF Vila Santa Helena, Faculdade de Nutrição da Universidade Federal de Goiás (UFG).
Chikungunya
Ainda conforme o boletim epidemiológico mais recente da SMS, Goiânia registrou 12 casos confirmados e 30 notificados de febre chikungunya, doença que também é transmitida pelo Aedes aegypti e possui sintomas parecidos com a dengue, mas diferencia-se pela apresentação de dores intensas nas articulações.
Secretaria de Saúde deverá levar armadilhas para todas as cidades
Em funcionamento piloto em dez municípios, o Projeto de Armadilhas de Oviposição (ovitrampas) implantado pela Secretaria de Estado da Saúde (SES-GO), será levado para todas as localidades goianas. As armadilhas simulam condições ideais para que o mosquito da dengue deposite seus ovos. Presos numa palheta de madeira, semanalmente são retirados por agentes de endemias e enviados para análise no Laboratório Estadual de Saúde Pública Dr. Giovanni Cysneiros (Lacen-GO).
A estratégia tem duas funções: auxilia no monitoramento da infestação pelo Aedes aegypti na região onde foi instalada a armadilha, a partir da contagem dos ovos; e os exames no Lacen-GO permitem descobrir qual o sorotipo da dengue está circulando no local.
Superintendente de Vigilância em Saúde da SES-GO, Flúvia Amorim reforça que as mudanças climáticas têm interferido muito nas ocorrências de doenças transmitidas por vetores como a dengue, zika e chikungunya. "Se o período de chuvas for prolongado juntamente com as temperaturas altas podemos ter um tempo maior de transmissão."