Tinta contra dengue está parada em depósito
23,6 mil litros de produto inseticida estão parados no almoxarifado da pasta. Secretaria promete fiscalizar aplicação e eficácia do produto
Mariana Carneiro
29 de janeiro de 2025 às 06:29

Latas de tinta de combate ao mosquito <FI10>Aedes aegypti estão no almoxarifado da Secretaria Municipal de Saúde, na Vila João Vaz: pasta diz que vai avaliar eficácia do produto (Márcio Leijoto)
A Secretaria Municipal de Saúde (SMS) de Goiânia tem 23,6 mil litros de tinta inseticida, comprada para combater o mosquito da dengue, parados no almoxarifado da pasta. Em abril de 2024, a secretaria adquiriu 48 mil litros do produto por R$ 21,3 milhões, mas só metade do produto foi utilizada até o final do ano passado. A nova gestão da SMS afirma que aguarda a empresa responsável enviar um cronograma de aplicação do produto para assegurar a utilização de todo o estoque antes da data de vencimento, entre novembro e dezembro de 2025, e que o uso da tinta será supervisionado pela pasta para avaliação técnica da eficácia do produto.
A aquisição da tinta foi publicada na edição do Diário Oficial do Município (DOM) do dia 12 de abril de 2024. Na época, a SMS era comandada pelo médico Wilson Pollara. Foram adquiridas 12 mil latas por R$ 21,3 milhões da empresa Saúde Mais, de Brasília. Cada lata custou R$ 1,7 mil. De acordo com o portal da transparência da Prefeitura de Goiânia, os pagamentos ocorreram em junho (R$ 5,3 milhões) e julho (R$ 15,9 milhões) do ano passado. A SMS explicou que, além do fornecimento da tinta, a aplicação do produto também é de responsabilidade da empresa.
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De acordo com a SMS, de abril a dezembro de 2024, a Saúde Mais solicitou e retirou no almoxarifado da pasta 24,3 mil litros da tinta que, conforme relatório de execução apresentado pela empresa à gestão anterior, foram utilizados para pintura de paredes e muros de 101 unidades de saúde na capital, totalizando 145,8 mil metros de área com aplicação do produto.
Produto
Em nota, a atual gestão da SMS afirmou que a aquisição do produto foi feita pela administração anterior "com a alegação de que o produto auxilia no controle de vetores". Especialistas consultados pela reportagem preferiram não comentar sobre a eficácia do produto por não conhecê-lo, mas disseram que é importante que o poder público tenha certeza da eficácia científica de um produto antes de adquiri-lo.
Em março de 2024, uma resolução da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) definiu que tintas e vernizes para uso imobiliário que tenham ação saneante deverão ter registro na agência. A medida vale para produtos formulados com substâncias de ação antimicrobiana ou desinfetante (inseticida/repelente). Além de definir os critérios para a comprovação da eficácia dos produtos e como solicitar o registro, a norma traz as regras para rotulagem, embalagens e venda desses produtos.
Conforme a Resolução-RE nº 3.370, de 12 de setembro de 2024, a Carbapaint 10 (leia mais ao lado), tinta inseticida adquirida pela SMS em 2024, teve o registro como produto saneante indeferido pela Anvisa. A reportagem questionou a agência sobre a situação atual do registro do produto da empresa Inesfly Brasil, de Brasília, mas ainda não obteve resposta. A reportagem procurou, por meio de ligação telefônica, a Inesfly Brasil, para comentar sobre a eficácia e o registro do produto, e a Saúde Mais, para falar sobre a aplicação da tinta, mas não obteve sucesso. O espaço segue aberto.
Emergência
Diante do cenário epidemiológico da dengue em Goiânia, o governo federal reconheceu situação de emergência em saúde pública, causada pela epidemia de doenças infecciosas virais transmitidas pelo Aedes aegypti. Com isso, a capital terá prioridade em recursos e assistência do Ministério da Saúde. O estado de emergência na saúde municipal foi decretado em 2 de janeiro, logo após a posse do prefeito Sandro Mabel (UB).
De acordo com o Painel de Monitoramento das Arboviroses da Secretaria Estadual de Saúde (SES-GO), a capital já registrou 1,6 mil casos notificados e possui quatro mortes em investigação. Goiás já registrou uma morte por dengue no Estado em 2025. O caso ocorreu em Heitoraí, no Centro goiano. Outras seis mortes, incluindo as quatro de Goiânia, estão em investigação.
A dengue tem sido um ponto de alerta porque o sorotipo 3 da doença voltou a circular em Goiás depois de anos com predominância dos sorotipos 1 e 2. "Já foi identificado esse sorotipo 3 em três cidades: Anápolis, Goiatuba e Rio Verde", alertou o governador Ronaldo Caiado (UB) no dia 17 de janeiro, ocasião em que repassou orientações aos municípios goianos relacionadas à prevenção de doenças em decorrência das enchentes. O período do ano com maior transmissão da doença ocorre nos meses mais chuvosos porque o mosquito que é o vetor da doença, o Aedes aegypti, se reproduz na água parada.