Abandono nos cemitérios se agrava
Os quatro espaços municipais têm mato alto, furto de placas e túmulos danificados, além de problemas estruturais nos prédios. Prefeitura planeja reforma geral, mas não diz datas
Gabriella Braga
27 de março de 2025 às 07:15

Maior cemitério municipal de Goiânia, o Parque, no Setor Gentil Meireles, está em situação de abandono (Diomício Gomes / O Popular)
Mato alto, túmulos quebrados, furto de placas para lápides, além de infiltrações e vidros quebrados nos prédios são problemas comuns nos quatro cemitérios municipais de Goiânia. No Cemitério Municipal Parque de Goiânia, localizado no setor Gentil Meireles, a exemplo, a construção de parte do muro ainda não foi finalizada e, sem vigia noturno, o ponto se torna um atrativo para usuários de drogas e depredação de túmulos. A insegurança também é relatada nos cemitérios Santana, Vale da Paz e Jardim da Saudade.
A reportagem esteve nos quatro cemitérios municipais entre esta terça-feira (25) e quarta-feira (26) e observou um cenário semelhante em todos eles. Inaugurado na década de 1940 no Setor Campinas e com figuras importantes da história do Estado enterradas, o Cemitério Municipal Santana é o mais antigo da capital e foi tombado no início dos anos 2000. Mesmo assim, sofre descaso. A entrada do local até dá um ar de arrumado, mas é só andar um pouco mais adentro que já se vê mato alto que dificulta o acesso a túmulos.
A maior parte dos jazigos tinham vidros quebrados e havia lixo deixado em cima de túmulos. Funcionários do local relataram que, durante a noite, ocorrem furtos das placas que contam com o nome e a data de nascimento e falecimento do enterrado. O crime seria cometido por usuários de drogas, que também utilizam o local para uso de entorpecentes. Durante a visita da reportagem na tarde de terça-feira, pessoas em situação de rua tomavam 'banho' nas torneiras do cemitério. E a prática é vista como comum para quem trabalha no local.
Responsável pelo serviço nos cemitérios, a Companhia de Urbanização de Goiânia (Comurg) divulgou no fim de janeiro que estava concluindo a limpeza em todos os quatro, com varrição, roçagem, rastelação e remoção de resíduos. Passados quase dois meses, o mato já volta a crescer, não apenas no Santana, mas também nos demais. O único que não conta com mato alto é o Vale da Paz, situado às margens da GO-020. No local, a roçagem foi feita no início de março, mas mas a vegetação morta não foi retirada do cemitério.
O espaço também tem alguns problemas na estrutura do prédio onde fica o administrativo e sala para velório. Ali, há portas danificadas e, ao menos nas torneiras dos banheiros, não havia água. E os danos estruturais também ocorrem no Cemitério Jardim da Saudade, no setor Parque dos Buritis, próximo à GO-060, na saída para Trindade. A sala de velório tem infiltrações evidentes e funcionários dizem que os bancos de cimento foram construídos por eles mesmo, já que não havia pontos para que as pessoas sentassem. Um vidro também está quebrado há mais de um ano e servidores improvisaram com um tapume no local.
O cemitério, que não conta com túmulos característicos, como no Santana e Parque, sofre ainda mais com mato alto, já que ele avança por cima das lápides e impede que os visitantes vejam, por vezes, o local onde seus entes queridos foram enterrados. Servidores também citam que a última roçagem ocorreu em janeiro. Além disso, alguns dos túmulos localizados na parte mais adentro do espaço estão cedendo.

Mato esconte túmulos no Cemitério Santana, em Campinas (Gabriella Braga)
Reformas
A administração dos cemitérios, antes realizada pela Secretaria Municipal de Desenvolvimento Humano e Social (Sedhs), foi repassada neste ano à recém-criada Secretaria Municipal de Gestão de Negócios e Parcerias (Segen). Em nota, a pasta diz que "está viabilizando uma reforma geral" nos quatro, mas sem citar datas. "A última intervenção ocorreu na véspera do Dia de Finados de 2024, porém, tratou-se apenas de ações paliativas, sem impacto real na melhoria da infraestrutura, evidenciando a necessidade urgente de uma reforma ampla e definitiva."
Diz ainda que a segurança nos locais é realizada "por meio de rondas periódicas da Guarda Civil Metropolitana (GCM), além do monitoramento e atuação das forças de segurança pública quando acionadas". "A fiscalização para coibir furtos e outras ocorrências é feita por essas rondas e pelo acompanhamento da administração municipal", complementa. Já sobre os túmulos e jazigos danificados, alega que a responsabilidade da reforma e da manutenção é das famílias dos enterrados.
A Comurg alega que "realiza a limpeza periódica e a conservação" dos cemitérios, e que "as atividades são realizadas simultaneamente, especialmente nesta época do ano, quando aumentam as chuvas e o crescimento do mato". Garante que "há menos de 20 dias foi realizada a limpeza em todos os cemitérios", diferentemente do que é relatados por funcionáris de três dos quatro cemitérios. Diz ainda que fará na próxima semana, o serviço de "roçagem, capina, remoção de entulho e lixo, além da conservação das áreas".

Situação é crítica no Cemitério Municipal Jardim da Saudade (Wildes Barbosa / O Popular)
Obra inacabada
Iniciada em outubro de 2022, a reforma do Cemitério Parque foi interrompida com apenas metade concluída. Parte do muro está inacabado e servidores alegam que a intervenção no prédio onde fica a administração foi mínimo. A Comurg diz que recebeu apenas 50% do contrato firmado junto à antiga Sedhs, no total de R$ 5,8 milhões, e que o mesmo "venceu na gestão anterior sem conclusão de pagamento."
A Prefeitura diz que estuda "firmar um termo de cooperação para viabilizar a reforma do muro do Parque". A conclusão "ainda depende de planejamento técnico detalhado, pois foi identificado que alguns jazigos estão localizados na linha do muro, exigindo a realocação das estruturas para outra área dentro do próprio cemitério."