Comércio registra falta de peixes, que ficam caros
Período da piracema e a forte seca na Amazônia em 2024 são apontados como motivos da escassez; Quaresma faz procura aumentar
Lucia Monteiro
18 de março de 2025 às 06:59

Maiara Souza, gerente da Peixaria Pescados & Cia: espécies como pintado são ainda mais procuradas na Quaresma (Wesley Costa / O Popular)
Muitas peixarias de Goiânia estão enfrentando a escassez de alguns peixes de rio justamente durante este período da Quaresma, quando as vendas aumentam até 30% em relação aos demais meses do ano. A movimentação em busca de pescados já aumentou em praticamente todos os estabelecimentos da capital, mas a falta de algumas espécies tem preocupado as empresas e feito os preços de alguns peixes subirem acima do esperado no mercado.
Entre os motivos, estão a forte seca nos rios da Amazônia em 2024, que desabasteceu muitos distribuidores, e até o período da piracema ou de defeso, que, neste ano, se estendeu até o último dia 28 de fevereiro, quando a pesca foi liberada. Isso acabou atrasando o início do período de pesca para o mês de março, quando a Quaresma já havia começado.
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A assistente administrativa da Nova Peixaria, no setor Leste Vila Nova, Adriana Rocha da Silva, informa que, geralmente quando começa o período da Quaresma, o movimento cresce de 30% a 50% em relação aos dias normais. "Neste ano, o movimento já aumentou desde a Quarta-feira de Cinzas, quando já notamos um aumento na procura pelos peixes", conta. Espécies como pintado e caranha, além dos filés de tilápia e de salmão estão entre os mais procurados pelos clientes que seguem a tradição religiosa.
Porém, neste ano, estão faltando muitos peixes, principalmente as espécies com escamas, como tucunaré, traíra e piau. Por conta disso, segundo Adriana, os preços subiram de 20% a 30% em relação ao ano passado.
"Esse é o período de pesca fechada e trazemos muitos peixes da região amazônica, onde a forte seca prejudicou muito a oferta no ano passado. Hoje, cada remessa que chega, vem com um novo aumento", explica.
Rodrigo de Souza Katu, proprietário Peixaria do Japão, na Cidade Jardim, também confirma que muitos peixes estão em falta neste ano, principalmente os nativos de rios, como o pintado, pirarara, jaú, piau e tucunaré, que estão mais difíceis de encontrar devido ao fato do final do período da piracema ter coincidido com o início da Quaresma. "A pesca foi liberada há pouco tempo, em 28 de fevereiro, e ainda não deu tempo dos peixes chegarem. Por isso, estamos correndo atrás agora, mas está faltando e estamos perdendo venda", lamenta o empresário.
O resultado disso, segundo ele, tem sido um aumento de R$ 1 a R$ 3 no preço do quilo do pescado. Mas peixes de cativeiro, como filé da tilápia, tambaqui e pintado, também ficaram mais caros. "Mesmo assim, acho que ainda estão mais acessíveis em comparação à carne bovina, por exemplo", ressalta Rodrigo Katu.
Semana Santa
Ele conta que o movimento de clientes já aumentou de 20% a 30%, por isso está sendo necessário buscar mais peixes no mercado. "Até a Semana Santa a oferta deve normalizar, mas os preços devem continuar mais altos", prevê. O quilo das postas de pintado, por exemplo, que no ano passado custava entre R$ 42 a R$ 43, neste ano já está sendo vendido por R$ 53 e deve subir ainda mais até a Semana Santa, chegando a cerca de R$ 55 reais.
Na Peixaria do Gordo, no Centro de Goiânia, a procura pelos pescados já aumentou cerca de 15%. O vendedor Túlio Medeiros informa que os peixes mais procurados são o pintado, filé de tilápia e tambaqui. Ele também reforça que os preços não subiram por conta do início da Quaresma, mas por causa da falta do produto no mercado. "Um dos motivos foi o fato da piracema ter coincidido com a Quaresma neste ano. Não está tendo peixe no mercado, como tucunaré e piau", destaca.
Medeiros conta que a peixaria não está recebendo nem metade dos pedidos que faz para as distribuidoras. "Se pedimos mil quilos de pintado, só chegam 200 ou 300 quilos. A seca na Amazônia ainda não conseguiu recuperar os estoques das distribuidoras. O que chega no frigorífico já sai bem rápido", garante.
Ele acha difícil a oferta se normalizar até a Semana Santa, o que vai depender muito do desempenho da produção de peixes nos cativeiros. "Os peixes de rio dependem da natureza e só agora os pescadores estão saindo pra pescar, apesar de estarem trabalhando dobrado. Estamos nos esforçando para não faltar", garante.
Maiara Souza, gerente da peixaria Pescados & Cia, no setor Bela Vista, diz que a empresa tem conseguindo segurar os preços em relação ao ano passado. "As vendas aumentam 30% neste período e os católicos são os que mais consomem, mas temos clientes que compram o ano todo", destaca. Ela informa que as vendas começaram a crescer ainda na segunda-feira de carnaval, pois muita gente resolve estocar com medo das altas de preços.
Os mais procurados são tilápia, pintado e até bacalhau, caranha e tambaqui. "Esta é uma época em que reforçamos o estoque e trabalhamos com promoções diferentes todas as semanas para incentivar o consumo", comenta a gerente. Entre as promoções, ela dá o exemplo do bacalhau do Porto, que está sendo vendido por R$ 140, enquanto o quilo do peixe tipo bacalhau Saithe sai por R$ 79,90.
No Armazém do Pescado, no setor Bueno, o proprietário Rogério Naves conta que desde a Quarta-feira de Cinzas já houve um acréscimo natural das vendas, que aumentaram de 15% a 20%, apesar do grande movimento ser esperado mesmo para a Semana Santa. "Estamos com bom estoque neste ano. Os mais procurados por nossos clientes são bacalhau e salmão, além de tilápia, pintado e robalo, que estão com oferta regular", garante.
Porém, os preços estão maiores que no ano passado e até podem subir um pouco mais nos próximos dias. Naves conta que o bacalhau do Porto já teve uma alta de cerca de 20%. "Nossa clientela é mais de público A e as vendas continuam boas para este período. Esperamos vender mais que na Páscoa do ano passado porque, a cada ano, as pessoas comem mais peixe", destaca o empresário.