Mesmo com a determinação da Prefeitura de Goiânia para que gradualmente todos os trabalhadores da Feira Hippie voltassem a montar as bancas dentro da Praça do Trabalhador a partir deste fim de semana, neste sábado e domingo a feira aconteceu com a mesma configuração que já estava no último mês. Os feirantes justificam a permanência fora da praça pelas condições estruturais do local, que ainda está em obras, e por um possível impacto negativo no volume de vendas.A volta dos feirantes para a Praça do Trabalhador ocorre após a Prefeitura iniciar intervenções estruturais na Rua 44. Os comerciantes que estavam com bancas na rua foram realocados para dentro da praça. Porém, nos dias 8 e 9 de outubro, houve uma confusão motivada pela disputa entre feirantes regulares e irregulares por qual espaço cada um iria ocupar na praça. Então, nos dias 15 e 16, a Sedec promoveu uma votação entre os feirantes. O retorno para a praça, mesmo com ela ainda em obras, venceu por 794 votos a favor, contra 626 votos pela permanência na localização improvisada até o fim de 2022.O feirante Antônio Pires, que trabalha na feira há 20 anos e tem uma banca de calças masculinas voltada para a Avenida Independência, afirma que profissionais chegaram a iniciar a montagem da banca dele dentro da Praça do Trabalhador neste fim de semana, porém ele impediu que dessem continuidade. “Não vou para lá agora. Vai afetar muito as minhas vendas, pois meus clientes não vão saber onde eu estou. O momento em que conseguimos ganhar algum dinheiro é neste final de ano, até o início de dezembro.”A feirante Marilza da Silva, de 61 anos, compartilha da mesma opinião. Ela vende sapatos na Feira Hippie há cerca de 20 anos e essa é sua única fonte de sustento. “Na praça, minha banca fica virada para a Avenida Goiás. Ali está a pura terra. Quando chove, vira lama. Eu tenho uma banca de sapatos. Como vou fazer para meu cliente experimentar meu produto? Que cliente vai querer ir lá comprar alguma coisa de mim nessas condições?”A reforma da Praça do Trabalhador, que é conduzida pela Companhia de Urbanização de Goiânia (Comurg), tem previsão de término em dezembro de 2022. À reportagem, o titular da Secretaria de Desenvolvimento e Economia Criativa (Sedec), Silvio Sousa, havia relato que a praça passaria por adaptações para receber os feirantes. Uma delas era justamente a acomodação de brita no lado da praça voltado para a Avenida Goiás para que os feirantes pudessem ocupá-lo com mais conforto. Entretanto, a reportagem esteve no local neste sábado (29) e isso ainda não tinha sido feito.SorteioNo dia 19 de outubro, após uma reunião com feirantes, o titular da Sedec informou que o local onde cada banca ficaria posicionada na praça seria decidido por um sorteio. Entretanto, os comerciantes se mostraram insatisfeitos com a decisão. No dia 21, a Sedec cancelou o sorteio. Em reunião do grupo de trabalho que trata do assunto, ficou decidido que os feirantes vão se organizar espacialmente da mesma maneira que faziam antes do início da reforma da praça, em 2019, utilizando o mapa histórico.Entretanto, o assunto ainda é motivo de polêmica entre os feirantes. Aqueles que têm bancas viradas para a Rua 44 consideram o local privilegiado e não querem deixá-lo. Adair Botelho, de 47 anos, tem uma banca de camisetas masculinas na Feira Hippie. Desde 2004, ele trabalha na parte da praça próxima a Rua 44. “Acho injusto me tirarem daqui. É um ponto bom, com movimento. Estou aqui há quase 20 anos. Pago minhas contribuições. Do nada, vão me jogar lá para trás?”Já a feirante Gleides Pinheiro, 58 anos, considera que o sorteio seria a forma mais justa de reposicionar os trabalhadores dentro da Praça do Trabalhador. “As pessoas não podem querer sair na vantagem sempre”, aponta. Atualmente, a banca de roupas femininas de Gleides fica no trecho entre as avenidas Independência e Leste Oeste. “Se for para ir para um lugar ruim lá dentro da praça, eu prefiro ficar aqui, onde estou conseguindo fazer boas vendas”, desabafa.No dia 21 deste mês, o presidente da Associação dos Feirantes da Feira Hippie, Waldivino da Silva, contou ao POPULAR que a maioria dos feirantes estavam satisfeitos com a decisão de utilizar o mapa histórico para definir os locais onde cada feirante será posicionado dentro da Praça do Trabalhador.Mudança total até meio de novembroA Secretaria de Desenvolvimento e Economia Criativa (Sedec) afirma que a mudança completa dos trabalhadores da Feira Hippie para dentro da Praça do Trabalhador deverá acontecer até meados de novembro. “Está tudo dentro do cronograma. Estamos monitorando tudo junto com as associações, feirantes e montadores. Até meados de novembro a gente entende que tudo vai estar funcionando normalmente dentro da praça”, diz Silvio Sousa, titular da pasta.No dia 21, o secretário já havia relatado à reportagem que a mudança deveria ser iniciada neste final de semana, mas que ela ocorreria de forma gradual pois alguns montadores pediram mais tempo do que uma semana para fazer a mudança. Na ocasião, ele pontuou que a padronização das bancas será feita de forma gradual.Sousa destaca que, ao final da transição, a feira estará organizada por ruas e blocos que irão formar corredores mais amplos para o trânsito de pedestres. No novo projeto arquitetônico, a feira contará com 13 blocos de 15 bancas cada. Ao todo, a feira terá cerca de 3,7 mil bancas. Segundo a Sedec, a feira conta com 2,8 mil feirantes, entre regulares e irregulares.