Processo foi iniciado na quinta e deve ser concluído em até quatro meses. Expectativa, no entanto, é de que campo esteja liberado para as Cavalhadas 2025
A demolição do Cavalhódromo localizado no Centro Histórico de Pirenópolis, iniciada com a remoção da Torre Moura, é prometida para ser concluída em até quatro meses, mas ainda a tempo da realização da tradicional Cavalhadas do município, em junho. O custo total da operação será de R$ 2,5 milhões. Ao mesmo tempo, o projeto para reconstrução do espaço ainda não foi finalizado e, portanto, segue sem prazo de início e com orçamento indefinido.
Inaugurado em 2006, o Cavalhódromo de Pirenópolis foi utilizado por anos para a realização das Cavalhadas, em meio à tradicional Festa do Divino Espírito Santo, registrada como patrimônio cultural e imaterial brasileiro, para os campeonatos esportivos e treinos da escola de futebol do município, e na promoção de eventos culturais e artísticos. A construção em uma área de 6,9 mil metros quadrados contava com arquibancadas, vestiários, cabines de rádio e televisão, camarotes, salas, sanitários, além das duas torres símbolo da batalha entre os mouros e os cristãos.
A partir de agosto de 2019, o Ministério Público do Estado de Goiás (MP-GO) começou a receber informações de problemas estruturais. Em meio a tratativas extrajudiciais, foi buscada uma solução junto ao governo estadual. Ainda à época, um laudo da Companhia de Desenvolvimento Econômico de Goiás (Codego) demonstrava os danos, como colunas com ferragem exposta, parte do concreto caído, além de rachaduras e infiltrações. Em maio de 2022, o órgão ministerial ingressou com uma ação civil pública cobrando medidas efetivas de restauro. Em janeiro daquele ano, o Corpo de Bombeiros Militar do Estado de Goiás (CBM-GO) havia feito uma vistoria no local e constatado o colapso estrutural das arquibancadas e passarelas, determinando a interdição parcial. O gramado continuou sendo utilizado.
No ano seguinte, as Cavalhadas que não eram realizadas desde 2020, diante da pandemia da Covid-19, foi promovida no espaço. O POPULAR mostrou à época que a arena passava por um projeto de adequação e que a obra, de caráter provisório, teria sido iniciada com a remoção das rampas, passarelas e escadarias comprometidas. Foi naquele ano que todo o espaço foi interditado judicialmente e, no ano seguinte, a encenação aconteceu em um local improvisado, no Módulo Esportivo de Pirenópolis, longe do Centro Histórico. A expectativa é que neste ano ela seja realizada no Cavalhódromo, que, com a construção removida, terá apenas o gramado com a estrutura modular.
Mesmo com a demolição já prevista, a remoção da Torre Moura e da arquibancada menor, iniciada nesta quinta-feira (27), causou comoção à população pirenopolina, conforme o POPULAR mostrou na data, principalmente por conta do símbolo da batalha dos mouros e cristãos. A torre demolida contava com 13 metros de altura e 8 de largura. Já a arquibancada menor, com três degraus e revestida por pedra natural, alcançava um espaço de 115 metros.
Já a Torre Cristã, explica a Secretaria de Estado da Infraestrutura (Seinfra), deve ser desabada na próxima semana. A ordem de serviço à Magalhães Demolição Ltda, vencedora da licitação realizada em dezembro passado, foi emitida no dia 19 de fevereiro com prazo de execução de quatro meses. A expectativa, contudo, é que seja concluída antes do prazo, "desde que as desocupações necessárias ocorram de forma ágil."

Mesmo com a demolição já prevista, a remoção da Torre Moura e da arquibancada menor, iniciada na quinta-feira, causou comoção aos pirenopolinos (Diomício Gomes / O Popular)
Indenização
O custo total do contrato é de R$ 2.499.968,25, e conforme a pasta, o valor é "impactado principalmente pela mobilização e desmobilização de maquinários, demolição da arquibancada principal e, sobretudo, pelo transporte do grande volume de entulho para um local apropriado, onde será reciclado". Parte do montante será destinado à indenização de famílias que residem ao fundo da arquibancada principal. O valor corresponde a aluguel e um fundo para eventuais danos causados às estruturas das casas, já que, conforme o plano de demolição feito pela Seinfra, estão situadas em área de alto risco. São cerca de 16 imóveis nesta condição. Ao todo, variando de alto a baixo risco, foram contabilizados aproximadamente 70 imóveis ao redor da área de intervenção. Conforme o MP-GO, o acordo já está praticamente concluído com os moradores de imóveis de alto risco. Falta apenas a assinatura e o repasse do recurso que ficará sob juízo, para garantir o repasse à vizinhança afetada.
Ainda segundo a Seinfra, "foram elaborados laudos cautelares de vizinhança para todos os imóveis ao redor do Cavalhódromo, incluindo os comércios." "Em determinada etapa da obra, será necessária a desocupação de áreas específicas. Toda a negociação foi conduzida diretamente com os moradores, com a participação do MP-GO. Já há um acordo de indenização aceito pelos moradores, e os pagamentos serão realizados por meio de um processo vinculado a uma ação civil pública instaurada" pelo órgão ministerial, complementa a pasta.
Nova proposta ainda não foi concluído e encontra resistência
O novo projeto para construção do novo Cavalhódromo de Pirenópolis ainda não foi concluído e, conforme a Secretaria de Estado da Cultura de Goiás (Secult), segue em desenvolvimento com 82% finalizado. O que falta, ainda, é o aceite do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) "por conta da Portaria nº 02/1995". Tal documento trata sobre a proteção do conjunto arquitetônico urbanístico, paisagístico e histórico da cidade, que foi tombado em 1990. Desta forma, a autarquia precisa conceder licenciamento para intervenções dentro da área.
"O processo de aprovação pelo Iphan está em andamento. A reconstrução do Cavalhódromo será iniciada apenas após a obtenção de todas as aprovações necessárias, incluindo" a do instituto, aponta a pasta. O projeto que ainda precisa ser finalizado será, após concluído, submetido à licitação. Em seguida, serão iniciadas as obras sob gerência da Secretaria de Estado de Infraestrutura (Seinfra). Desta forma, segue sem prazo para início definido, e também sem orçamento detalhado. Vale lembrar que em outubro de 2023, o governador Ronaldo Caiado (UB) anunciou R$ 30 milhões para a reforma.
O POPULAR questionou sobre as reclamações proferidas pelas associações esportiva e das Cavalhadas, que apontam a inviabilidade do projeto para as Cavalhadas e para os campeonatos esportivos. A Secult diz que "em nenhum momento há inviabilidade em atender às necessidades básicas do espaço". Alega ainda que o "projeto está sendo elaborado para atender" às normas do Corpo de Bombeiros Militar de Goiás (CBM-GO), do Iphan, da prefeitura e das atividades da Associação Atlética Pirenopolina e do Instituto das Cavalhadas, além da comunidade.
"A questão é que existem muitos grupos com necessidades diferentes, e estamos buscando alinhar as demandas para atender a todos. O projeto foi elaborado para atender as diversas necessidades dos grupos envolvidos, e embora existam muitas demandas diferentes, a Secult está buscando alinhar tudo para atender a todos. Já foram realizadas diversas reuniões com os grupos e entidades envolvidas, mas não houve consenso. Portanto, pode haver ajustes no projeto com base nesse diálogo contínuo", pondera.

Integrantes das Cavalhadas: Célio Antônio Pompeu de Pina, o Bala; Adail Luiz Cardoso, rei cristão; Roberto Jayme Neto, cavaleiro cristão; Eustáquio Figueiredo, imperador de 2025, e Ronaldo Félix ( Diomício Gomes / O Popular)
População discorda de pontos do projeto inicial
O projeto da Secretaria de Estado da Cultura de Goiás (Secult) para o novo Cavalhódromo não tem agradado quem promove as Cavalhadas de Pirenópolis nem tampouco a Associação Atlética Pirenopolina, que usa o espaço para campeonatos esportivos e escola de futebol infantil. Para eles, a nova estrutura não teria funcionalidade para a promoção de ambas as atividades realizadas, que também promove eventos culturais e artísticos, a exemplo do PiriBier.
"O novo projeto não condiz com a realidade das Cavalhadas e do futebol. Deveriam apresentar um novo, uma alternativa. Está em discussão, mas o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) não autorizou. Não é viável para nossa tradição e nossa cultura. Precisa de espaço para arquibancada, camarote de rádio, para a população", diz o presidente do Instituto das Cavalhadas, Roberto Jayme Neto. E logo antes, ele mencionou a demora do Estado em dar início à intervenção.
Na direção da Associação Atlética Pirenopolina, Célio Antônio Pompeu de Pina, o Bala, não quis falar muito sobre o projeto, mas demonstrou insatisfação. Ele explica que o local que hoje abriga a arena foi cedido ao Estado com usufruto da associação, mas há quatro anos não tem conseguido mais realizar atividades no espaço. Segundo ele, o novo projeto também não tem as medidas necessárias para um campo de futebol com partidas oficiais. E ele partilha, junto aos demais, o medo do espaço não ser reconstruído.
Para o ex-secretário municipal de Cultura de Pirenópolis Roberto Félix a redução no tamanho do campo também prejudica a movimentação dos participantes da festividade. "O projeto está sendo feito por quem não vive aqui, não atende às Cavalhadas. Precisa de circulação, não é uma festa de se sentar na arquibancada", pontua. Para ele, é necessário ainda se adaptar à nova realidade, haja vista que a comunidade, por vezes, mantém uma memória tradicional de quando se era construído os camarotes com madeira e palha. "A população ainda tem um sentimento pelo formato de antes, mas há dificuldade hoje para ter autorização dos órgãos e do Corpo de Bombeiros."
É o caso de Célia Fátima de Pina, de família tradicional no município e que tomava conta do Museu das Cavalhadas. Sua memória demonstra que viveu muito a história de Pirenópolis. "Não quero que gastem milhões construindo nada, não, achei foi bom demolir. O pirenopolino não quer isso. A gente gostava era de cada família construir seu camarote de madeira e de palha e de pano de chitão (tecido estampados com cores vibrantes)", comenta. Ela, contudo, assim como os demais, não enxergou motivos para a demolição das torres.
Até o momento, apenas a Torre Moura foi abaixo, mas a previsão é que a Torre Cristã seja removida na próxima semana. O momento da queda, contudo, foi de comoção para a população local, mesmo ciente de que seria feito. "É um símbolo das Cavalhadas. Deu um sentimento de dor", resume Roberto Félix. O imperador de 2025, Eustáquio Figueiredo, diz que tentaram negociar a demolição das torres, mas não foi possível devido "à demanda e licitação". O processo de remoção das estruturas, contudo, é visto com bons olhos por ele, que deseja que a arena esteja limpa até junho, quando é realizado o evento. "Estamos até agradecidos para que ocorra (a conclusão do serviço) em tempo hábil para as Cavalhadas. E temos um projeto que será mostrado em tempo oportuno", garante.
Já o rei cristão Adail Luiz Cardoso cita que visualmente não era observada necessidade para retirada das torres. "A olho nu, não precisava. Mas a melhor coisa agora é limpar tudo. Começaram a mexer, então é importante que esteja limpo (até a festa)", pontua, ao relatar que a expectativa, e a informação repassada a eles, é de que as Cavalhadas sejam realizadas no Cavalhódromo neste ano. "Lá no outro local é longe, perigoso, difícil de chegar lá", conta, tendo a posição concordada por todos.
Conforme a Secult, em nota, a demolição de ambas as torres foi necessária, pois, embora "estivessem passíveis de restauro, a passarela, a escada e a arquibancada estavam comprometidas". Essas já haviam sido removidas em 2023. "Assim, para garantir a segurança estrutural e permitir uma integração adequada com a nova construção, optou-se pela remoção de tudo. Além disso, as novas torres deverão conversar com a arquitetura local", conclui a pasta.