Grafiteiros revitalizam Beco da Codorna por conta própria
Projeto independente já conta com a participação espontânea de 15 artistas. Os trabalhos artísticos estampados variam entre diversas linguagens da arte urbana, como o grafite, estêncil, pôsteres, lambes, stickers e pinturas
Clenon dos Santos
22 de janeiro de 2025 às 07:36

Para o processo de revitalização atual, participam do projeto os profissionais Paulo Paiva, Ezo Color, Aiog, Looh, Bulacha, Lowa, Verds, Rafael Plai, Andrei Dorme, JMV e Nk, entre outros que devem confirmar a participação até os próximos dias (Wesley Costa / O Popular)
Mais de 150 artistas estampam trabalhos no Beco da Codorna, no Centro. O espaço, que já é até maior em número e tamanho que o famoso Beco do Batman, localizado em São Paulo, ganhou nesta semana um projeto de revitalização feito pelos próprios grafiteiros da cidade que se cansaram de aguardar um respaldo do poder público ou de promessas de ações contínuas que nunca saíram do papel.
"É um ponto cultural, histórico, de resistência, que está no roteiro de lugares obrigatórios para conhecer Goiânia. Grandes empresas e instituições fazem uso do Beco para comerciais e pessoas famosas passam por aqui, como o Zé Felipe, que gravou um videoclipe na semana passada", adianta o produtor Jhony Robson. O projeto independente já conta com a participação espontânea de 15 artistas. "Vem gente de todo o mundo para conhecer o local. Eu mesmo preciso aprimorar meu inglês para dar conta de explicar melhor aos turistas", completa.
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A viela Miguel Rassi, carinhosamente chamada de Beco da Codorna, não vê eventos culturais e ações de restauro há quase dois anos. A produtora Prosperidade Cultural, localizada dentro do espaço urbano e que promovia projetos de música, arte e circo, encerrou as atividades depois que vizinhos reclamaram do barulho. "A nossa ideia é reativar as ações do Beco a partir de fevereiro. Até lá, precisamos arrumar o local para receber o público. Conseguimos religar a energia do local e vários artistas se reúnem com os próprios materiais para dar mais cor ao espaço", comenta Jhony, que é artista visual e dá vida ao palhaço Bulacha em espetáculos e números circenses.
Os trabalhos artísticos estampados no Beco variam entre diversas linguagens da arte urbana, como o grafite, estêncil, pôsteres, lambes, stickers e pinturas. Há de tudo ali, desde o grafismo urbano, com letras e frases muito bem desenhadas, passando por pinturas 3D que invadem o piso do local, até rostos e olhos que parecem pular dos muros e criar vida própria. Funciona no espaço a Associação Goiana dos Grafiteiros.
Para o processo de revitalização atual, participam do projeto os profissionais Paulo Paiva, Ezo Color, Aiog, Looh, Bulacha, Lowa, Verds, Rafael Plai, Andrei Dorme, JMV e Nk, entre outros que devem confirmar a participação até os próximos dias. Se você passar por lá hoje vai encontrar profissionais de diferentes lugares de Goiás estampando seus trabalhos nas paredes do point cultural.
"A ideia é dar mais cor ao Beco da Codorna, que desde o festival de 2022 não recebe intervenções maiores", reitera Jhony. Com os novos grafites, o beco segue como palco para ensaios fotográficos, parada para observação de uma galeria a céu aberto, além dos futuros eventos artísticos. A proposta é de que todos da cidade, além dos turistas, possam usufruir da viela, localizada entre importantes pontos históricos de Goiânia, como o Teatro Goiânia, a Vila Cultural Cora Coralina, a Rua do Lazer e o Centro Cultural Octo Marques.
Projeto
Em 2022, depois do Festival do Beco, os grafiteiros até tentaram se reunir com a equipe da Prefeitura de Goiânia para tratarem do projeto da revitalização do espaço. A intenção era de que o local se tornasse uma praça, com novas calçadas, projeto de iluminação e segurança. A ação nunca saiu do papel. A Secretaria Municipal de Cultura (Secult Goiânia) informa que o calendário cultural da cidade ainda está sendo organizado para abarcar diferentes linguagens artísticas.
Enquanto não sai nenhuma medida específica do poder público, os grafiteiros seguem em constante ebulição. O local, que já foi área de carga e descarga de mercadorias das lojas comerciais da famosa Galeria Tocantins, em tempos áureos do Centro nos primeiros anos de Goiânia, percorre um processo de transformação urbana que caminha junto com a tendência do urbanismo tático.
Em São Paulo, por exemplo, os grafites fazem a fama da Vila Madalena há algum tempo, como o Beco do Batman, fruto de uma inclinação aos projetos culturais que saem dos palcos de teatro e das galerias tradicionais de arte e vão parar em pontos específicos da cidade. "O Beco da Codorna já se tornou uma expressiva janela para conhecer uma Goiânia diferente, criativa e que está no mapa das artes do Brasil", salienta o produtor.
E a Rua do Lazer?
Muito perto do Beco da Codorna, a Rua do Lazer também revela diversas formas de arte urbana em seus becos. A única via fechada para carros de Goiânia passou por uma reforma em 2019 com a ideia de desenvolver um ponto ativo de cultura e esporte, com a troca do piso, a revitalização das vielas e a reforma dos elementos urbanos, como os bancos e os postes históricos. Quase seis anos depois e o espaço também está em situação de abandono.
Um pouco mais abaixo, na Rua 8 próximos aos bares que circundam o local, um beco ganhou revitalização em agosto de 2024 por parte de artistas que desejam criar um point noturno e cultural para ajudar a ressocializar o Centro. Nesta sexta-feira (24), o point Anexo, localizado dentro da viela, abre as portas para uma festa em formato soft open com discotecagem de Johnny Suxxx e Barbara Novais.