Comurg: Situação é caótica, aponta promotora após visita
Promotora Leila Maria de Oliveira esteve na companhia nesta quinta (16), onde averiguou caminhões, almoxarifado, posto de combustíveis e folha de pagamento
Mariana Carneiro
17 de janeiro de 2025 às 06:49

Promotora Leila Maria se encontra com o novo presidente da Comurg (Wildes Barbosa / O Popular)
O Ministério Público do Estado de Goiás (MP-GO) fez uma vistoria nas dependências da Companhia de Urbanização de Goiânia (Comurg), na Vila Aurora, na tarde desta quinta-feira (16). Responsável pela investigação da companhia, a promotora de Justiça Leila Maria de Oliveira, titular da 50ª Promotoria de Goiânia, visitou o prédio da administração, onde averiguou a frota de caminhões, almoxarifado e posto de combustíveis. Ela também teve acesso à documentação referente à folha de pagamento da companhia.
Chamou minha atenção a desorganização do almoxarifado, a questão de se comprar milhões em concreto e não saber para que obra aquele concreto vai. Peça de caminhão, por exemplo. Por que esse caminhão trocou, em um mês, o mesmo câmbio duas ou três vezes? São questões que eu vim ver. Só no governo do Paulo Garcia (prefeito de Goiânia entre 2010 e 2016) foram comprados 49 caminhões e dados para a Comurg. Recebi, oficialmente, uma lista só de 19 (caminhões), dizendo que apenas quatro estão em operação", detalha Leila.
Conforme a promotora, que passou em torno de duas horas na Comurg, essa é a primeira vez que ela consegue visitar a empresa desde 2010. "A Comurg sempre foi muito fechada, em qualquer administração. Procurávamos fazer um trabalho através de requisição documental, mas chegou um ponto que nem isso mais a Comurg fazia. Com a nova gestão, fiz questão de vir", explica.
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Leila foi recebida pelo novo presidente da Comurg, coronel Cleber Aparecido Santos. "Aqui é o caos, mas acredito que essa nova administração vai conseguir me responder, senão tudo, a maioria das coisas que eu preciso saber", frisa a promotora. De acordo com ela, os próximos passos da atuação do órgão ministerial dependem justamente do envio de informações por parte da companhia.
Na ocasião da visita do MP-GO, o presidente da companhia fez seu primeiro pronunciamento para a imprensa e disse que as más condições da companhia já eram conhecidas por ele antes de assumir o cargo. "A missão que o prefeito (Sandro Mabel) me deu foi vir pra cá e sanar (os problemas) da empresa. Estamos fazendo exatamente isso, aplicando gestão onde não tinha. Hoje, se estabeleceu um link direto entre Comurg e o Ministério Público. Para que a gente possa, juntos, trazer todas as práticas de gestão que precisam ser aplicadas e, mais do que isso, a fiscalização que precisa ocorrer sobre o recurso e o patrimônio público para que essa empresa volte a ter condição de cumprir a missão para qual ela foi criada", declarou Santos.
Supersalários
Reportagem do POPULAR publicada na edição desta quinta mostrou que 25 empregados da Comurg registraram salário bruto maior do que o do prefeito de Goiânia na folha de pagamento de dezembro de 2024. Os proventos desse grupo ultrapassaram os R$ 35 mil. Entre os trabalhadores estão garis, assessores, assistentes, engenheiros e advogados. Leila afirma que esses supersalários existem por conta das incorporações de gratificações e dos quinquênios. Segundo Leila, o assunto foi discutido com o presidente da Comurg. "(Ele) Me prometeu uma solução e eu acredito que ela vai sair", conta a promotora.
Na última terça-feira (14), a promotora recomendou ao prefeito que uma auditoria externa seja realizada na empresa. O órgão ministerial também recomendou que o poder público municipal anule duas cláusulas do Acordo Coletivo de Trabalho 2024/2026. Uma delas diz respeito justamente às incorporações de gratificações. A orientação para anulação ainda abrange uma cláusula do Acordo Coletivo de Trabalho 2016/2018 que também se refere a possibilidades de incorporação de gratificação. "São absolutamente nulos. A companhia já era dependente (da Prefeitura) desde 2015 e não teve a participação da Prefeitura nesses acordos", comenta Leila.
A outra cláusula do Acordo Coletivo de Trabalho de 2024/2026 se trata de uma pactuação de que, em caso de terceirização dos serviços de coleta de lixo orgânico da capital ou qualquer outro serviço da Comurg, a empresa deverá realocar em outras áreas da companhia ou da Prefeitura, todos os empregados que exercem as funções operacionais e administrativas respectivas. A cláusula veda a demissão em razão de terceirização.
Os supersalários dos funcionários da Comurg têm sido alvos de críticas do prefeito. Na última semana, a Prefeitura já havia anunciado uma auditoria na empresa por meio da Secretaria Municipal de Administração (Semad) e da Controladoria-Geral do Município (CGM). "As coisas estão desbalanceadas. Tem gente que exerce cargo de motorista e ganha R$ 10 mil. Outros que exercem o mesmo cargo e têm de R$ 6 mil, de R$ 2 mil, e outros que só ganham o salário mínimo. É preciso entender isso e estou fazendo os secretários olharem isso também", disse Mabel à TV Anhanguera.