Geral

Especialistas ensinam como começar introdução alimentar em bebês a partir de seis meses

O bebê deve apresentar sinais de prontidão, demonstrando ser o momento de começar a oferecer alimentos. Saiba o que é indicado ou não

Modificado em 21/09/2024, 00:58

Ana Paula da Silva e Sousa Rocha com Pedro: “O meu foco foi na nutrição e no desenvolvimento”

Ana Paula da Silva e Sousa Rocha com Pedro: “O meu foco foi na nutrição e no desenvolvimento” (Divulgação)

Quando a pedagoga Danielle Bueno Amaral, de 36 anos, postou no grupo da família no WhatsApp o primeiro vídeo do filho Bruno Bueno Araújo, na época com seis meses, comendo um gomo de mexerica sozinho causou um susto nos avós.

Preocupados, eles achavam que o neto poderia se engasgar com aquele método de introdução alimentar. O bebê, que até então só mamava, se deliciou com a fruta. Depois, ele ganhou mais opções, como amora, mamão e banana, verduras e, aos poucos, outros alimentos. "Eles ficaram com medo", recorda.

Um dos maiores desafios dos pais de primeira viagem quando o bebê completa seis meses, idade recomendada pelos especialistas, é escolher a melhor forma de iniciar a introdução alimentar. O que não faltam são dúvidas nessa fase.

"Devem ser oferecidos alimentos naturais, por exemplo, frutas de todos os tipos, legumes, verduras, carboidratos e proteínas. Evitar uso de sal na preparação. Os sucos devem ser ofertados apenas após um ano de idade e o açúcar apenas com 2", aconselha a pediatra Isis Cristiane Fonseca Oliveira.

A especialista explica que a restrição do açúcar é indicada por causa dos riscos do desenvolvimento de obesidade e doenças correlacionadas, e também porque a criança pode acabar dando preferência a alimentos doces e deixar de lado os salgados, que fazem parte das principais refeições.

Já o mel é contraindicado pelo risco de conter esporos de Clostridium botulinum -- bactéria cuja toxina desencadeia a chamada doença do botulismo infantil. A microbiota intestinal dos bebês, em formação, não é capaz de impedir a germinação dos esporos desse agente.

No entanto, antes mesmo de iniciar o processo de alimentação, é preciso ficar atento aos primeiros sinais de que os bebês já estão prontos para receber alimentos sólidos, lembrando que até o sexto mês de idade o leite materno é suficiente.

Sentar sem apoio ou com o mínimo possível, mostrar disposição para mastigar e ter interesse pela refeição são indícios importantes. "Isso tudo, além de diminuição do reflexo de protrusão da língua, pegar objetos e colocar na boca e ter completa sustentação cervical", acrescenta Isis Cristiane Fonseca.

Métodos

O próximo passo é a escolha do método alimentar para os pequenos, talvez a escola mais difícil para os pais nesse processo de introdução dos alimentos porque existem diversas técnicas disponíveis com estudos e pesquisas confirmadas.

Danielle Bueno Amaral optou pelo BLW (baby-led weaning, ou desmame guiado pelo bebê), processo criado pela agente de saúde britânica e doutora em alimentação Gill Rapley. A ideia é que a criança se alimente sozinha com a ajuda dos dedos. "Eu escolhi para desenvolver a autonomia do Bruno", conta.

Assim como Danielle, quem escolhe alimentar seu bebê por meio dessa técnica precisa pensar os alimentos de forma diferente, já que eles devem ser cortados em pedaços para que o bebê consiga pegar sem nenhuma dificuldade.

Legumes, carnes cozidas e frutas maduras são os itens mais recomendados durante a primeira etapa. "Eu tenho mais sucesso com as frutas. O Bruno morde a maçã, ele coloca o gominho de mexerica na boca, a amora, o mamão e a banana. No início, os meus pais tomaram um susto com ele comendo assim."

Apesar de desenvolver a autonomia e a independência que a técnica proporciona aos bebês, afinal, são eles que escolhem o que comer e o quanto, muitos pais ainda ficam inseguros. "O medo é pelo engasgo. O BLW é um método seguro, mas precisa ser feito com orientação por conta dos cortes corretos, da textura ideal e da consistência do alimento que deve ser apresentado para a criança. Outro receio é quando a mãe por conta do trabalho fica insegura em delegar essa introdução para outra pessoa", conta a pediatra Loretta Campos.

A especialista lembra que o melhor método é aquele que se adapta melhor à estrutura de cada família. Para as mães que têm uma rotina de trabalho intenso e não podem acompanhar a introdução com o BLW sem o acompanhamento dela, pode ser melhor oferecer verduras e frutas amassadas e servidas com a colher, o método tradicional e participativo. "O mais importante é que os alimentos sejam ofertados de uma forma separada e não misturados para que a criança conheça o sabor de cada alimento", complementa Loretta.

Alergias

Uma alimentação variada, preferencialmente in natura, tem uma influência importante na formação de uma microbiota intestinal equilibrada do bebê. Especialistas afirmam que os pais precisam ficar atentos a qualquer reação alérgica durante a introdução de alimentos novos. Nesse momento, por exemplo, Danielle Bueno descobriu que o filho é alérgico a ovo e abacaxi. "Ele adora os dois e por enquanto não pode comer até criar uma imunidade. Estamos acompanhando o quadro com uma alergista para depois fazer novos exames", conta a mãe.

Especialistas afirmam que os sintomas de uma reação alérgica nos bebês podem ser locais, como coceira, vômito, dor abdominal e náusea, ou sistêmicos, como urticária, queda da pressão arterial, edema de glote e anafilaxia. Os sinais de alergia podem acontecer independentemente da quantidade ingerida. Segundo alguns estudos, os alimentos que mais causam o problema na população são leite, ovos, trigo, soja, peixe, crustáceos, amendoim, castanhas e gergelim. Além disso, há cada vez mais casos de crianças alérgicas a frutas.

Tradicional e BLW

Hoje, os métodos mais praticados na introdução alimentar são o tradicional, com a oferta de papinhas, e o BLW, em que são oferecidos pedaços de alimentos para que os bebês possam comer sozinhos. A pedagoga Aymê Cristina Nascimento, de 30 anos, optou pelos dois com o filho Alexandre, de 1 ano.

"Eu me senti mais segura assim porque no início tinha medo que ele engasgasse. Depois aprendi os cortes das verduras e frutas e ele foi ganhando autonomia. Auxiliava apenas com arroz e feijão, dando para ele com a colher", lembra.

A recomendação oficial da Organização Mundial de Saúde e da Sociedade Brasileira de Pediatria é que os pais comecem a oferecer alimentos para complementar a nutrição com leite materno ou fórmula assim que os filhos completarem seis meses -- a amamentação é orientada até os 2 anos de idade.

Os pediatras orientam que essa introdução seja feita com as tradicionais papinhas (papas ou purês) e, gradativamente, aumentar a consistência até chegar à alimentação de autonomia, onde a criança consiga fazer a autoalimentação.

"Eu tinha essa vontade de vê-lo participando do processo de alimentação, sabendo o gosto de cada coisa. Fui privilegiada com o Alexandre. Ele não deu trabalho, gosta de tudo. Os desafios no início foram com os cortes dos alimentos, que aprendi a fazer pesquisando na internet para evitar o engasgo. Quando vi os pequenos comendo sozinhos os pedaços de comida, achei a coisa mais fofa do mundo", lembra Aymê.

O BLW faz bastante sucesso nas redes sociais com diversos perfis no Instagram e o tema já ganhou livros publicados em mais de 15 idiomas.

Já a administradora Ana Paula da Silva e Sousa Rocha, de 37 anos, não teve dúvidas na introdução alimentar do filho Pedro Silva Rocha, de 1 ano. Ela escolheu o processo tradicional com papinha amassada, frutas e verduras. "O BLW não é da minha geração e tenho a impressão que a criança mais brinca e suja do que se alimenta. O meu foco foi na nutrição e no desenvolvimento. Ele adorou tudo, cada sabor e consistência. Apesar de amassar com garfo, cada alimento é de um jeito, no sentido de textura, fina, grossa e arenosa", comenta.

Rotina alimentar

A introdução alimentar deve começar com a oferta de duas papas de fruta e uma de legumes diariamente durante o primeiro mês. O interessante é oferecer diferentes opções a cada dia. Se um dia a hortaliça foi representada pela cenoura, tente outra no dia seguinte. O mesmo vale para as frutas: se pela manhã foi mamão, opte por outra à tarde ou à noite.

"É importante estimular a criança desde cedo a ter uma alimentação variada. Quanto mais colorida for a oferta no prato, melhor e maior vai ser o consumo de vitaminas e minerais", ressalta a nutricionista Mayara Hamú Nascimento.

Também não é recomendado peneirar ou liquidificar a comida, basta amassar com um garfo. "Não devemos fazer isso com os alimentos, pois assim estaremos processando os mesmos e eles perdem nutrientes, além do que diminui os movimentos mastigatórios e o desenvolvimento da face e da fala da criança", recomenda a pediatra Simone Silva Ramos. Além disso, a especialista aconselha não misturar os ingredientes numa sopa homogênea.

"Apesar de diminuir os engasgos, o bebê não vai ter o desenvolvimento do paladar adequadamente e também não aprende a mastigar", completa.

O momento de introdução alimentar é uma fase de recusa dos bebês, o que é normal, pois trata-se de uma experiência totalmente nova para elas. Muitas mães se desesperam quando o filho não quer o prato. A dica da nutricionista é não desistir.

"Tem de ofertar pelo menos 15 vezes cada alimento, sendo que é importante apresentar de diferentes formas de preparo, sozinho, misturado com outro que o pequeno já tenha aprovado, em alguma receita, até que o sabor se torne habitual para o paladar", completa Mayara Hamú.

Por ser um período de adaptação para o bebê, não é recomendado oferecer alimentos industrializados que ao longo da vida podem oferecer riscos, como obesidade, diabetes, hipertensão e até mesmo aumentar o risco de cárie. O alerta é da nutricionista Izabela Dias.

"A oferta desses produtos podem provocar desconforto gástrico e por isso devem ser evitados açúcar, gordura, embutidos ou enlatados", diz. A especialista afirma que a janela imunológica nessa fase ocorre entre o sexto e o oitavo mês e por isso é melhor optar por frutas, frango, carne, peixe, feijão, batata-doce, mandioca, abóbora e berinjela.

Não confunda

O engasgo é muitas vezes confundido com o Reflexo de Gag, movimento fisiológico normal em que o bebê cospe a comida para expulsar elementos identificados como perigosos. A criança não tem controle sobre essa reação, pois, após meses só mamando, ainda está ganhando familiaridade com o alimento. Na introdução alimentar, a criança pode expulsar pedaços maiores e até mesmo a comida pastosa. Já o engasgo é a obstrução parcial ou total das vias aéreas e pode acontecer com as papinhas e com os pedaços de alimentos.

Processo alimentar

Crianças amamentadas a o completar 6 meses

Leite materno sob livre demanda

Papa de fruta

Papa salgada

Papa de fruta

Leite materno

Aos 7 meses

Leite materno sob livre demanda

Papa de fruta

Papa salgada

Papa de fruta

Papa salgada

Aos 12 meses

Leite materno e fruta ou cereal ou tubérculo

Fruta

Refeição básica da família

Fruta ou pão simples ou tubérculo ou cereal

Refeição básica da família

Crianças não amamentadas

Menor de 4 meses

Alimentação láctea

De 4 a 8 meses

Leite

Papa de fruta

Papa salgada

Papa de fruta

Papa salgada

Leite

Após 8 meses

Leite

Fruta

Papa salgada ou refeição da família

Fruta

Papa salgada

Leite

Após 12 meses

Leite e fruta ou cereal ou tubérculo

Fruta

Refeição básica da família

Fruta ou pão simples

Refeição básica da família

Leite

Fonte: Ministério da Saúde

Ana Paula da Silva e Sousa Rocha com Pedro: “O meu foco foi na nutrição e no desenvolvimento”

Ana Paula da Silva e Sousa Rocha com Pedro: “O meu foco foi na nutrição e no desenvolvimento” (Divulgação)

Aymê Cristina Nascimento com Alexandre: “Eu me senti mais segura assim porque no início tinha medo que ele engasgasse”

Aymê Cristina Nascimento com Alexandre: “Eu me senti mais segura assim porque no início tinha medo que ele engasgasse”

Geral

Deputada Adriana Accorsi internada para tratar infecção por herpes-zóster na cabeça recebe alta; vídeo

Em um vídeo publicado nas redes sociais, a deputada agradece toda a equipe do hospital onde esteve internada por cinco dias

undefined / Reprodução

A deputada federal Adriana Accorsi recebeu alta após ficar internada no Hospital Santa Helena, em Goiânia, para tratar uma infecção por herpes-zóster na cabeça. Em um vídeo publicado nas redes sociais, a deputada agradece toda a equipe do hospital onde esteve internada por cinco dias (assista o vídeo acima).

Eu quero agradecer toda a equipe do Hospital Santa Helena, desde as pessoas que me atenderam na recepção com todo carinho, das pessoas que limpam, as pessoas que trazem o alimento, que fazem o alimento muito bem feito aqui, as técnicas de enfermagem e enfermeiras que me atenderam com todo carinho", disse Adriana no início do vídeo.

Adriana Accorsi estava internada desde segunda-feira (24) e recebeu alta na manhã deste sábado (28). A deputada procurou atendimento médico no início desta semana quando sentiu fortes dores no corpo. Agora ela 'segue se recuperando e voltando à rotina aos poucos'.

Segundo a assessoria da deputada federal, ela está disposta a lutar para incluir a vacina contra a doença no Sistema Único de Saúde (SUS) de forma gratuita, sendo que atualmente ela só está disponível na rede privada para pessoas a partir de 50 anos de idade ou indivíduos imunocomprometidos.

Entenda a doença

Deputada federal Adriana Acorssi (PT) (Divulgação/Assessoria de Imprensa)

Deputada federal Adriana Acorssi (PT) (Divulgação/Assessoria de Imprensa)

A infecção provocada pelo herpes-zóster é a reativação do vírus da catapora e varicela-zóster, explicaram infectologistas ouvidos pelo POPULAR . Popularmente, a doença é conhecida como cobreiro e pode se manifestar em várias partes do corpo, segundo o Ministério da Saúde. No caso de Adriana, a assessoria de imprensa informou que ela foi acometida na cabeça.

Em entrevista ao POPULAR , o médico infectologista Marcelo Daher explicou que a herpes-zóster é uma reativação do vírus varicela-zóster. Segundo o médico, a pessoa que já teve varicela ou catapora tem a probabilidade de manifestação da doença.

O grande problema do herpes-zóster é a dor. É um desconforto intenso, com muita dor local. E dependendo do local, por exemplo, se for em uma faixa que pega o ouvido, pode causar paralisia facial e ter perda auditiva. Se pegar na região do olho, a pessoa pode ter risco aumentado de derrame", alertou.

Conforme Daher, o herpes-zóster é transmissível de uma pessoa que manifestou a doença para outra.

Ela [doença] se transmite de uma pessoa para outra pelo contágio direto pelas lesões e transmite na forma de catapora. Então, quem nunca teve catapora, ao ter contato com a pessoa com herpes-zóster, pode adoecer de catapora e não com o herpes-zóster, que é a segunda manifestação da doença", esclareceu.

Tratamento

O infectologista pontua que o tratamento é feito por antiviral. Sobre casos de mortos, Daher disse que não há registros. "A não ser na forma muito grave ou em pacientes imunossuprimidos. No geral, não costuma ter óbito, mas tem muita dor, tem muita morbidade, mas não tem muita mortalidade", explicou.

Daher alerta que o herpes-zóster "pode se manifestar novamente, mas não é tão frequente".

Geral

Covid 5 anos: sequelas da pandemia seguem vivas

Em 26 de março de 2020, morria a primeira vítima do coronavírus em Goiás. Viúvo e filhas de Maria Lopes ainda choram a perda devido à doença que devastou centenas de milhares de famílias no Brasil

Irmãs Iara e Sandra celebram a vida de seu pai, Paulo Alves de Souza, 1º paciente do HCamp na pandemia (Wildes Barbosa / O Popular)

Irmãs Iara e Sandra celebram a vida de seu pai, Paulo Alves de Souza, 1º paciente do HCamp na pandemia (Wildes Barbosa / O Popular)

Cinco anos depois, ainda é difícil aos familiares de Maria Lopes de Souza recordar o momento de sua partida após a infecção pelo Sars-CoV-2, que por muito tempo foi chamado de "novo coronavírus", surgido na China. A técnica de enfermagem aposentada, então com 66 anos, moradora de Luziânia, município do Entorno do Distrito Federal, foi a primeira vítima fatal da Covid-19 em Goiás. Naquele 26 de março de 2020, o Brasil já registrava 76 mortes, mas ainda havia um cenário de incertezas. No Estado, as autoridades de saúde buscavam respostas para delinear a melhor forma de atendimento à população. A perplexidade pairava Brasil afora.

A assistente social Sandra de Souza, 46, filha caçula de Maria Lopes, busca na memória os dias que antecederam a morte da mãe. "Estávamos com muito medo, as escolas tinham parado de funcionar e nós orientamos nossos pais a ficarem isolados na fazenda, sem receber ninguém." No dia 13 de março, o Decreto 9.633/2020 definiu a situação de emergência na saúde pública em Goiás e a partir daí vieram sucessivos decretos determinando isolamentos. Sandra conta que no final da primeira quinzena de março a mãe foi a uma igreja. "Acreditamos que foi o local da contaminação, porque ela não saía de casa."

O mal-estar respiratório de Maria e do marido Paulo Alves de Souza, então com 72 anos, alertou os filhos. "Pensamos em pneumonia, mas estranhamos porque ficaram doentes juntos", relata Sandra. Levaram o casal a uma unidade de pronto atendimento (UPA), onde foi medicado. Como a febre de Maria não cedeu, ela se dirigiu a um hospital privado de Luziânia e o médico a encaminhou para a UPA do Jardim Ingá, por entender que a unidade pública estaria mais preparada para casos daquele vírus desconhecido. "Ela ficou na sala vermelha e lá não tinha tomografia. Minha irmã a levou para um hospital particular de Valparaíso e o exame deu sugestivo de Covid", lembra a filha.

Maria Lopes de Souza: vítima da doença e do negacionismo (Divulgação)

Maria Lopes de Souza: vítima da doença e do negacionismo (Divulgação)

"Foi aterrorizante. Cinco anos depois é difícil falar nisso. Enquanto tentávamos entender o que estava acontecendo, agarrados a qualquer fio de esperança, o que recebíamos era desinformação. Diziam que era exagero, que era só uma "gripezinha" e que o medo era infundado." Maria Lopes foi transferida para Goiânia e internada no Hospital de Doenças Tropicais (HDT), então a unidade referência para atender infectados pelo novo coronavírus. Ela morreu na madrugada do dia 26, um dia após a internação. As autoridades de saúde anunciaram o óbito ressaltando que se tratava de uma paciente com comorbidades.

Há 5 anos, OMS declarou pandemia: Brasil tinha futebol lotado e Bolsonaro minimizava o vírus
Médicos relembram medo no início da pandemia no Brasil
Vida na favela favorece mutações do coronavírus

Ao saber da morte da mulher, Paulo começou a passar mal e foi levado para a UPA do Jardim Ingá e de lá para Goiânia, tornando-se o paciente inaugural do primeiro Hospital de Campanha (HCamp) para enfrentamento da nova doença, montado em 14 dias no antigo Hospital do Servidor Público, que nunca tinha funcionado. "Era tudo novo e foi muito sofrido para a família. As pessoas evitavam contato conosco. Não passavam na calçada de nossas casas. Até parentes tinham receio. Na época, eu não conseguia falar no assunto", lembra a filha. Paulo ficou internado por seis dias. Sua alta foi muito comemorada pelos servidores, mas psicologicamente o motorista aposentado estava devastado.

"Ele se recuperou rapidinho, mas ficou depressivo. Até hoje, quando toca no assunto, chora", afirma a filha. Paulo não ficou com sequelas da Covid-19 e, aos 77 anos, continua morando na propriedade rural da família. Ele e Maria tiveram três filhos (Iara, Luis Carlos e Sandra), nove netos e dois bisnetos. "Há cinco anos, a Covid-19 mudou o mundo. Para nós, é uma mudança que tem nome, tem rosto e tem ausência. Nossa mãe é uma das vítimas dessa doença que muitos insistiram em negar. A nossa perda não foi só um número. Foi um vazio que nunca mais se preencheu. O que dói não é só a perda, mas a maneira como tudo aconteceu. Além da dor de ver quem a gente ama partir, tivemos que enfrentar o peso da negação, do descaso e da mentira."

Para enfrentar o luto, Sandra decidiu homenagear a mãe criando dois perfis em redes sociais -- @oamorquefica -- que, juntos, somam 1 milhão de seguidores. Neles, além de amor, ela fala de ausência e de resiliência. "A dor persiste, a saudade sufoca e a revolta ainda arde. Nossa mãe não foi só uma estatística, foi amor, foi história e foi vida. Ela foi tirada de nós por um vírus e por um sistema que preferiu fechar os olhos para a verdade", enfatiza.

Relações desfeitas pelo vírus

Marcada pela dor, a história de Maria e Paulo Lopes de Souza, até então um anônimo casal de Luziânia, se soma a muitas outras que vieram depois. No dia 12 de março, data em que o Brasil registrou a primeira morte por Covid-19, o músico Roberto Célio Pereira da Silva, o Xexéu, vestiu uma camiseta com a inscrição "Cláudia-se" para uma de suas apresentações. Foi a forma que encontrou para homenagear a afilhada e amiga Cláudia Garcia, cantora que morreu aos 49 anos no dia 26 de fevereiro de 2021. "Hoje chorei muito", contou ao POPULAR. Cláudia foi aliada de Xexéu na criação do projeto Adote a Arte que forneceu alimentos e material de limpeza ao pessoal da cultura que ficou sem trabalho durante a pandemia.

O músico Xexéu mostra no celular a foto com a amiga e cantora Cláudia Vieira, vítima da Covid-19 em fevereiro de 2021 (Diomício Gomes / O Popular)

O músico Xexéu mostra no celular a foto com a amiga e cantora Cláudia Vieira, vítima da Covid-19 em fevereiro de 2021 (Diomício Gomes / O Popular)

Xexéu e a mulher Daniela foram contaminados. Ele chegou a ficar internado com 50% do pulmão comprometido e caiu em tristeza profunda após a morte de Cláudia Garcia. Mas não deixou seu propósito esmorecer. Mobilizou amigos e fez a diferença, assim como outros colegas do meio cultural, entre eles o músico Carlos Brandão e o artista circense Maneco Maracá, que também lideraram iniciativas semelhantes. "Estimo que 15 mil cestas tenham sido distribuídas pelo Adote a Arte no auge da pandemia e depois", afirma. Xexéu lembra ainda que os artistas foram uma espécie de agentes de saúde naquele período tenebroso. "As lives -- apresentações online -- salvaram muita gente da depressão."

Quase dez meses após Goiás ter sido apresentado oficialmente à pandemia e suas consequências sanitárias, econômicas e emocionais, a capital passou por um momento espinhoso. Aos 71 anos, o ex-governador Maguito Vilela morreu no dia 13 de janeiro de 2021 em decorrência das sequelas da Covid. Em agosto do ano anterior, o político havia perdido duas irmãs em Jataí para a doença. Maguito já estava internado quando foi eleito para administrar Goiânia com 52% dos votos no segundo turno das eleições de 2020. Tomou posse de forma virtual e se licenciou do cargo. A gestão da capital pelos quatro anos seguintes ficaria a cargo do vice, Rogério Cruz.

No tribunal

A técnica judiciária Ariony Chaves de Castro, responsável pelo centro de memória do Tribunal Regional do Trabalho da 18ª Região (TRT-GO), fez da dor uma catarse. Em outubro de 2020, ela viu a Covid levar a cunhada, o irmão, os sogros dele. Em 2021, perdeu a irmã. "O Tribunal ficou fechado, mas trabalhei todos os dias. Foi o período em que mais produzi.Em alguns dias, eu sentava no chão e chorava muito. Tinha muito medo de morrer e deixar meu filho, então com 16 anos. O que me salvou foi a minha fé."

Servidora do TRT, Ariony Chaves, que perdeu 5 pessoas da familia para a Covid, fez documentário sobre a pandemia no tribunal: “O que me salvou foi a minha fé” ( Wesley Costa / O Popular)

Servidora do TRT, Ariony Chaves, que perdeu 5 pessoas da familia para a Covid, fez documentário sobre a pandemia no tribunal: “O que me salvou foi a minha fé” ( Wesley Costa / O Popular)

Ariony produziu o documentário A Repercussão da Pandemia de Covid-19 no TRT-GO, em que mostra as providências para manter o serviço jurisdicional e depoimentos de servidores e magistrados atingidos pela doença. A produção foi exibida no Festival Internacional de Cinema Ambiental (Fica) e concorre este ano ao Prêmio CNJ do Poder Judiciário.

Foi em 2021 que foi registrado o maior número de óbitos pela doença, em razão da chegada da variante ômicron, uma mutação do coronavírus. O produtor Felipe Jorge Kopanakis acompanhou em Goiânia o sofrimento do pai de 81 anos, que ficou cinco dias intubado antes de morrer, em maio daquele ano. Ele vivia em Niterói (RJ) e colaborou na produção do filme Mulheres & Covid, assinado pela irmã Fernanda Kopanakis e Ivan de Angelis, uma parceria com a Fiocruz. Depois disso, se cadastrou na Associação de Vítimas e Familiares de Vítimas da Covid (Avico). "A Covid impactou todo mundo. Fui me aprofundando no tema e vejo que um dos grandes problemas da sociedade brasileira é esquecer o passado. Houve uma onda de desinformação e mentiras, precisamos lutar contra isso."

Membro de uma organização não governamental que atua com cinema e literatura em escolas públicas às margens dos rios Guaporé, Amazonas e Negro, na Amazônia, Jorge Kopanakis conta que após a pandemia só conseguiu voltar à região em 2024. "O impacto da Covid nessas comunidades distantes foi imenso. Já existe um isolamento natural porque não têm estradas. Para chegar a Manaus, é preciso pegar uma voadora (tipo de barco comum na Amazônia) e viajar 12 horas. Ninguém chegava e as pessoas foram morrendo. Teve um professor que morreu por falta de oxigênio." O produtor pretende se dedicar a um documentário sobre vacinação. "A taxa vacinal do País caiu. Estamos negando a ciência."

Geral

Confira os principais benefícios de dez peixes para inserir no cardápio durante a Quaresma

Especialistas explicam os benefícios de incluir pescados na dieta e destacam as melhores opções para o cardápio

Os pratos à base de peixe têm ganhado destaque nos cardápios desde o início da Quaresma, seja por tradição religiosa ou não. O período representa a preparação espiritual dos católicos nos 40 dias que antecedem a Páscoa, que neste ano será celebrada no dia 20 de abril. Entre os ritos realizados, não consumir carne vermelha é o mais conhecido deles. Quem costuma ser a grande estrela do prato nessa época é o bacalhau, mas outros peixes podem entrar na lista de compras - e os benefícios de inserir o alimento na dieta são diversos.

Carol Amorim, nutricionista e especialista em comportamento alimentar, destaca que em Goiás a troca da carne vermelha pelo peixe é especialmente reforçada pela abundância dos animais nos rios da região, como o Araguaia e o Tocantins.

Ela explica que incluir pescados na dieta traz diversos benefícios para a saúde. "Os peixes são fontes excelentes de proteínas, essenciais para o crescimento e reparação dos tecidos corporais, além de ajudarem no fortalecimento do sistema imunológico", diz. Especialmente os de águas frias, como salmão, sardinha e atum, são ricos em ácidos graxos ômega-3. "Esses ácidos ajudam a reduzir a inflamação, melhoram a saúde cardiovascular e podem auxiliar na prevenção de doenças crônicas, como as cardíacas", aponta.

Esse tipo de carne possui um baixo teor de gordura saturada em comparação com as vermelhas, sendo uma boa opção para incluir no dia a dia. "Os peixes geralmente têm menos gordura saturada, o que contribui para um perfil lipídico mais saudável e auxilia na redução do colesterol LDL, o 'ruim'", diz. As vitaminas e minerais também estão na lista de benefícios. "São fontes importantes de vitaminas A, D e do complexo B, além de minerais como o selênio, ferro e iodo. Esses nutrientes são essenciais para diversas funções corporais, como a saúde óssea, a função imunológica e o equilíbrio hormonal", destaca.

O alimento também é mais "leve", de fácil digestão. "As proteínas dos peixes são mais fáceis de digerir do que as de outras carnes, o que pode ser benéfico para pessoas com sistemas digestivos mais sensíveis", diz. Além disso, a especialista destaca a diversidade de preparos. "O peixe é versátil e pode ser feito de várias formas, oferecendo uma gama de opções para enriquecer o cardápio durante a quaresma e além dela. Por essas razões, o consumo de peixes durante esse período é uma excelente escolha para melhorar a alimentação e promover a saúde", diz.

O bacalhau é o mais tradicional no período da Quaresma, especialmente no almoço de Páscoa. "Ele é rico em proteínas de fácil digestão, contribuindo para a construção muscular. Embora em menor quantidade que o salmão, o bacalhau ainda fornece alguns ômega-3, benéficos para o coração", diz. "É também rico em fósforo, essencial para a saúde óssea e dentária, e selênio, com ação antioxidante", completa.

O salmão, outro peixe bastante popular em Goiás, é reiterado por ela como boa opção pela quantidade de ácidos graxos ômega-3. "Isso melhora a saúde do coração, reduz inflamações e auxilia na função cerebral. Além disso, é rico em vitaminas A e D, essenciais para a saúde ocular, imunológica e óssea", comenta. Além do bacalhau e salmão, a reportagem convidou nutricionistas para destacar os principais benefícios de peixes como tilápia, sardinha, robalo e pintado de rio.

()

()

Geral

Papa Francisco completa um mês de internação e passa bem a noite no hospital

Ele chegou ao hospital Gemelli, em Roma, com uma infecção respiratória considerada grave

Papa Francisco completou nesta sexta-feira (14) um mês de internação

Papa Francisco completou nesta sexta-feira (14) um mês de internação (Reprodução/Redes sociais)

O papa Francisco, 88, passou novamente uma noite tranquila, informou o Vaticano. O religioso completou nesta sexta-feira (14) um mês de internação. Ele chegou ao hospital Gemelli, em Roma, com uma infecção respiratória considerada grave.

No mês passado, ainda nos primeiros dias de hospitalização, o Vaticano anunciou que ele sofria de uma pneumonia bilateral. Trata-se de uma infecção que torna a respiração mais difícil e pode inflamar e cicatrizar os pulmões. O anúncio reacendeu a preocupação com a saúde do líder da Igreja Católica, que teve o lobo pulmonar direito removido quando jovem.

Durante o tratamento, os especialistas médicos disseram que o principal risco é que o pontífice venha a ter uma condição de sepse - resposta inflamatória exacerbada do organismo a uma infecção - caso os germes que estão nas vias respiratórias caiam na corrente sanguínea.

Essa possibilidade diminuiu nos últimos dias, contudo. Houve melhora no estado de saúde de Francisco, e a equipe médica retirou na última segunda-feira (10) o chamado prognóstico reservado, o que na prática descartou perigo iminente de morte. Já na quarta (12), o Vaticano informou que uma tomografia de tórax recente confirmou a evolução no quadro clínico.

Em um mês de internação, o Vaticano procurou mostrar que o papa continua ativo no comando da Igreja, despachando documentos, textos para orações e recebendo o número dois da Cúria Romana, o secretário de Estado, Pietro Parolin. Francisco precisou, porém, delegar compromissos ligados ao Jubileu, e há quatro domingos não recita o Angelus, tradicional compromisso diante dos fiéis na praça São Pedro.

Os boletins divulgados diariamente são redigidos pelos médicos responsáveis pelo tratamento do pontífice e fazem a síntese de todas as avaliações de especialistas. Em seguida, "de acordo com o Santo Padre" eles liberam "a notícia ao mundo". "O papa sempre quis que disséssemos a verdade", afirmaram, ainda nos primeiros dias da hospitalização.

O pontífice tem prezado pela transparência. Boletins divulgados ao longo da internação, a pedido de Francisco, descreveram situações delicadas, como a necessidade de aspiração de vômito inalado.

Questionados sobre a ausência de imagens do líder religioso no hospital, os profissionais disseram no mês passado que não é possível tirar fotos dele de pijama. "Não é que ele fica vestido como papa o dia todo", disse na ocasião Sergio Alfieri, um dos médicos de Francisco. "Precisamos respeitar a sua privacidade."

Na véspera, Francisco completou 12 anos de pontificado. Durante esse período, ele procurou imprimir na Igreja uma imagem mais inclusiva, tanto no aceno à comunidade LGBTQIA+ quanto na nomeação de mulheres para cargos importantes da cúpula do Vaticano.

O Vaticano parabenizou Francisco pela marca em um vídeo com a retrospectiva do religioso à frente da Igreja. A Santa Sé também pediu que os fiéis continuem orando pela saúde do argentino.